quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Aquiles Medeiros

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Aquiles Medeiros, compositor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 30/7/1925 e faleceu em 12/9/1971. Nascido no bairro da Glória, ainda menino mudou-se para o subúrbio de Brás de Pina, onde completou seus primeiros estudos. Desde garoto compunha músicas e liderava pequenos blocos carnavalescos.

Com seu irmão, Elton Medeiros , e outros jovens, integrou o bloco Unidos de Sintra, depois União do Amor, que saía da parada do ônibus Penha Circular. Ali conheceu Joacir Santana, que mais tarde o convidou para fundar o Bloco Carnavalesco Tupi de Brás de Pina, depois transformado em escola de samba. Também a convite de Joacir, transferiu-se para a escola de samba Aprendizes de Lucas, que mais tarde se associou à Unidos da Capela, para formarem o G.R.E.S. Unidos de Lucas, onde fez parte da ala de compositores.

Formou-se técnico em contabilidade e trabalhou como bancário, tendo sido funcionário da Caixa Econômica Federal. Teve gravados seus sambas Pedra no meu caminho (com Raul Marques e Estanislau Silva) e Boêmio sofredor (com Aguinaldo da Cuíca), pela etiqueta Rádio, com a Aprendizes de Lucas. Foi também passista e tocava vários instrumentos de percussão.

Obras: Boêmio sofredor (c/Aguinaldo da Cuíca), samba, s.d.; Pedra no meu caminho (c/Raul Marques e Estanislau Silva), samba, 1952.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora e PubliFolha.

Monarco

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Monarco (Hildemar Diniz), compositor e cantor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 17/8/1933. Criado no subúrbio de Osvaldo Cruz, onde o pai trabalhava como marceneiro, estudou apenas até o terceiro ano primário. Quando criança conheceu Paulo da Portela e, desde cedo, freqüentou rodas de sambistas, compondo aos 11 anos seus primeiros sambas para os blocos do subúrbio.
Sua primeira música gravada foi Vida de rainha (com Alvaiade), por Risadinha. A segunda música foi O lenço (com Chico Santana), na gravadora Sinter. Integrante da ala dos compositores do G.R.E.S. da Portela desde 1950, tem composições gravadas por Paulinho da Viola (O lenço e Passado de glória), Clara Nunes (Vai amor, com Walter Rosa), Martinho da Vila (Tudo menos amor, com Walter Rosa), Roberto Ribeiro (Proposta amorosa) e Beth Carvalho (Fim de sofrimento), entre outros.
Toca cavaquinho e instrumentos de percussão. Como integrante da Velha Guarda da Portela, apresentou-se em shows no Teatro Opinião, do Rio de Janeiro, e no teatro da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo SP.
Mesmo sendo o mais jovem integrante da Velha Guarda da Portela, depois da morte de Manacéia foi escolhido para ser o chefe do grupo. Desempenha as funções de diretor de harmonia da escola de samba da Portela. Após a morte de seus parceiros da Velha Guarda (Alcides, Chico Santana, Manacéia), seus parceiros mais constantes são Ratinho (Alcino Correia) e seu filho, Mauro Diniz.
Gravou seu primeiro LP como cantor em 1974, na Continental. O segundo LP, em 1980, foi gravado na Eldorado: Monarco com participação da Velha Guarda da Portela, reeditado em CD pela mesma gravadora. Em 1991 seu primeiro CD — Monarco, a voz do samba, produzido por Henrique Cazes — foi lançado no Japão.
Em 1994-1995 foi lançado no Brasil, pela Kuarup, o CD A voz do samba, no qual saudava portelenses históricos, destacando- se o samba-enredo que compôs para a escola Unidos do Jacarezinho, em homenagem a Geraldo Pereira. Esse disco lhe rendeu um prêmio Sharp de melhor cantor na categoria samba. No mesmo ano, apresentou-se em São Paulo, no bar Vou Vivendo.
Outras composições de destaque são Amor de malandro (com Alcides Lopes), Coração em desalinho (com Zeca Pagodinho), Falsa alegria (com Ratinho), 1995, Vou procurar esquecer (com Ratinho), 1996, Presença incerta (com Ratinho), 1997.
Obras: Falsa alegria (c/Ratinho), 1995; O lenço (c/Chico Santana), 1970; Passado de glória, samba, 1970; Presença incerta (c/Ratinho), 1997; Tudo menos amor (c/Walter Rosa), 1974; Vai amor (c/Walter Rosa), 1975; Vou procurar esquecer (c/Ratinho), 1996.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora e PubliFolha.

