quinta-feira, 28 de junho de 2007

Luís Antônio

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Luís Antônio (Antônio de Pádua Vieira da Costa), compositor e letrista, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 16/4/1921 e faleceu em 1/12/1996. Estudou em uma escola pública e no Colégio Militar do Rio de Janeiro, de onde passou para a Escola Militar de Realengo, saindo aspirante em 1944.
Compositor desde os 14 anos, autor das músicas cantadas nas competições esportivas dos cadetes, escreveu o Hino da Escola Militar, depois oficializado. Tenente de infantaria integrou em 1945 a Força Expedicionária Brasileira na campanha da Itália.
Passou a compor profissionalmente em 1948, e sua primeira canção gravada foi Somos dois (com Klecius Caldas e Armando Cavalcanti). Grande sucesso em 1951 com o samba carnavalesco Sapato de pobre (com Jota Júnior) gravado por Marlene, no Carnaval seguinte consolidaria seu prestígio com a marcha Sassaricando (com Jota Júnior e Oldemar Magalhães) e o samba Lata d'água (com Jota Júnior). Marcaria presença novamente no Carnaval de 1953, com Zé Marmita (com Brasinha) e o clássico Barracão (com Oldemar Magalhães). Em algumas de suas letras sobressai a preocupação com temas sociais.
De 1959 a 1962, viveu a segunda grande fase de sua carreira, com uma série de sambas românticos como Menina moça, Mulher de 30, Poema do adeus e, com Djalma Ferreira, Recado, Lamento, Devaneio e outros mais, a maioria na voz do cantor Miltinho. Seu último sucesso foi o samba Eu bebo sim (com João do Violão), gravado por Elizeth Cardoso, em 1973.

Luiz Gonzaga

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Luiz Gonzaga do Nascimento, compositor, cantor e instrumentista, nasceu em Exu PE (13/12/1912) e faleceu em Recife PE (2/8/1989). Filho do sanfoneiro Januário, que tocava em bailes e nas horas vagas consertava sanfonas, aprendeu a tocar o instrumento com o pai. Nascido numa fazenda, desde pequeno trabalhou na roça, tocando em bailes, forrós e feiras. Já era relativamente conhecido como sanfoneiro, quando, em 1930, fugiu de casa e foi para Fortaleza CE onde ingressou no Exército.
Com a revolução de 1930, seu batalhão deslocou-se para a Paraíba e outros Estados do Nordeste, seguindo depois para Juiz de Fora MG. Ali conheceu Dominguinhos Ambrósio, famoso sanfoneiro mineiro que também estava no Exército e com quem estudou, além de aprender as músicas mais populares no Sul. Transferido para Ouro Fino MG, apresentou-se como sanfoneiro num clube local.
Em 1939 foi para São Paulo SP, para comprar uma sanfona nova, seguindo depois para o Rio de Janeiro RJ, onde deu baixa do Exército. Passou então a se apresentar nos bares cariocas do Mangue, tocando fados, foxes, valsas e tangos em dupla com o guitarrista português Xavier Pinheiro. Atuava também em cabarés da Lapa e festinhas, além de tocar nas ruas, passando o pires para recolher dinheiro. Depois, começou a participar de programas de calouros, sempre apresentando um repertório de ritmos estrangeiros, sem êxito. Até que, no programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Nacional, cantou o chamego Vira e mexe, obtendo grande sucesso.
Passou, então, a participar de vários programas radiofônicos e, em 1941, depois de acompanhar Genésio Arruda em uma gravação na Victor, foi convidado a gravar como solista. De início gravou apenas música instrumental - mais de 50 músicas. Lançou dois 78 rpm pela Victor com a mazurca Véspera de São João (com Francisco Reis), as valsas Numa serenata (de sua autoria) e Saudades de São João del Rei (Simão Jandi), e o chamego Vira e mexe. Ainda em 1941 foi contratado pela Rádio Clube do Brasil, apresentando-se em vários programas, entre os quais Alma do Sertão, onde substituiu Antenógenes Silva. Foi depois para a Rádio Tamoio, continuando também a gravar como sanfoneiro na Victor.
Em 1943, na Rádio Nacional, umas das principais divulgadoras de ritmos regionais, em obediência à política de união cultural de Getúlio Vargas, encontrou-se com o sanfoneiro Pedro Raimundo, cujos trajes tipicamente gaúchos faziam grande sucesso, e teve a idéia de vestir-se como vaqueiro nordestino. Nesse mesmo ano, conheceu seu primeiro parceiro, Miguel Lima, que colocou letra em Vira e mexe, transformando-a em Xamego, música gravada com sucesso por Carmen Costa. Nessa época recebeu de Paulo Gracindo o apelido de Lua.
No início de 1945, gravou pela primeira vez como cantor, lançando pela Victor sua mazurca Dança, Mariquinha (com Miguel Lima). Continuando a compor com Miguel Lima, gravou Dezessete e setecentos, que foi lançado também em 1945 pelo cantor Manezinho Araújo. No mesmo ano, lançou o chamego Penerô xerém (com Miguel Lima) e a mazurca Cortando pano (com Miguel Lima e Jeová Portela), obtendo significativo êxito. A partir de agosto do mesmo ano, tornou-se parceiro do cearense Humberto Teixeira, com quem estabeleceu o ritmo, o estilo e a temática de uma nova categoria musical: o baião.
A parceria com Humberto Teixeira voltou-se para os costumes e a cultura nordestinos e rendeu-lhe alguns dos maiores êxitos de sua carreira, como Baião, lançado pelos Quatro Ases e Um Curinga (1946), No meu pé de Serra (1946), Asa branca, um de seus principais sucessos (1947), e Juazeiro (1948). Ainda em 1945, assumiu a paternidade do filho da dançarina e cantora Odaléia, dando-lhe o nome de Luís Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha.
Em 1948 casou-se com Helena das Neves. No ano seguinte, lançou com Humberto Teixeira mais uma composição de destaque, Mangaratiba, e em 1950 Paraíba e Baião de dois. Por essa época, passou a compor somente com o estudante de medicina José de Sousa Dantas Filho, o Zé Dantas, pois Humberto Teixeira, eleito deputado federal, deixou a parceria. Suas músicas se tornaram mais politizadas, por vezes denunciando o abandono do povo.
Em 1950 lançaram, entre outras, Cintura fina e A volta da asa branca. Três anos mais tarde, ABC do sertão e, depois, Algodão, Vozes da seca e Paulo Afonso. Em 1953 participou do programa No Mundo do Baião, na Rádio Nacional, ao lado de Paulo Roberto e Zé Dantas. O baião viveu sua época de ouro até 1954, quando era enorme a popularidade do compositor, apelidado Rei do Baião. Com a ascensão da bossa-nova, o baião caiu no esquecimento nos grandes centros urbanos. Afastado do cenário artístico, Luís Gonzaga preferiu apresentar-se em cidades do interior, onde continuava muito popular.
Em 1962, com o falecimento de seu parceiro Zé Dantas, passou a compor com outros músicos, entre os quais Hervé Cordovil e João Silva. Em 1965, Geraldo Vandré gravou Asa branca e Gilberto Gil, iniciando sua carreira, citou-o como uma de suas principais influências.
Na década de 1970, várias de suas músicas foram incluídas em gravações, como Asa branca, por Caetano Veloso, em 1971. No mesmo ano, lançou o LP O canto jovem de Luís Gonzaga, RCA, com composições de Gil, Caetano, Edu Lobo, Dori Caymmi, Geraldo Vandré e outros. Em março de 1972 fez um show no Teatro Teresa Raquel, do Rio de Janeiro, o Luís Gonzaga volta pra curtir.
Em 1977 participou do show comemorativo Trinta anos de baião, realizado no Teatro Municipal, de São Paulo, com Carmélia Alves, Hervé Cordovil e Humberto Teixeira. Lançou em 1979 o LP Eu e meu pai, pela RCA, em homenagem a seu pai, que faleceu em 1978.
No início da década de 1980, sua carreira ganhou novo impulso, graças principalmente a Gilberto Gil e Caetano Veloso. Em 1981, fez parceria com Gonzaguinha e, na tournée de divulgação de seu LP A vida do viajante, retomou a carreira de sucesso e ganhou o apelido de Gonzagão, que usou até a morte. No mesmo ano, lançou A festa, RCA, LP no qual interpreta, ao lado de Milton Nascimento, com grande sucesso, Luar do sertão.
Em 1984 obteve o primeiro disco de ouro com o LP Danado de bom (maioria das músicas em parceria com João Silva). Apresentou-se pela primeira vez na Europa em 1982, no Teatro Bobino, de Paris, França, a convite de Nazaré Pereira, cantora amazonense radicada em Paris. Em 1984 recebeu o Prêmio Shell e dois anos depois retornou a Paris, para fazer o show de encerramento do festival de música brasileira Coleurs Brésil. Nesse mesmo ano, foi lançado o livro Luiz Gonzaga, o rei do baião - Sua vida, seus amigos, suas canções, de autoria de José J. Ferreira (Editora Ática, São Paulo). Afastado das TVs e das rádios, ainda na década de 1980 continuava a apresentar-se em shows pelo interior do Brasil, cantando em quermesses, circos, cinemas, feiras e fábricas.
Em 1990, foi lançado o livro Eu vou contar pra vocês, de autoria de Assis Ângelo, Ícone Editora, São Paulo. Em 1996, a BMG lançou o CD triplo 50 anos de chão, uma reedição em CD da caixa de cinco LPs homônima, lançada em 1988, que compreendia o período de 1941 a 1987, com seleção dele mesmo. Mais um livro sobre sua vida foi lançado em 1996: Vida de viajante - A saga de Luiz Gonzaga, de autoria de Dominique Dreyfus e prefácio de Gilberto Gil (Editora 34, Coleção Ouvido Musical, São Paulo).
A Editora Globo lançou, em 1997, fascículo e CD Luiz Gonzaga, na série MPB Compositores, n° 20. No mesmo ano, o Jornal da Tarde lançou o CD e fascículo Luiz Gonzaga, na série MPB NO JT, nQ 5.
Participou de inúmeras iniciativas em prol dos flagelados pela seca no Nordeste, muitas vezes por conta própria. Em 1982, no show Nordeste urgente, em Natal RN, conheceu Alceu Valença, que participou de seu disco Luiz Gonzaga, 70 anos de sanfona e simpatia, em 1983. Em meados da década de 1980, criou a Fundação Vovô Januário, destinada a ajudar as mulheres de Exu.
Algumas cifras e letras
Veja também:

Marino Pinto

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Marino Pinto (Marino do Espírito Santo Pinto), compositor e jornalista, nasceu em Bom Jardim RJ, em 18/7/1916 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 28/1/1965. Filho de Diogo Feliciano Pinto, barbeiro que tocava violão e cantava nas horas vagas, foi para o Rio de Janeiro, em 1927, morar com um tio. No ano seguinte, ingressou no Ginásio São Bento, onde conheceu o músico Plácido Oliveira, seu grande incentivador. Nessa época fez sua primeira composição, Ilka, dedicada à namorada.
Em 1929, freqüentando a Rádio Philips, tornou-se amigo do cantor Sílvio Caldas e da cantora Sônia Barreto. Em 1934 entrou na Faculdade de Direito, onde conheceu J. Maia, autor de teatro musicado, e o caricaturista Ozon, com os quais passou a freqüentar o meio jornalístico e o Café Nice, ponto de reunião dos artistas, tornando-se amigo dos grandes compositores da época, entre os quais Orestes Barbosa, Custódio Mesquita, Jorge Faraj e Mário Lago. Nessa época, trancou a matrícula na faculdade e começou a trabalhar no jornal Avante.
Em 1936, foi credenciado pelo jornal O Globo como seu representante na assembléia legislativa do Rio de Janeiro e, nessa função, conheceu o então interventor Ernâni do Amaral Peixoto, de quem se tornou amigo. Trabalhou depois nos jornais A Pátria, A Nação, O Mundo e A Nota e nas sucursais da Folha de S. Paulo.
Em 1939 fez a letra de Fale mal, mas fale de mim (com Ataulfo Alves), dedicado ao escritor teatral Paulo Magalhães e gravado por Araci de Almeida. No ano seguinte ainda com Ataulfo Alves, compôs Positivamente não e Continua, também gravados por Araci, na Victor. Ainda em 1940, fez Deus no céu e ela na terra (com Wilson Batista), gravado por Carlos Galhardo, e em 1941 compôs N-A-O-til, não (com Wilson Batista).
Em 1942 fez A morena que eu gosto (com Wilson Batista) e Aos pés da cruz (com Zé da Zilda), grande sucesso na voz de Orlando Silva. No ano seguinte, abandonou o jornalismo e passou a trabalhar como gerente da Casa Waldeck cujos vendedores eram Milton de Oliveira e Haroldo Lobo, o qual, mais tarde, seria seu parceiro no samba Por mais um pouco e na marcha Retrato do velho. Ainda em 1943, em parceria com Sílvio Caldas, compôs 50%, gravado por Araci de Almeida.
Deixando o emprego e dedicando-se somente à música, em 1945 compôs Ele disse adeus (com Claudionor Cruz), samba gravado por Araci de Almeida, na Odeon. Em 1946, com Nestor de Holanda e outros compositores, fundou a SBACEM. Nesse mesmo ano, compôs Eu, ele e você (com Luís Bittencourt), que foi gravado por Orlando Silva, na Odeon.
Em 1947 fez Cidade do interior (com Mário Rossi), lançado pela Odeon, na voz de Araci de Almeida. Ainda nesse ano, escreveu a segunda parte da letra de Segredo e Cabelos brancos, composições de Herivelto Martins que se tornaram grandes êxitos nas vozes de Dalva de Oliveira e dos Quatro Ases e Um Curinga, respectivamente. Também em 1947, compôs o samba Rei do circo (com José Roy e Mário Rossi), onde antecipava a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República.
No Carnaval de 1951 Vargas já era presidente, quando Francisco Alves lançou, com muito sucesso, a marcha Retrato do velho (com Haroldo Lobo). Nesse ano, foi nomeado censor do Departamento Federal de Segurança Pública e obteve novo sucesso com a gravação da música Se o tempo entendesse (com Mário Rossi), por Lúcio Alves.
Em 1957 e 1958 foi presidente do conselho deliberativo da SBACEM. Ainda em 1958, compôs Prece (com Vadico), gravado por Helena de Lima. Em 1959, foi eleito conselheiro vitalício da SBACEM e no ano seguinte tornou-se presidente da entidade. Ainda em 1960, Elizeth Cardoso lançou pela Copacabana o LP Magnífica, incluindo apenas composições dele com seus parceiros. Em 1962 e 1964 foi reeleito para a presidência da SBACEM.
De 1965 é sua última música, a valsa Minha cidade (com Mário Rossi). Deixou cerca de 300 composições, inclusive muitos sucessos de Carnaval, como Chega, já é demais (com Humberto Porto), gravado por Carlos Galhardo em 1940, e Jacarepaguá (com Paquito e Romeu Gentil), gravado pelos Vocalistas Tropicais em 1949.

Mário Rossi

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Mário Rossi, letrista, nasceu em Petrópolis RJ, em 23/5/1911, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 12/10/1981. Aos dez anos já trabalhava durante o dia e estudava à noite, tendo cursado apenas até o terceiro ano ginasial, por causa das constantes mudanças de sua família, de origem italiana, em busca de melhores empregos como operários, passando pelo Rio de Janeiro RJ e por Barbacena MG, antes de voltar a Petrópolis.
Em 1925 trabalhou como balconista no comércio e ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros de Angra dos Reis RJ, que abandonou no ano seguinte. Estudou desenho de tecidos e por quatro ou cinco anos foi contramestre de tecelagem da Fábrica Andorinha, em Santo Aleixo RJ.
Por volta de 1930 enviou suas primeiras colaborações a jornais de Majé RJ e Angra dos Reis. Colaborou também em O Malho e, em 1933, no Jornal de Petrópolis, ingressando em seguida no Exército, no I Batalhão de Caçadores, do qual saiu como cabo no ano seguinte.
Transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1935, trabalhando durante oito meses num escritório e, a partir de 1936, como guarda-civil, quando ficou conhecendo o "rei das valsas" Gastão Lamounier. Com ele compôs a valsa E o destino desfolhou, gravada em 1937 por Carlos Galhardo na Odeon. Publicou no mesmo ano seu livro Poemas para ler e esquecer.
Em 1943 deixou a Guarda-Civil. Seu maior sucesso foi Renúncia (com Roberto Martins). Outros cantores que gravaram suas composições foram Gilberto Alves, Dalva de Oliveira e Vicente Celestino, e entre seus principais parceiros, além de Gastão Lamounier e Roberto Martins, estão Marino Pinto, Newton Teixeira e também Vicente Celestino. Embora a principal fase de sua extensa obra como letrista tenha sido na década de 1940, continuou escrevendo, e em 1975 compôs, com Adelino Moreira, o samba Orgulhosa.
Obras
Beija-me (c/Roberto Martins), samba, 1943; Dorme que eu velo por ti (c/Roberto Martins), 1942; E o destino desfolhou (c/Gastão Lamounier), valsa, 1937; Orgulhosa (c/Adelino Moreira), samba, 1975; Renúncia, (c/Roberto Martins), fox, 1943; Restos de ventura (c/Gastão Lamounier), valsa, 1938; A valsa dos noivos (c/Roberto Martins), 1944.