Cazuza

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cazuza

Foi chamado de poeta, de representante de uma geração de guru dos anos 80. Mas Cazuza foi, na verdade, um tipo de pirata. Estavam presentes nele a audácia de quem abordou o navio da MPB e conheceu os seus tesouros; o romantismo de quem, sob o luar, se embebeda e tece versos, contemplando as paixões; a acidez de uma geração que viu o mundo mudar para um tempo mais duro, menos solidário e mais competitivo.
O pai foi ao cartório registrar seu único filho e ditou para o escrivão: Agenor de Miranda Araújo. Mas, antes que o menino chegasse ao mundo, João Araújo já havia lhe dado outro nome, que o acompanharia por toda a vida. Herdeiro de uma família pernambucana, João Araújo resolvera chamar o filho de Cazuza, um tipo de gíria nordestina para moleque. Ainda durante a gravidez de Lúcia - e sem o ultrassom dos dias de hoje para saber o sexo da criança -, o pai repetia aos amigos: eu vou ter um cazuza. E teve um Agenor, Cazuza, músico e poeta do Brasil.
Além de lhe darem o nome artístico, os personagens da família de Cazuza determinaram seu envolvimento com a música. Ele mesmo gostava de afirmar que sua história musical começou com seu avô, quando, no início do século, ele se mudou de um engenho em Pernambuco para o que era, na época, o areal do Leblon. A partir daí, a história se desenrolou. Seu pai, João Araújo, conheceu uma moça que morava nas imediações, com quem acabou se casando. A moça chamava-se Lúcia e adorava cantar - como Cazuza dizia, cantava como um passarinho. Tanto que uma das primeiras novelas da televisão brasileira teve uma gravação sua na trilha sonora: Peito vazio, de Cartola. Já adulto, Cazuza se lembraria de ouvir a mãe cantarolando pela casa.
Na sua memória fotográfica também ficaram registrados momentos nos pátios e nas comemorações das escolas. Quase sempre lembranças de sua infância, já que, a partir de 11, 12 anos, suas relações com os colégios se tornaram ruins.
Também marcaram as reminiscências do garoto as aparições de artistas em seu lar. Quando ainda era criança, conheceu Elis Regina, os Novos Baianos, Jair Rodrigues, entre outros. Por essa época, durante sua infância, seu pai já estava ligado ao mundo da música e ocupava lugar de destaque na Som Livre, gravadora do grupo Globo. Algum tempo depois, ele se tornaria presidente da empresa.
Porém, a primeira influência que Cazuza recebeu em direção à música veio mesmo de sua mãe. Foi ela quem despertou sua atenção e sua vocação para a arte. E, depois que o filho se transformou no Cazuza ídolo da juventude brasileira do anos 80 e morreu de Aids em 1990, ela levou à frente o projeto da Fundação Cazuza, uma das primeiras entidades civis no Brasil voltada ao apoio a soropositivos. O trabalho de Lúcia é como uma continuação da mensagem de Cazuza aos jovens.

Barão Vermelho

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Grupo carioca de rock fundado em 1981 por Roberto Frejat (Rio de Janeiro-RJ 1961-)guitarra; Dé (André Palmeira Cunha, Rio de Janeiro 1965-), contabaixo; Maurício Carvalho de Barros (Rio de Janeiro 1964-), teclados; e Guto Goffi (Flávio Augusto Goffi Marques, Rio de Janeiro, 1962-), bateria.