Raul Torres

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Raul Montes Torres, cantor e compositor, nasceu em Botucatu SP (11/7/1906) e faleceu em São Paulo SP (12/7/1970). Filho de espanhóis, nasceu e foi criado na cidade paulista de Botucatu, onde participava de pagodes e quermesses com amigos, cantando modas-de-viola. Para ingressar profissionalmente na vida artística, foi para São Paulo, arranjando de início emprego de cocheiro, com ponto no Jardim da Luz, mas cantava sempre que surgisse oportunidade, em cabarés, circos, teatros e bares. Ouvindo os sucessos da época, como Augusto Calheiros, Turunas da Mauricéia e Jararaca e Ratinho, mudou o estilo de cantar, adotando o gênero nordestino, principalmente as emboladas, que faziam grande sucesso.
Em 1927 entrou para a Rádio Educadora Paulista (depois Gazeta), que pela primeira vez reunia um elenco popular, em que figuravam Paraguaçu, Pilé, o violonista Canhoto e Arnaldo Pescuma, entre outros. No ano seguinte, com a inauguração da Rádio Cruzeiro do Sul (depois Piratininga), foi convidado a atuar no seu elenco, ao lado de Paraguaçu e Arnaldo Pescuma.
Em 1927 gravou seu primeiro disco no selo Brasilphone, de São Paulo, com a embolada Segura o coco, Maria e o samba Verde e amarelo, ambos de sua autoria. Na Columbia lançou, de sua autoria, Olha o rojão, além de Mauricéia (A. Portela e Marabá), com o Regional do Canhoto, Belezas de minha terra (com José Val) e O que tem o cotia e A festa do sapo (ambas de sua autoria). Nessa gravadora, em 1930 e 1931, na série caipira de Cornélio Pires, gravou com o pseudônimo de Bico Doce, acompanhado de Sua Gente do Norte, Galo sem crista, de sua autoria, e mais três composições.
No mesmo período, gravou também na Parlophon, com o nome de Raul Torres e os Turunas Paulistas, no gênero moda-de-viola, várias de suas composições, entre as quais Rola rolinha (com Atílio Grany), Oi Juvená, Caipira no mercado (com Atílio Grany e Arnaldo Pescuma), e o grande sucesso Olhos de morena, com acompanhamento do conjunto Os Chorões. Além dessas, a consagrada embolada Jacaré no caminhão, Saudade de Rio Pardo, interpretada em dupla com Azulão (Artur Santana), também apresentada na cena cômica de Genésio Arruda Uma festa no arraial. Destacaram-se ainda interpretações suas como o cateretê Não zanga comigo não (Nair Mesquita), gravado em dupla com a autora, pela Columbia, que passou a Continental posteriormente.
Em 1933 gravou pela Odeon Sereno cai, toada, com coro de Francisco Alves, Castro Barbosa, Moreira da Silva, Jaime Vogeler e Jonjoca, e a embolada Pisei no rabo do tatu. Lançou ainda a embolada Sururu no galinheiro e o jongo A morte de um cantador (ambas de sua autoria), interpretadas em dueto com Nestor Amaral. No mesmo ano conheceu João Pacífico, com quem formou dupla vocal, gravando, na Odeon, acompanhado pelo seu conjunto Embaixada, a embolada Seu João Nogueira, de autoria da dupla. Com a Embaixada lançou ainda Balança os cacho, sinhá, embolada do compositor e caricaturista cearense Manuel Queirós, e o clássico da música sertaneja Mestre carreiro (de sua autoria). Depois, formou um duo com seu velho amigo, de Botucatu, Joaquim Vermelho, com quem gravou na Odeon as modas-de-viola A codorninha e Sistema americano, composições da nova dupla, e Caninha verde (com Luís Machado). Com Florêncio, lançou em disco Apelido dos jogadores (com Palmeira).
Em 1935 gravou na Columbia a marchinha Dona Boa (Adoniran Barbosa e J. Aimberê) e, na Odeon, sua composição A cuíca tá roncando, batucada, sucesso no Carnaval carioca desse ano e premiada em Portugal. Transferiu-se em 1937 para a Victor, na qual, em dupla com seu sobrinho Antenor Serra, o Serrinha, gravou Cigana, moda-de-viola de sua autoria, com João Pacífico, a toada Chico Mineiro (Tonico e Tinoco e Francisco Ribeiro) e a moda-de-viola Adeus campina da serra (com Cornélio Pires). Depois, novamente em dupla com Serrinha, lançou a moda-de-viola Boiada cuiabana (de sua autoria), que se transformou em grande sucesso da dupla Tonico e Tinoco. Gravou ainda a famosa valsa Saudades de Matão (com Jorge Galati e Antenógenes Silva), em que formou trio com Serrinha e Mariano.
Em 1938, em dupla com Serrinha, gravou sua composição Balanceiro da usina, embolada, sendo, no mesmo ano, contratado pela Rádio Record de São Paulo. No ano seguinte, a dupla lançou em disco as toadas Do lado que o vento vai e Meu cavalo zaino, (ambas de sua autoria).
Em 1940, com João Pacífico, gravou Cabocla Tereza, Minas Gerais, toada, e A mulher e o trem, moda-de-viola, todas de autoria da dupla, o cateretê de sua autoria Trem de ferro, e a marcha Tem boi na linha (com Rui Martins). No ano seguinte, com Serrinha, lançou sua composição Mingirinha, de grande sucesso, e, em 1942 na Odeon, suas composições Mourão de porteira (com João Pacífico), grande sucesso, Campo Grande, Mulambaia, Conceição (com Aparício Cerqueira), Sexta-feira 13 (com Capitão Furtado), O rei mandou me chamar (autoria da dupla), Cadê minha morena (com João Pacífico) e Vamos pra São Manuel, entre outras. No ano seguinte, foram feitas na Continental as últimas gravações da dupla Raul Torres e Serrinha, como A Copa do Mundo, Meus padecimentos, Moda do viaduto e Quero vê... quero oiá (todas de sua autoria).
Depois de separados, tio e sobrinho ainda vieram a gravar as composições de sua autoria Cheguei na casa da véia, Eu fui passiá em São Paulo e Quando eu cantei no rádio. Formou então nova dupla, com João Batista Pinto, o Florêncio (Barretos SP 1910-), com quem já havia gravado dez anos antes, lançando em disco, em 1944, Pingo d'água e depois A moda da mula preta, clássicos da música sertaneja (ambas com João Pacífico).
A partir de 1945 fez poucas gravações, como Feijão queimado (com José Rielli), arrasta-pé de grande sucesso, principalmente nas festas caipiras, e posteriormente Enquanto a estrela brilhar (com João Pacífico).
Deixou em 78 rotações cerca de 204 discos com 398 gravações. Passou a dedicar-se mais ao rádio e fez na Rádio Record, de São Paulo, o programa Os Três Batutas do Sertão, formando o trio de mesmo nome inicialmente com Florêncio e José Rielli, e a partir de 1947, com Florêncio e Rielli Filho (Emílio Rielli).
Sua consagrada composição Mestre carreiro foi interpretada no filme Sertão em festa (Osvaldo de Oliveira, 1970), por Tião Carreiro e Pardinho. Em 1970, gravou com Os Três Batutas do Sertão, pela gravadora Vitória, o LP O maior patrimônio da música sertaneja, vindo a falecer alguns dias depois.
Algumas músicas
Veja também:

René Bittencourt

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René Bittencourt (René Bittencourt Costa), compositor nasceu em Paquetá RJ em 23/12/1917 e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 21/11/1979. Durante muitos anos foi animador de shows de circos e teatros, e empresário de artistas. Mais tarde, como jornalista, colaborou em várias revistas e jornais especializados em música.
Sua primeira composição gravada foi o samba Felicidade (com Noel Rosa), que também o gravou em disco Columbia, em 1932. O primeiro sucesso foi Sertaneja, canção gravada por Orlando Silva na Victor em 1940. No ano seguinte, também pela Victor, Orlando Silva gravou Sinhá Maria. Em 1945 foram gravadas Era uma vez, por Gilberto Alves, e Senhor da floresta, por Augusto Calheiros, ambas na Victor.
Em 1947 Augusto Calheiros gravou Garoto da rua, na Victor. Em 1957 Caubi Peixoto gravou Prece de amor, pela Columbia, e em 1958 Nono Mandamento (com Raul Sampaio), pela Victor. Compôs ainda, em parceria com Francisco Alves, Canção da criança e Brasil de amanhã, ambas gravadas pelo cantor, acompanhado pelo Coro das Crianças da Casa de Lázaro, na Odeon, em 1952.
Durante 25 anos assinou a seção Feira de Amostras da Revista do Rádio. Foi membro do conselho deliberativo da SBACEM e integrante de suas comissões de finanças e repertório.

Waldir Azevedo

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Waldir Azevedo, instrumentista e compositor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 27/1/1923 e faleceu em São Paulo em 21/9/1980. Nascido no bairro da Piedade e criado no Engenho Novo, aos sete anos comprou uma flauta transversal com o dinheiro obtido na venda dos passarinhos que apanhava. Influenciado por amigos com que se reunia aos sábados para tocar, resolveu trocar a flauta pelo bandolim. Passou depois para o cavaquinho, instrumento que deixou de lado quando entrou em moda o violão elétrico. Por essa época também tocava violão, mas foi como flautista que se apresentou em público pela primeira vez, no Carnaval de 1933, executando o Trem blindado (João de Barro) no Jardim do Meyer.
Problemas cardíacos o impediram de realizar seu sonho de ser aviador, e empregou-se na Light. Em 1945, quando passava a lua-de-mel em Miguel Pereira RJ, recebeu um telefonema de um amigo, avisando sobre uma vaga no regional de Dilermando Reis, em um programa da Rádio Clube do Brasil. Tocou cavaquinho durante dois anos no conjunto, assumindo sua liderança em 1947, com a saída de Dilermando Reis.
Sua primeira composição foi o choro Brasileirinho, cuja parte inicial é quase toda numa só corda, gravado na Continental, por sugestão de João de Barro, diretor artístico da gravadora. A década de 1950 representou o ponto mais alto de sua carreira, fazendo muito sucesso com as composições Delicado (baião), Pedacinhos do céu, Chiquita e Vê se gostas, entre outras.
Durante 11 anos percorreu a América do Sul e a Europa, incluindo duas excursões patrocinadas pelo Itamarati, na Caravana da Música Brasileira, e nas outras com o seu conjunto. Suas músicas foram gravadas no Japão, Alemanha, EUA., onde o disco de Percy Faith e sua orquestra, com a faixa Delicado, vendeu mais de um milhão de cópias. Participou de um programa na B.B.C. de Londres, Inglaterra, transmitido para 52 países.
Teve 132 músicas gravadas, entre chorinhos, valsas e baiões, lançou 20 LPs (um deles com Jacó do Bandolim) e cerca de 50 discos de 78 rpm. Em 1964, por morte de sua filha, afastou-se dos meios musicais. Mudou-se para Brasília DF em 1971, onde sofreu um acidente com um cortador de grama em que quase perdeu seu dedo anular, impedindo-o de tocar durante um ano e meio. Recuperou-se somente depois de várias cirurgias e muitos exercícios, voltando a gravar.

Zé da Zilda

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Zé da Zilda (José Gonçalves), compositor e cantor nasceu no Rio de Janeiro RJ em 6/1/1908 e faleceu em 10/10/1954. Filho de músico, nascido no subúrbio de Campo Grande, aos cinco anos começou a se interessar pelo cavaquinho, aprendendo os rudimentos de música com o pai. Por volta de 1920 morava no morro da Mangueira, onde fez amizade com vários sambistas, entre os quais Cartola, que mais tarde seria seu parceiro.

Na companhia teatral Casa de Caboclo, organizada por Duque, começou a cantar emboladas e sambas, acompanhando-se ao cavaquinho e violão, e interpretando o personagem Zé com Fome, que durante muito tempo foi seu nome artístico.

A convite de Duque, ingressou na Rádio Educadora, formando dupla com Pente Fino (Claudionor Cruz). Depois foi para a Rádio Transmissora, já como chefe de um regional e com programa próprio, no qual conheceu a cantora Zilda, que fazia sua estréia. Com ela formou inicialmente a Dupla da Harmonia.

No Carnaval de 1936, seu samba Não quero mais (com Cartola e Carlos Cachaça), foi cantado com grande sucesso pelo G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, na Praça Onze, gravado no ano seguinte por Araci de Almeida, na Victor, e mais tarde relançado por Paulinho da Viola, no LP Nervos de aço, com o nome de Não quero mais amar a ninguém .

Em 1938 casou com Zilda e passaram a atuar na Rádio Clube do Brasil. Em seguida, Orlando Silva gravou na Victor Meu pranto ninguém vê (com Ataulfo Alves). Em 1939 a dupla passou a atuar na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa de Paulo Roberto, que os batizou de Zé da Zilda e Zilda do Zé, nome que adotaram em suas apresentações, inclusive em circos.

Em 1940, participou da gravação de Leopold Stokowski no navio Uruguai, para o álbum de música brasileira editado nos EUA pela Columbia. No ano seguinte compôs, com Marino Pinto, o samba Aos pés da cruz, gravado por Orlando Silva na Victor com grande sucesso.

Com seus choros Fim de eixo e Levanta, José, a dupla estreou em disco, na Victor, em 1944. A partir dessa época realizaram várias gravações de músicas suas e de outros compositores, como Só pra chatear (Príncipe Pretinho). Em 1945 começaram, com grande sucesso, a gravar para o Carnaval, estreando com Conversa, Laurindo (com Ari Monteiro), na Continental, e ao mesmo tempo trabalharam na Rádio Mayrink Veiga.

Do Carnaval de 1954 é o grande sucesso da dupla, em parceria com Zilda e Valdir Machado, a marcha Saca-rolha, conhecida por seu primeiro verso, "As águas vão rolar...", que eles mesmos gravaram na Odeon. No mesmo ano lançaram para o Carnaval o samba Jura (com Marcelino Ramos e Adolfo Macedo).

Pouco antes de morrer, deixou gravados com Zilda, para o Carnaval de 1955, a marcha Ressaca(da dupla com Valdir Machado) e o samba Império do Samba (da dupla). No ano seguinte Zilda homenageou sua memória com o samba Vai que depois eu vou (com Zilda do Zé, Adolfo Macedo e Aírton Amorim), lançado pela Odeon, com enorme sucesso. Voltou a lembrar o marido, com o samba Vem me buscar (Zilda com Adolfo Macedo).

Outras músicas de sua autoria, entre as quais os sambas de breque Nega zura, Mulher malandra e Garota Copacabana, foram gravadas e relançadas por Jorge Veiga em 1975, no seu LP O melhor de Jorge Veiga, pela Copacabana.

Obras

Aos pés da cruz (c/Marino Pinto), samba, 1942; Conversa, Laurindo (c/Ari Monteiro), samba, 1945; Fim de eixo, choro, 1944; Garota Copacabana, samba, 1975; Império do samba (c/Zilda do Zé), samba, 1954; Jura (c/Marcelino Ramos e Adolfo Macedo), samba, 1954; Levanta José, choro, 1944; Meu pranto ninguém vê (c/Ataulfo Alves), samba, 1938; Mulher malandra, samba, 1975; Não quero mais (Não quero mais amar a ninguém) (c/Cartola e Carlos Cachaça), samba, 1937; Nega zura, samba, 1938; Quem mente perde a razão (c/Edgard Nunes), samba, 1942; Ressaca (c/Zilda do Zé e Valdir Machado), marcha, 1953; Saca-rolha (c/Zilda do Zé e Valdir Machado), 1953; Santo Antônio amigo (c/Marino Pinto e J. Cascata), samba, 1941.

Zilda do Zé

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Zilda do Zé (Zilda Gonçalves), cantora e compositora, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 18/3/1919. Iniciou carreira artística apresentando-se na Rádio Transmissora, onde conheceu o compositor José Gonçalves, com ele formando a Dupla da Harmonia.
Em 1938 casaram e, no ano seguinte, passaram a atuar na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa de Paulo Roberto que rebatizou a dupla com o nome Zé da Zilda e Zilda do Zé.
Estrearam em disco em 1944, na Victor, com dois choros de Zé da Zilda, Fim de eixo e Levanta, José. A partir de 1945 passaram a lançar, com grande êxito, músicas carnavalescas. Desse ano é a gravação de Conversa, Laurindo (Zé da Zilda e Ari Monteiro), sucesso no Carnaval de 1946. Também nessa época se apresentaram na Rádio Mayrink Veiga. Para o Carnaval de 1953 lançaram a marcha Parafuso (Zé da Zilda e Adelino Moreira).
No Carnaval seguinte tiveram um de seus maiores êxitos com Saca rolha (com Zé da Zilda e Valdir Machado). Suas últimas gravações em dupla foram a marcha Ressaca (da dupla com Valdir Machado) e o samba Império do Samba (de autoria da dupla), lançadas para o Carnaval de 1955, após a morte de Zé da Zilda.
Homenageou a memória do marido com os sambas Vai que depois eu vou (com Zé da Zilda, Adolfo Macedo e Aírton Amorim), de 1956, e Vem me buscar (com Adolfo Macedo).