Só no ano seguinte, por intermédio de Leo Jaime, encontrariam o vocalista Cazuza e gravariam o primeiro LP, Barão Vermelho, pela Som Livre, fazendo alguns shows apenas no Rio e em São Paulo.

Depois do lançamento do disco 2, que inclui a faixa Pro dia nascer feliz, vem o sucesso nacional, em 1984, com Bete Balanço, da trilha sonora do filme de mesmo nome e presente no terceiro disco do grupo, Maior abandonado.

Em janeiro de 1985 participam do festival Rock In Rio e em junho é anunciada a saída do vocalista Cazuza, que parte para carreira solo, e a entrada de Fernando Magalhães e Peninha. Frejat passa a ser vocalista e o Barão assina contrato com a Warner.

Em 1990 participam do Hollywood Rock, e no mesmo ano o baixista Dé é substituído por Dadi, ex-integrante dos Novos Baianos e do A Cor do Som. No ano seguinte ganham o prêmio Sharp de melhor grupo de rock e o baixista Dadi é substituído por Rodrigo Santos.

Outros sucessos do Barão são Declare guerra, Por que a gente é assim?, Quem me olha só, Pense e dance, Torre de Babel, O poeta está vivo, Supermercados da vida, Malandragem, Dá um tempo" e Puro êxtase.

Em 2001, depois de mais uma apresentação surpreendente no Rock in Rio 3 – Por um Mundo Melhor, o Barão Vermelho faz uma pausa para seus integrantes desenvolverem projetos paralelos. Em 2004 eles lançaram Barão Vermelho, que mostra sucessos do início de carreira.

Em agosto de 2005, o Barão Vermelho grava no palco do Circo o seu primeiro DVD, dentro do projeto MTV ao Vivo. O elemento surpresa do Barão MTV ao Vivo fica por conta da dobradinha virtual, entre Cazuza e Frejat – este interpretando pela primeira vez - na canção Codinome Beija-Flor, de Cazuza e Ezequiel Neves.

O álbum duplo faz uma retrospectiva de 23 anos de carreira da banda com repertório dos 12 discos de estúdio lançados desde 1982 e do ao vivo Balada MTV.

Fontes: CliqueMusic; Encicl. da Música Brasileira - Art Editora.

A história da Bossa Nova - Parte Final

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Carnegie Hall

O flautista americano Herbie Mann foi realmente o primeiro músico estrangeiro a adotar a bossa nova como fonte musical. Em Nova York convenceu o dono da gravadora Atlantic, Nesuhi Ertegun, a vir com ele ao Brasil para ouvir a nova música que, segundo Herbie, iria “incendiar o mundo”. Ertegun já conhecia Vinícius de Moraes do tempo em que este servira no Consulado do Brasil em Los Angeles. Ao saber que o poeta era um dos participantes do movimento, e depois de ouvir Herbie Mann contar o que ouvira no Brasil, não teve dúvidas, desceu no Rio e logo na segunda noite Lula Freire promoveu, a pedido de Herbie Mann, de quem já era amigo, um jantar em sua casa com a presença da nata da Bossa Nova.

Chico Feitosa, Durval Ferreira, Menescal, Vinícius, Luizinho Eça, Baden Powell, Tom e Sérgio Mendes tocaram para Nesuhi e Herbie, que sacou da flauta e entrou direto no ritmo e no som da Bossa Nova. Lá mesmo combinaram que antes de retornar para Nova York deveriam gravar um disco do flautista com os músicos brasileiros.

O resultado foi a gravação do disco Do the Bossa Nova com o americano e os músicos brasileiros Baden Powell, Gabriel, Papão, Juquinha, Paulo Moura, Pedro Paulo, Sérgio Mendes, Durval Ferreira, Otávio Bailly, Dom Um Romão e Luiz Carlos Vinhas.