Adelino Moreira

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Adelino Moreira de Castro, compositor, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no dia 28 de março de 1918. Filho de um joalheiro, emigrou com a família para o Brasil em 1919, fixando residência no bairro carioca de Campo Grande. Estudou até o segundo ano científico, que abandonou para trabalhar com o pai. Não se tornou exímio na ourivesaria, como também se contagiou pelo amor paterno pela poesia e pela música.
Em 1936 casou-se com Maria da Conceição (da qual se separaria em 1951). Por volta de 1938 começou a aprender bandolim, passando depois para a guitarra portuguesa. No início da década de 40, seu pai patrocinava o programa Seleções Portuguesas, na Rádio Clube do Brasil, dirigido pelo maestro Carlos Campos, seu professor de guitarra. Foi através dele que Adelino começou a se apresentar no Rádio como cantor.
Em 1945, convidado por João de Barro, diretor-artístico da Continental, gravou os fados Olhos d'alma e Anita, o samba Mulato artilheiro e a marcha Nem cachopa, nem comida, todos de sua autoria. Em 1948 foi para Portugal onde gravou, como intérprete, diversas músicas brasileiras na Parlophon portuguesa, além de ter participado, também como cantor, da revista musicada Os Vareiros. De volta ao Brasil, deixou de cantar, continuando a trabalhar com o pai e a compor.
Em 1951 compôs a marcha Parafuso (parceria com Zé da Zilda e Zilda do Zé), gravada pela dupla em 1953. Em 1952, foi apresentado a Nelson Gonçalves, a quem entregou sua composição Última seresta (parceria com Sebastião Santana) para ser gravada. Essa gravação, realizada na Victor em 1952, foi a primeira de uma série de outras feitas pelo cantor, que se tornaria seuprincipal intérprete.
Nos anos seguintes, Nelson lançaria os primeiros dois grandes sucessos do compositor: Meu vício é você (gravado em 1955) e A volta do boêmio (gravado em 1956). Adelino e Nelson passaram também a compor juntos, surgindo assim vários sucessos, como o bolero Fica comigo esta noite (1961) e os sambas-canções Escultura (1958) e Êxtase (1959).
Na década de 60, vários outros cantores gravaram músicas de Adelino, entre eles, Ângela Maria, Carlos Galhardo e Orlando Silva. Por volta de 1966, alguns desentendimentos separaram Adelino de Nelson Gonçalves. Entre 1967 e 1969, atuou como disc-jockey na Rádio Mauá, no Rio de Janeiro. Em 1970 abriu uma churrascaria em Campo Grande, onde se apresentaram muitos cantores famosos.
A briga com Nelson duraria até 1971, quando voltaram a trabalhar juntos. E, em meados da década de 70, além de continuar a compor, tornou-se empresário do cantor. Em 1978, Maria Bethânia grava uma nova versão do samba-canção Negue, de Adelino Moreira (parceria com Enzo de Almeida Passos), fazendo enorme sucesso.
Faleceu aos 84 anos de idade, na madrugada de 09 de maio de 2002, de infarto fulminante. Foi encontrado por sua esposa caído no chão da cozinha de sua casa, na Estrada do Monteiro, em Campo Grande.
Adelino Moreira foi um caso raro na história da MPB: um compositor que construiu a carreira com talento e cuidado, conseguindo manter um confortável padrão de vida, principalmente porque nunca parou de receber direitos autorais. Exerceu a vice-presidência e cargo de conselheiro na SBACEM.
Algumas músicas
fontes: História do Samba - Editora Globo; Cifrantiga - História da MPB e Cifras.