No estúdio, Nesuhi Ertegun comandava a parte técnica e Tom Jobim coordenava e dava sugestões sobre os arranjos. Não demorou muito e começou uma migração de músicos americanos para o Brasil em busca das composições de Bossa Nova. Paul Winter, Bud Shank e Cannonball Adderley colocaram o Rio em seu roteiro.

Nos Estados Unidos o novo som do Brasil era o novo filão para as gravadoras e editores de música. Tudo era Bossa Nova. Até o que não era. O violonista brasileiro Laurindo de Almeida, que residia há anos na América e que não tinha rigorosamente nada a ver com a Bossa Nova, gravou um disco chamado Laurindo Almeida and the Bossa Nova all Stars. Os músicos eram excelentes jazzistas como Howard Roberts, Al Viola, Shelly Mane, Milt Holland, Chico Guerrero, Jimmy Rowles, Max Bennett, Bob Cooper, Don Fagerquist e Justin Gordon, mas quanto à Bossa Nova eram mais inocentes do que o próprio Laurindo de Almeida.

O músico David Pike, mais esperto, gravou com os músicos Clark Terry e Kenny Burrell um disco com as músicas do pianista e grande compositor João Donato, que também morava na América. Donato voltou para o Brasil e foi imediatamente agregado ao movimento, até porque havia sido um dos primeiros a mudar o toque e as harmonias da música brasileira ainda no começo dos anos 50.

A música de Tom Jobim rapidamente estourava na América: Charlie Byrd e Dizzy Gillespie gravaram composições suas e Stan Getz fez a famosa gravação de Desafinado, da qual vendeu mais de um milhão de exemplares. Mas Tom Jobim só foi conhecer os Estados Unidos quando embarcou junto com outros brasileiros para o famoso concerto no Carnegie Hall, onde a Bossa Nova foi oficialmente apresentada ao mundo.

Em setembro de 1962, a Bossa Nova conquistou definitivamente seu lugar no mundo da música, no histórico espetáculo apresentado no tradicional Carnegie Hall de Nova York. Tudo começou quando Sidney Frey, presidente da gravadora americana Audio Fidelity, resolveu convidar Tom Jobim e João Gilberto para um show em Nova York Frey, que já havia estado no Brasil algumas vezes, passou um telegrama para a Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty — cujo chefe era o conselheiro Mário Dias Costa — demonstrando seu interesse e pedindo o apoio do governo brasileiro.

Na época a política cultural do Itamaraty estava mais ligada à promoção de músicos, como Nelson Freire e Jacques Klein, e acontecimentos como a Bienal de Veneza. Apesar disso, Mário Dias da Costa, amante da música brasileira e cultura nacional achou que deveria conhecer a bossa nova mais de perto. Arnaldo Carrilho, então terceiro-secretário da Divisão de Difusão Cultural, encarregou-se de fazer o contato entre ele e Chico Feitosa, que por sua vez levou o diplomata a uma reunião na casa de Nara Leão.

Dias Costa, encantado com o que viu e ouviu naquela noite, resolveu que o grupo deveria participar do espetáculo em Nova York, com eventual ajuda do governo brasileiro através do Ministério das Relações Exteriores. Com a autorização de seu chefe, o ministro das Relações Exteriores, Hermes Lima, e de seu superior imediato, ministro Lauro Escorel, Mário Dias Costa resolveu usar a verba disponível para eventos de difusão cultural e financiar as passagens do grupo para Nova York. A hospedagem ficaria por conta do Consulado do Brasil em Nova York, o que foi providenciado pela consulesa-geral do Brasil Dora Vasconcellos, uma das mais encantadoras e eficientes personalidades da diplomacia brasileira.

Chico Feitosa encarregou-se de elaborar a lista dos músicos que iriam participar. A lista inicial, com dezessete nomes, incluía Ronaldo Bôscoli como apresentador do espetáculo No entanto, Tom Jobim sugeriu que, no lugar de Bôscoli, embarcasse Aloysio de Oliveira, que já tinha morado nos Estados Unidos e tinha bons contatos e ótimas relações por lá. Bôscoli acabou ficando no Rio.