Adoniran Barbosa

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João Rubinato, que adotou o pseudônimo de Adoniran Barbosa em 1935, em homenagem aos amigos Adoniran Alves e Luís Barbosa, nasceu em Valinhos, estado de São Paulo, no dia 6 de agosto de 1910. Foi o sétimo filho de um casal de imigrantes italianos, vindos de Veneza. Ainda menino, mudou-se com a família para Jundiaí, Estado de São Paulo, onde estudou, um tanto quanto forçado, até o terceiro ano primário. Foi ainda no tempo de escola que Adoniran começou a trabalhar, ajudando o pai no carregamento de vagões da Estrada de Ferro São Paulo Railway, atual Estrada de Ferro Santos Jundiaí.
Em Jundiaí, trabalhou também como entregador de marmitas e como varredor numa fábrica de tecidos. Em 1924, por causa da Revolução, a família mudou-se para Santo André, na Grande São Paulo, onde, durante anos, Adoniran continuou sendo o faz-de-tudo: foi tecelão, pintor, encanador, serralheiro e garçom, na casa do então Ministro da Guerra, Pandiá Calógeras. Depois, fez o curso de metalúrgico ajustador, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, mas não se deu bem com a nova profissão: o esmerilhamento do ferro prejudicava-lhe os pulmões. Então, Adoniran procurou outros empregos, entre eles o de mascate, vendendo meias.
Como andava muito, Adoniran ia cantando, para encurtar as distâncias. Foi assim que se acostumou a compor andando, mas, para ele, os sambas que compunha eram apenas passatempo e não tinham qual idade nenhuma. Além de compor e cantar, Adoniran vivia batucando na caixa de fósforos. São dessa época seus sambas "Minha vida se consome", feito em parceria com Pedrinho Romano e Viriato dos Santos, e "Socorro", em parceria com Pedrinho Romano. Adoniran ainda trabalhou em loja de ferragens, em agência de automóveis e em loja de tecidos, como entregador de mercadorias. Nesse emprego, Adoniran passava obrigatoriamente pela Rádio Cruzeiro do Sul. Ali ficou conhecendo alguns artistas.
Todo sábado Adoniran participava do programa de calouros dessa Rádio e, depois de muito tentar, finalmente foi aprovado no programa de Jorge Amaral, em 1933, cantando 'Filosofia', de Noel Rosa. Sua voz pequena e rouca não era muito bem aceita numa época em que se destacavam Mário Reis e Francisco Alves. Mesmo assim, Adoniran passou a cantar num programa semanal de 15 minutos, acompanhado por conjunto regional. Cantava sambas de outros compositores mas, sendo uma espécie de 'disc jockey', sempre que possível deixava escapar um sambinha seu. Mesmo assim, continuava fazendo de tudo um pouco.
Em 1935, Adoniran ganhou o concurso carnavalesco da prefeitura de São Paulo, com a marchinha "Dona Boa", composta em parceria com Jota Aimberê. O dinheiro do prêmio, que era para comprar um paletó, foi gasto na comemoração com os amigos. "Dona Boa" foi a primeira composição de Adoniran a ser gravada, na Columbia, por Raul Torres. Nesse ano, compôs ainda, com Totó, o samba "É cedo"; com Pedrinho Romano, o samba "Teu orgulho acabou" e com J. Moura Vasconcelos, a marcha "Teu sorriso".
Adoniran trabalhou na Rádio Cruzeiro do Sul como cantor e animador de programas de discos, de 1935 a 1940, enquanto compunha. Em 1936, compôs "Agora podes chorar"; "Prá esquecer" e "Se meu balão não se queimar" com Nicolini; "Um amor que já passou", com Frazão; "Chega", com José Marcílio; e "Malandro triste", com Mario Silva. De 1937, são as composições "Adeus, escola...", em parceria com Ari Machado e Nilo Silva, "A Canoa Virou" e "Você é a melhor do mundo", com Raimundo Chaves e "Não me deu satisfações" e "Você tem um jeitinho", com Nicolini. Em 1938, aparece a composição "Mamão", feita em parceria com Paulo Noronha e Raimundo Chaves.
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Adoniran e seu principal parceiro, Oswaldo Molles.
Em 1941, levado por Otávio Gabus Mendes, Adoniran foi para a Rádio Record, onde fez radioteatro numa série chamada'Serões Domingueiros'. Foi aí que conheceu Osvaldo Molles, que fazia, na mesma rádio, o programa 'Casa da Sogra' e que acabou criando para Adoniran alguns personagens que ficaram famosos na época: o malandro Zé Cunversa, o judeu de prestações Moisés Rabinovic, o galã do cinema francês Jean Rubinet - inspirado no nome de batismo de Adoniran, João Rubinato, mais o motorista italiano Perna Fina, o professor de inglês Mr. Morris, o moleque Barbosinha Mal-Educado da Silva e Charutinho, que era o mais identificado com a figura de Adoniran Barbosa.
A linguagem desses personagens populares acabou influenciando as composições de Adoniran. Conheceu, então, o conjunto Demônios da Garoa e começaram a trabalhar juntos: formaram uma bandinha para animar as torcidas, nos jogos de futebol promovidos pelos artistas de rádio do interior paulista.
Em 1945, Adoniran compôs "Grande Bahia", em parceria com Avaré, e participou do filme nacional "Pif-paf", dirigido por Ademar Gonzaga. Em 1946 participou, também sob a direção de Ademar Gonzaga, do filme "Caídos do céu", e compôs, com Armando Rosas, a marcha "Salve, oh! Gilda!" e com Ivo de Freitas, o cateretê "Tô com a cara torta". Bem-sucedido, Adoniran compôs, em 1947, o samba dor-de-cotovelo "Asa Negra", gravado por Hélio Sindô.
Em 1949, com Césio Negreiros, compôs "Marcha do Camelô". A partir de 1950 os Demônios da Garoa tornaram-se os mais constantes intérpretes de Adoniran Barbosa e seu samba "Malvina", interpretado por eles, ganhou o concurso carnavalesco de São Paulo em 1951. Ainda em 1951, Adoniran compôs, com Orlando de Barros, o samba-canção "No silêncio da noite"; com Hervé Cordovil, a marcha-rancho "Pode ir em paz"; e com Rômulo Pais e Delé, o baião "Tá moiado".
Em 1952, Adoniran participou do filme "O Cangaceiro", dirigido por Lima Barreto e rodado em Vargem Grande, que acabou recebendo prêmio em Cannes. No mesmo ano compôs, com Osvaldo França e Antonio Lopes, a marcha "Água de Pote"; com Henrique de Almeida e Rômulo Pais, a batucada "A louca chegou"; com Manezinho Araújo, o baião "Tiritica"; e com Osvaldo França, os sambas "O que foi que eu fiz?" e "Joga a chave".
Em 1953, em parceria com Osvaldo Molles e João B. dos Santos, Adoniran compôs o samba "Conselho de mulher" e, em parceria com Blota Júnior, compôs "Gol do Amor" . Em 1954, compôs "Abriu a Janela", junto com Frederico Rossini.
Em maio de 1955, os Demônios da Garoa gravaram, com grande sucesso, o samba de Adoniran "Saudosa maloca", que havia sido composto em 1951 e gravado pelo próprio Adoniran, sem, no entanto, ter alcançado alguma repercussão. Há pouco tempo, "Saudosa Maloca" teve, também, uma gravação na voz de João Bosco. Inspirado em "Saudosa Maloca", Osvaldo Molles criou, na Rádio Record, o programa "História das Malocas", onde Adoniran figurava como Charutinho. Sucesso absoluto, "História das Malocas" ficou no ar durante dez anos, de 1955 a 1965, chegando até a ser levado para a televisão.
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Com Matilde e Peteleco, parceiro com quem assinou muitas de suas obras.
Ainda em 1955, Adoniran compôs "As mariposas" e, em parceria com Rômulo Pais e Jota Sandoval, compôs "Camisolão"; com Jota Nunes e Antonio Rago, "Chorei, chorei!"; com Chuvisco e Jota Nunes, "Deixa de beber"; e com Antonio Rago, "Dormiu no chão". No mesmo ano, foi gravado, pelos Demônios da Garoa, seu samba feito em parceria com Alocin, em 1951, gravado pelo próprio Adoniran, sem sucesso, naquele ano, e regravado há pouco tempo por Rita Lee, o conhecidíssimo "Samba do Arnesto".
Em 1956 Adoniran nos presenteia com as composições "Apaga o fogo Mané" e "Um samba no Bexiga" e ainda algumas parcerias, como "Arranjei outro lugá", "Por onde andará Maria?" e "Vem, morena", com Antonio Rago; "Decididamente", com Benedito Lobo e Marcolino Leite; "Garrafa cheia", com Benedito Lobo e Antonio Rago; "O legume que ele quer", com Manezinho Araujo e "Quem bate sou eu!", com Artur Bernardo. Também é de 1956 o samba "Iracema", gravado pelos Demônios da Garoa no mesmo ano e regravado, em 1974, por Adoniran Barbosa e em 1980 por Adoniran Barbosa junto com Clara Nunes, com acompanhamento de Dino, em seu violão de sete cordas. "Iracema" foi gravado também, entre outros intérpretes, por Beth Carvalho e por Jards Macalé.
O ano de 1957 traz as composições de Adoniran "Terreque, Terreque", feita em parceria com Avaré e Antonio Rago, e a belíssima "Bom dia tristeza", feita em parceria com Vinícius de Moraes, embora Adoniran e Vinícius nunca tenham se encontrado pessoalmente. "Bom-dia tristeza" foi gravada em 1957, por Araci de Almeida, e em 1958 e 1963 por Maysa. Em 1958, Adoniran compôs, em parceria com Antonio Rago e Geraldo Blota, "Dotô Vardemá"; em parceria com Osvaldo Molles, "Pafunça"; com Hilda Hilst, Adoniran compôs "Quando te achei" e com José Mendes e Arrelia, compôs "Quero casar".
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Clementina de Jesus, Adoniran Barbosa, Matilde e Carlinhos Vergueiro.
Os Demônios da Garoa voltaram a fazer sucesso com a gravação, em 1958, do samba de Adoniran Barbosa "Abrigo de vagabundos". São de 1959 as composições de Adoniran "Morro da Casa Verde", "Perdoei" e, ainda, "Aqui, Gerarda" e "Juro Amor", em parceria com Ivan Moreno e Joca, e "Dor de Cotovelo" e "Sai água da minha boca", em parceria com Osvaldo Molles.
Em 1960 aparecem os sambas "Agora Vai" e "Chora na Rampa" e, com Joca e Geraldo Blota, a marcha "Bananeiro", com Hervê Cordovil o samba "Prova de carinho" e também o conhecidíssimo samba "Tiro ao álvaro", gravado por Adoniran Barbosa junto com Elis Regina, em 1980.O ano de 1962 foi fraco em composições: apenas uma, "Vem, Amor", feita em parceria com Geraldo Blota.
Em 1963, Adoniran compôs, com Edmundo Cruz, o samba "Escada da Glória" e, com Osvaldo Molles, a marcha "Segura o Apito". Em 1964, Adoniran compôs o samba "A luz da Light" e ainda o samba, lançado pelos Demônios da Garoa, que recebeu o primeiro prêmio do Carnaval no quarto centenário da fundação do Rio de Janeiro, em 1965, "Trem das onze". Aliás, "Trem das Onze" foi a primeira composição paulista a realmente sacudir os festejos carnavalescos do Rio de Janeiro. Foi revalorizado por Gal Costa num show ao vivo, em 1973, cuja gravação magnetiza o ouvinte, passando a ser um dos momentos mais empolgantes da MPB.
Com o sucesso de "Saudosa Maloca", Adoniran havia comprado um terreno em Cidade Ademar. Com o dinheiro de "Trem das Onze" construiu uma casa nesse terreno. Adoniran participou, também, de novelas de televisão e programas humorísticos da TV Record, de São Paulo, como 'Papai sabe nada' e 'Ceará contra 007'.