A esta altura, Sidney Frey já havia convocada a imprensa para uma entrevista coletiva, em que anunciou que alugara o Carnegie Hall para um show de Bossa Nova, e que o Itamaraty financiaria as passagens. Isto bastou para que dezenas de pessoas batessem à porta de Dias Costa, garantindo serem integrantes genuínos do movimento. Em São Paulo, um grupo se reuniu e resolveu participar também, conseguindo suas passagens através da gravadora RGE. Entre eles, os cantores Agostinho dos Santos, Caetano Zama e Ana Lúcia.

Aloysio de Oliveira ficou preocupadíssimo com a quantidade de músicos inexperientes (alguns sem terem mesmo nada a ver com a Bossa Nova) que estavam prestes a embarcar para a apresentação. Ele acreditava que a proposta inicial de Frey era melhor: um show apenas com João Gilberto e Tom Jobim seria mais do que suficiente para mostrar todo valor da música brasileira, sem correr o risco de um eventual fracasso na principal casa de espetáculos que poderia comprometer a intenção de apresentar a Bossa Nova como o que de melhor se fazia em música fora dos Estados Unidos.

Com esta preocupação martelando sua cabeça, A1oysio tentou suspender a ida do grupo: convocou uma reunião na casa de Tom Jobim, à qual compareceram Carlos Lyra, João Gilberto e Vinicius de Moraes e sugeriu que seria melhor que todos desistissem do espetáculo uma vez que o show poderia transformar-se em uma grande bagunça.

Aloysio foi tão convincente em seus argumentos que todos saíram dali acreditando que seria mesmo melhor desistir da empreitada. Mas Vinícius chamou Lyra num canto e disse: “Parceirinho, não deixa de ir não, porque Tonzinho e João vão". "Na verdade o Aloysio preferia que todo mundo desistisse para só irem ele, o Tom e o João Gilberto”, conta Carlos Lyra, que imediatamente avisou Menescal e os outros que resolveram enfrentar o desafio.

Dias depois, embarcaram para Nova York, onde já estava o violonista Luiz Bonfá, que já desfrutava de grande prestígio junto ao público e aos músicos americanos. No dia do embarque, criou-se um certo constrangimento quando Aloysio entrou no avião: todos fizeram um silêncio mortal. O produtor acabou sentando-se sozinho num canto, onde passou toda o viagem. Na última hora, Tom Jobim, que detestava avião, não quis embarcar naquele vôo, alegando que o motor do avião estava sujo, e deixou para viajar no dia seguinte. Mas ele não perdeu muita coisa: Caetano Zama não esquece o tormento que foi ouvir o cantor Charles Aznavour, que também estava no avião, tocar cavaquinho durante toda a viagem. A chegada aos Estados Unidos foi uma espécie de sonho. Era outono em Nova York, com dias belíssimos e vários tons de amarelo colorindo a cidade, coberta de folhas secas.

Tom Jobim deu um susto em Mário Dias Costa: desapareceu no dia seguinte ao de sua chegada em Nova York. Todos ficaram preocupadíssimos, até que alguém se lembrou de que ele tinha dito alguma coisa sobre ir à casa do saxofonista Gerry Mulligan em Nova Jersey. Foram atrás dele e encontraram “Tom e Gerry”, ao lado de uma pilha de latas de cerveja. Tinham passado a tarde toda bebericando e tocando juntos.

Finalmente a grande noite chegou: no dia 21 de novembro de 1962, a Bossa Nova subiu ao palco do Carnegie HalI. Compareceram ao histórico espetáculo Luiz Bonfá, o conjunto de Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Normando Santos, Caetano Zama, Ana Lúcia, Cláudio Miranda, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Antonio Carlos Jobim e João Gilberto, além do violonista Bola Sete, a cantora Carmen Costa, o ritmista José Paulo e o pianista argentino Lalo Schiffrin.