Continuando a compor numa linguagem que reconstituía a mistura de diferentes sotaques dos migrantes de São Paulo, Adoniran compôs, em 1965, os sambas "Eu vou pro samba", "Tocar na Banda" e "Samba Italiano", este uma sátira aos italianos.Ainda de 1965, são: "Ai, Guiomar", com Osvaldo Molles; "Já tenho a solução", com Clóvis de Lima; "Jabá Sintético", com Marcos César; "Minha Roseira", com Dedé; e "Agüenta a mão, João", com Hervê Cordovil, esta regravada pelo Grupo Fundo de Quintal, em 1990.
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Gonzaguinha, Clara Nunes e Adoniran.
Em 1966 Adoniran compôs "Nunca mais faço Carnaval" e com Marcos César, compôs "Já fui uma brasa". De 1967 são os sambas "O casamento do Moacir", em parceria com Osvaldo Molles; "Chá de Cadeira", com Jucata; e "Quem é vivo sempre aparece", com Corvino. O ano de 1968 traz as composições "Mulher, patrão e cachaça", com Osvaldo Molles e "Vila Esperança", com Marcos César.
A morte de Osvaldo Molles acabou provocando um vácuo na carreira humorística de Adoniran. Mas os mais jovens gostavam de seu trabalho e ele acabou tomando outro rumo. Ficou famoso e admirado, tendo suas músicas interpretadas por grandes nomes da MPB. E continuou compondo. Em 1969, Adoniran compôs "Despejo na favela" e "Não quero entrar" e, ainda, "Comê e coçá, é só começá", com Geraldo Blota e "Não precisa muita coisa", com Benito Di Paula.
Em 1970, compôs "Bem eu quisera" e com Hervê Cordovil, compôs "Olhando prá lua". Em 1971, também com Hervê Cordovil, compôs "É fogo". Em 1972, em parceria com Rolando Boldrin, Adoniran compôs "Eu quero ver quem pode mais". Sozinho, compôs as marchas "Como vai, Dr. Peru?", "Nóis viemos aqui prá quê?", "Senta, Senta" e o samba "Acende o candieiro", regravado por Marlene em 1990. Em 1973, finalmente, Adoniran entrou num estúdio para gravar o seu primeiro LP. Também em 1973, Adoniran compôs "O caminhão do Simão" e com Rolando Boldrin, compôs "Três heróis". Em 1974, compôs "Véspera de Natal" e, em parceria com René Luiz, "Velho Rancho". Em 1975, Adoniran gravou seu segundo LP e compôs "Vide verso meu endereço". Em 1979, em parceria com Carlinhos Vergueiro, Adoniran compôs "Torresmo à milanesa", considerado um dos mais expressivos sambas da última fase de Adoniran. Em 1980 Adoniran gravou seu terceiro e último LP. Muitas composições suas transformaram-se em verdadeiros clássicos da MPB.
Casado com Dona Matilde, em 1942, Adoniran Barbosa não tinha filhos e teria completado 50 anos de carreira em 1983, se não tivesse morrido, na tarde de 23 de novembro de 1982, por insuficiência cardíaca, agravada por enfisema pulmonar. Seu velório foi um desconsolo total, não amenizado nem mesmo pela pinga que corria respeitosamente. Adoniran foi velado ao som de "Trem das Onze". Na hora do enterro, mais de 500 vozes entoaram "Saudosa Maloca". Adoniran se foi, levando consigo a sua marca registrada:o chapéu, o cachecol e a gravatinha borboleta. Mas deixou marcas inapagáveis de seu samba paulistano, parte integrante da nossa MPB.
Adoniran, o cronista
As crianças choravam. Os cães corriam e latiam. Sem saber direito o que fazer, as pessoas tentavam juntar os poucos pertences. Enquanto isso, os tratores se preparavam para demolir mais um cortiço. Nada podia atrapalhar o crescimento de São Paulo, a cidade que nunca pôde parar. Do outro lado da rua, alguém havia interrompido a caminhada e observava, estarrecido, a cena que se tornava cada vez mais comum. Da desgraça e da tristeza, um samba nascia: "Se o sinhô não tá lembrado / dá licença de contá / que aqui onde agora está / esse edifício arto, / era uma casa véia / um palacete assobradado. / Foi aqui seu moço, / que eu Mato Grosso e Joca / construímos nossa maloca, / mas um dia nós nem pode se alembrá / veio os home co'as ferramenta / o dono mandô derrubá".
Saudosa Maloca, primeiro grande sucesso de Adoniran Barbosa como compositor, foi criada em uma única noite, enquanto, ainda chocado com o despejo visto horas antes, passeava pelas calçadas já escuras da cidade. A rua era a verdadeira casa de sua obra, síntese de sotaques, de entonações próprias das migrações que sempre povoaram São Paulo. O compositor transformava a experiência do boêmio em música. As palavras do povo, o modo de falar dos mais humildes, tudo encadeado de maneira a criar poesia, novas sonoridades. Nas esquinas de São Paulo, ele encontrava a linguagem em seu estado puro, contando a realidade social por meio de um português vivo e cotidiano. Um português que preferia Marvina a Malvina, muié a mulher, que falava nóis em vez de dizer nós.
Quando Adoniran Barbosa chegou a São Paulo, o disco e o rádio desenvolviam-se rapidamente. O rádio, que na década de 20 surgia com características amadoras e uma programação erudita, nos anos 30 mudava totalmente a sua conduta. A música, antes considerada folclórica e inferior, passava a ter status de popular e começava a ocupar cada vez mais espaço na programação. Em 1932, com a legislação da publicidade radiofônica, o meio se profissionalizava e se popularizava.
Na capital paulista, Assis Chateaubriand fundava, em 37, a Rádio Tupi, unindo o novo meio ao jornal (Emissoras e Diários Associados). Mas a grande líder de audiência era a Record, a primeira emissora do país a constituir um elenco fixo. E nele se encontrava de tudo. Cantores de rua e de circo, maestros com formação acadêmica, "maestros de assobio", vendedores, atores, aventureiros sem profissão, intelectuais. O rádio era então o centro de todo sistema de comunicação de massa que começava a se formar.
Nesse meio se movimentou Adoniran Barbosa, tanto como humorista quanto como sambista. Mas, nos dois casos, procurando esconder a dor de ver as mudanças da cidade que tanto amava, de ver o fim dos laços de solidariedade entre vizinhos e a destruição dos espaços urbanos que possibilitavam o encontro e a festa entre as pessoas.
Todo o processo de criação de Adoniran era acompanhado de perto e incentivado pelo amigo e parceiro Oswaldo Molles. Era ele quem enviava Adoniran para longos passeios pelas redondezas, para observar e extrair histórias para seus programas. Também foi Molles quem deu chance para Adoniran interpretar diversos tipos. A parceria dos dois deu tão certo que, em 1946, a imprensa chamava Adoniran de "o milionário criador de tipos" e, Molles, "o milionário criador de programas". Nesse ano, o compositor fazia nada menos do que dezesseis interpretações diferentes.
Com o passar dos anos, o envolvimento de Adoniran com o rádio se tornou tão grande que, em abril de 53, sua agenda era a seguinte: segunda, interpretava o humilde marido Confúcio das Dores em Solteiro é melhor; na terça, trabalhava no programa Convite ao samba; na quarta, em Show Castelo e Vale o quanto pesa; na quinta, em Presença do Trio; na sexta, em O crime não compensa; no sábado, em Sítio do Bicho de Pé e no domingo, em A grande filmagem. Nesse último, trabalhava ao lado de nomes como Anselmo Duarte, Ilka Soares, além de duas orquestras e cantores, tudo sob a direção de Blota Jr.
Em 1955, após o lançamento de Saudosa Maloca, estreou como o personagem Charutinho, em Histórias das Malocas, radiocontos escritos e dirigidos por Oswaldo Molles. O ex-mascate, ex-pintor de paredes e ex-quase tudo transformava-se no desocupado malandro morador do Morro do Piolho, pronto para mais uma viagem costeira pelo mundo dos humildes, como definia o próprio programa. Apesar de uma certa idealização das malocas, História das Malocas não mostrava um passado belo, mas sim um presente degradado: "Esta é a minha maloca, manja? Mais esburacada que tamborim de escola de samba em Quarta-feira de Cinzas. Onde a gente enfia a mão no armário e encontra o céu. Onde o chuveiro é o buraco da goteira. Não tem água de zinco. Às veis a gente toma banho de bacia e se enxuga com a toalha do vento. E quando não tem água a gente se enxuga antes de tomá banho", falava Charutinho.
As críticas sociais eram constantes. Como no episódio em que a comunidade do Morro do PioIho decide fazer uma eleição e a urna é roubada. Ou em outro, em que os moradores resolvem sair para procurar emprego e só encontram um. Para ocupar essa vaga, escolhem Charutinho, o mais preguiçoso e vadio da turma. Já no departamento pessoal da empresa, o malandro é obrigado a um ir e vir sem fim, trazendo atestados, documentos e vacinas. "Eu tenho que tirá tanta coisa pra trabaiá, que eu vô boquejá pa turma do Morro, pa vê se por motível das dificurdádias..." Ajudado pelo pessoal do Morro, ele finalmente consegue ser empregado. No primeiro dia de trabalho, todos querem levar Charutinho até a porta da fábrica. Lá, a confusão: o pessoal é proibido de entrar e Charutinho, revoltado, faz um inflamado discurso e é demitido. A crítica não é contra o trabalho, mas contra o sistema que o transforma em algo sombrio e sem vida, longe da festa e da diversão.
É impossível separar o radioator do compositor. Se a História das Malocas surgiu a partir de uma de suas músicas, seus sambas se embebiam no universo do programa de rádio.
A partir de 1955, o Brasil se abria para os bens de capital estrangeiros e acelerava o processo de industrialização. Era época de euforia, de "50 anos em 5", era o governo JK. Juscelino Kubitschek queria a qualquer custo modernizar a produção, ampliando a indústria pesada e o setor de bens de consumo duráveis. A sociedade se motorizava e a economia nacional era cada vez mais integrada aos grandes monopólios internacionais.
As mudanças na paisagem do centro de São Paulo eram visíveis para qualquer um. Especialmente para Adoniran, acostumado a andar diariamente por todas aquelas ruas, de boteco em boteco, entre um traguinho de pinga, um cigarro e um sambinha com os companheiros. Já não existiam o romantismo e a poesia dos primeiros tempos, o progresso chegava, arrastando tudo o que estivesse em seu caminho. São Paulo já não sabia mais adormecer.
Não que aquilo deixasse o compositor triste. Ele entendia que novos tempos estavam chegando, que os tipos que cantara em tantos sambas e que encarnara em tantos programas de rádio em pouco tempo deixariam de existir. "Progréssio / progréssio / eu sempre escuitei falá...", dizia uma de suas músicas. Mas também podia se sentir recompensado: graças a ele o passado estava eternizado, com seus Arnestos, com as saudades de destruídas malocas, com o trem que, às onze horas, deveria levar o namorado de volta ao Jaçanã.
Adoniran Barbosa viu todas as mudanças que a cidade sofreu. E ninguém soube cantá-las como ele, sempre a partir do ponto de vista dos excluídos, dos marginais, dos párias da sociedade. Ele só entendia a composição assim: como a voz dos mais humildes, com uma voz que era a sua mais do que de ninguém. Ele que nunca cursara mais do que a terceira série do primário e que, antes de tentar ser artista, trabalhara em diversas profissões. Ele foi percebendo e vivendo as mudanças por que passava a cidade. Em 1951, gravaria Saudosa Maloca, pela Continental. A música, porém, só faria sucesso em 55, na interpretação dos Demônios da Garoa, que também gravaram o Samba do Arnesto. Aos poucos, com o reforço dos Demônios, sua vida artística foi evoluindo. Ainda em 55, duas reportagens publicadas na Revista do Rádio traziam os títulos: "Só faltava fazer sambas... e Adoniran também fez" e "Humorista faz músicas tristes".
A fama chegava tarde na vida do compositor; o dinheiro, no entanto, não chegaria nunca. Por um lado, porque Adoniran continuava ganhando mal na Record e, por outro, porque não dispensava uma pinga no fim do dia, continuando tão boêmio e mulherengo quanto no início da carreira. Uma das alternativas para aumentar o orçamento no fim do mês foi levar a trupe radiofônica para os circos da periferia da cidade. Matilde, sua esposa, contava que ela era a responsável por depositar o dinheiro arrecadado durante aqueles espetáculos circenses: uma enorme quantidade de notas miúdas, sujas, que mais de uma vez o caixa bancário se negou a aceitar. "Acontece que a gente era muito pobre, porque ninguém fazia shows como hoje. Adoniran só cantava em circo e, de vez em quando, no Cine-Teatro Colombo, lá no Brás, ou no Coliseu, no Largo do Arouche", lembra a companheira do compositor.
O impulso dado na carreira de Adoniran e o sucesso de História das Malocas dá uma diminuída a partir de 1958. A audiência do programa começa a cair e o samba passa a sofrer a concorrência de um novo movimento musical, marcado pela influência do jazz norte-americano, que logo ficaria conhecido como bossa nova. João Gilberto gravava Chega de saudade e transformava o cenário da música brasileira.
Apesar do clima pouco favorável, Adoniran continuava com suas andanças e suas composições. Músicas que vão registrando passo a passo a vida da maloca, que também vai acompanhando o ritmo imposto pelo progresso. Em 1959, Abrigo de Vagabundo contava o início de uma nova maloca, perto da Mooca. Porém, em 1969, vem Despejo na favela. "Dispois o que eu tenho / É tão pouca mudança / É tão pequena / Que cabe no bolso", diz o morador diante do oficial que Ihe mostra a ordem de despejo.
Mas é em 65 que Adoniran dá mais uma guinada e volta a caminhar pelos trilhos do sucesso: é a vez de Trem das Onze. Lançada no meio do ano pelos Demônios da Garoa, a música chegou forte no Carnaval do ano seguinte, tomando conta do povo nas ruas, cantada com entusiasmo pelos foliões.
Cada vez mais respeitado como compositor, Adoniran vinha enfrentando problemas em sua carreira de radioator desde 64, com o suicídio do amigo e parceiro Oswaldo Molles. Era o fim da História das Malocas e das aventuras de Charutinho, que sairiam do ar definitivamente em 68. Por ter horror a pequenas platéias, o artista também já quase não fazia mais shows em circos - estes não mais atraiam o mesmo público de antigamente.
Adoniran passou a ser marginalizado na Record. Todos os dias chegava no trabalho, procurava seu nome na escalação do dia e não encontrava nada. Sem ter o que fazer, ia para o bar e ficava papeando. Novas histórias, novas músicas. Compor passou a ser sua grande meta. E, na sua obra, dois bairros paulistanos se destacavam: o Brás e o Bixiga. O primeiro, com suas casas velhas, seus cortiços superpovoados e as ruas em franca decadência. O Bixiga, com as cantinas italianas, o clima camarada e amigo, o lugar onde Adoniran reencontrava suas origens. Suas músicas se tornavam cada vez mais reportagens, crônicas de costumes e de época.
Com o passar dos anos, já não podia mais sair à noite. Anos de garoa noturna, sem chapéu e sem casaco, lhe trouxeram um enfisema pulmonar que o acompanhou até o fim da vida. Reclamava: "Eu que sempre fui um homem das ruas quase não saio mais de casa". Aos poucos, a noite deixou de lhe pertencer. Cada vez era mais difícil criar coisas novas. E as composições antigas aos poucos iam sendo deixadas de lado pelas rádios, preocupadas em tocar bossa nova e depois o iê-iêiê. Isso também era motivo de mágoa: "Por que não tocam mais minhas músicas? Afinal, todos dizem que sou um bom compositor", queixava-se às vezes.
Todos esses inconvenientes tumultuaram os últimos anos de vida de Adoniran Barbosa. Em entrevista ao jornal Diário Popular, declararia: "Nada meu foi conseguido com facilidade. Tudo parecia como se eu quisesse entrar num elevador e, embora havendo lugar, o cabineiro que não ia com a minha cara logo dizia: Tá lotado...". Persistência que finalmente lhe trouxe o reconhecimento merecido. Tardio, especialmente para quem sempre lutou por uma chance de brilhar. Mas não menos saboreado por isso. Quando começou a ser chamado para entrevistas e outras homenagens, em meados da década de 70, não pensava duas vezes antes de aceitar. Gostava da popularidade, dos refletores das televisões, e de estar em evidência. Era assim com 20 anos de idade, foi assim aos quase 70. Apesar de ainda reclamar da demora em vencer como artista, dizia-se satisfeito: "Eu sou um homem feliz. Fiz tudo o que quis na vida, mesmo com atraso... Só não fiz teatro porque agora já não tenho mais coragem. O teatro é duro, tem que ser cara a cara com o público... Mas fiz novela, e é uma parada, pois a gente tem que chegar cedinho, cinco, seis horas da manhã, e não se sabe a que horas sai, nem se almoça ou janta... É trabalho para leão. Ainda mais para mim, que sempre gostei da madrugada, não dá certo, pois assim eu não durmo... Eu gosto de fazer publicidade, quando me pagam direitinho".
Com os anos, o enfisema pulmonar que o maltratava foi piorando. Mesmo assim, queria continuar andando, queria ver o Carnaval, o samba e o povo nas ruas. Em 82, após algumas internações, veio a caminhada final. Adoniran morreu num hospital, na avenida Santo Amaro zona sul de São Paulo, com Matilde sempre a seu lado. Imortalizado em sons e em imagens de uma música que continua cantando com humor as desgraças do dia-a-dia. Atual sempre. A cidade que ele retratou não é mais a mesma, mas a dor e a miséria humanas continuam iguais.
Sambas de esquinas
Adoniran Barbosa gostava dos temas sociais. Depois do sucesso de Saudosa Maloca - que conta a triste história dos amigos que, de repente, se vêem sem ter onde morar -, o compositor se interessou cada vez mais pelo que acontecia nas ruas, pelos moradores dos bairros pobres, com seu português mal-falado e seus dramas cotidianos. Sua maneira de compor, sem grandes conceitos musicais, dificultava as parcerias.
Uma das exceções foi seu grande amigo Oswaldo Molles, criador de programas de rádio em que Adoniran amava. Molles gostava dos fraseados errados do companheiro, considerando-os a expressão do autêntico modo de falar do povo. E foi com a pretensão de aprofundar esse mergulho no espírito popular que Molles produziu o programa Histórias da Maloca, na Rádio Record, no qual Adoniran interpretava o personagem Charutinho, um negrinho malandro e boêmio, com o sotaque italianizado dos paulistanos. Da parceria no rádio para a música foi um pulo. Adoniran e Oswaldo Molles criaram juntos com posições importantes, entre as quais se destacam Tiro ao Álvaro e Mulher, Patrão e Cachaça.
Quem vê a lista de parceiros de Adoniran Barbosa se espanta com um nome que aparece algumas vezes: Peteleco. Mas quem conhece um pouco de sua vida sabe que esse era o apelido do primeiro cachorro do casal Adoniran e Matilde. Pois Peteleco é autor, ao lado de seu dono, das músicas Pra que chorar? e É da banda da lei, esta última também com a participação de Irvando Luiz. Na verdade, Peteleco, além de ser o nome do cão de Adoniran, servia como pseudônimo para sua esposa, Matilde de Lutiis. Apenas em A garoa vem descendo ela assinaria a co-autoria com seu próprio nome.
Outros dois personagens importantes na carreira de Adoniran Barbosa foram Rolando Boldrin, parceiro e intérprete do samba Quero ver quem pode mais, e Vinícius de Moraes, que assina Bom dia, tristeza. Sobre esta última, correm duas versões diferentes. Uma, contada por Araci de Almeida, primeira intérprete da canção, e, a outra, pelo próprio Adoniran. Segundo Araci, ela estava no bar do Hotel Comodoro, em São Paulo, quando chegaram Vinícius, Flávio Porto e Clóvis Graciano. Bebida vai, bebida vem, Araci pediu a Vinícius que criasse uma poesia para ela. Sem pensar duas vezes o poeta escreveu alguns versos em um papel e lhe entregou. Dias depois, a cantora deu a letra a Adoniran, que a musicou. Este, no entanto, contava uma história diferente. Ele costumava dizer que Bom dia, tristeza era uma das composições mais antigas de Vinicius, escrita quando o poeta ainda servia como diplomata na Unesco. Ele teria enviado a poesia, por carta, para Araci de Almeida, com a recomendação de fazer o que bem entendesse. "Mas ela, que era minha chapa, deu para mim (sic) musicar", afirmava o compositor. De qualquer maneira, Adoniran e Vinicius nunca chegaram a se conhecer.
Houve intérpretes importantes para as músicas de Adoniran. Clara Nunes e Clementina de Jesus, por exemplo, misturaram seu samba carioca, do morro, com o sotaque paulistano tão caipira e italiano das músicas do compositor. Aliás, foi esse mesmo tom caipira que o aproximou de Rolando Boldrin.
Outros cantores e cantoras fizeram gravações marcantes de Adoniran. Foi o caso de Gal Costa, em sua versão de Trem das Onze, e de João Bosco, com uma interpretação histórica de Saudosa Maloca. A composição com Vinicius de Moraes, versões, entre elas a de Maísa, em 58, e a de Elis Regina, em 78.
Aliás, Elis é responsável por uma memorável gravação de Tiro ao Álvaro, no disco de comemoração dos 70 anos de Adoniran, em 1980. Ocupada com uma enorme agenda de shows, a cantora se atrasou para a gravação, desesperando toda a equipe e o velho compositor, que não mais acreditava na sua aparição. Quando Elis finalmente surgiu, ainda sem conhecer a música, entrou no estúdio com Adoniran e deixou o compositor boquiaberto quando saiu de lá, meia hora depois, já com a primeira e definitiva gravação.
Algumas letras e cifras
Fontes: "memórias da mpb" - Samira Prioli Jayme; Cifrantiga - História da MPB e Cifras; MPB Compositores - Ed. Globo; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Ditora PubliFolha.