Ninguém, nem mesmo o próprio Itamaraty, imaginaria que aquele concerto pudesse superar o sucesso do samba de Carmen Miranda, que chegara as telas de Hollywood nos anos 40. Cerca de três mil pessoas lotaram o Carnegie Hall e outras mil ficaram do lado de fora. Na platéia estavam nomes como Tony Bennett, Peggy Lee, Dizzy Gillespie (este na primeira fila), Miles Davis, Gerry Mulligan, Erroll Garner e Herbie Mann, entre muitos outros ilustres representantes da música americana.

O master of ceremonies, o famoso crítico de jazz Leonard Feather, fez uma introdução explicando o que era a Bossa Nova. O sexteto de Sérgio Mendes, por sugestão de Lula Freire batizado como Bossa Rio (o nome original do grupo era Samba Rio), abriu o espetáculo e sua interpretação foi aplaudidíssima. Anos depois, Mário Dias Costa confessou que chegou a chorar quando o grupo tocou Samba de Uma Nota Só, com arranjo de Paulo Moura.

Alguns jornais publicaram a notícia de que o concerto havia sido um fracasso. Realmente, o sistema de amplificação não era dos melhores, chegando a pifar quando Normando cantava sua música. Boa parte do público que estava nos balcões e galerias não ouviu direito o concerto, o que prejudicou a qualidade de audição do espetáculo, mas sem dúvida foi a partir dali que João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lyra entre outros, deslancharam suas carreiras internacionais, e foi também a partir dali que a Bossa Nova conquistou definitivamente o mundo.

Carlinhos Lyra quase apanhou de um guarda americano porque estava fumando bem embaixo de um aviso de No Smoking, quando foi alertado por Tom Jobim, que o fez apagar o cigarro alegando que nos Estados Unidos Lyra poderia ir parar na cadeira elétrica por infringir a lei. No meio do espetáculo, que durou quase três horas, o Sindicato dos Trabalhadores em Teatro de Nova York ameaçou apagar todas as luzes, pois já tinham estourado sua carga horária de trabalho. A consulesa Dora Vasconcellos teve de usar de toda a sua diplomacia para conseguir que eles continuassem a trabalhar.

Apesar de todos estes contratempos, quem estava pôde presenciar momentos inesquecíveis. Tom Jobim foi muito aplaudido em Samba de Uma Nota Só, mesmo tendo errado a letra. Apesar do nervosismo, ele teve grande presença de espírito ao parar de tocar para recomeçar. “Just a second”, disse Tom para então recomeçar com brilhantismo. Depois cantou Corcovado, Sob aplausos, Tom Jobim saiu do palco e logo depois voltou paro dizer: “It’s my first time in New York and I’m ver very, very glad to be here.I’m loving the people, the town everything. I’m very happy to be with you”.

Já o Gilberto, na última hora, implicou com o vinco de sua calça. Chamou o conselheiro Mário Dias Costa e explicou-lhe que o vinco não estava paralelo à costura, o que prejudicaria sua apresentação e conseqüentemente poderia comprometer a imagem da música brasileira no Exterior. Apavorado, Mário Dias Costa pediu socorro à consulesa Dora Vasconcellos, que localizou a costureira do teatro para conseguir um ferro de passar. Até hoje algumas pessoas garantem que a própria Dora passou a calça de João, enquanto ele esperava tranqüilamente, de meias e cueca.

João entrou no palco com um violão emprestado por Billy Blanco. Ele aguardou o silêncio e cantou Samba da Minha Terra com Milton Banana na bateria e emendou com Corcovado e Desafinado, com Tom Jobim ao piano. Levou o Carnegie Hall ao delírio. Os aplausos não eram à toa: somente naquele ano, Desafinado tivera onze gravações nos Estados Unidos, uma delas a de um milhão de discos vendidos, com Stan Getz e Charlie Byrd.

Outro ponto alto do espetáculo foi a apresentação de Luiz Bonfá ao violão e Agostinho dos Santos cantando Manhã de Carnaval. Bonfá lembra que Agostinho, muito nervoso, abordou-o pouco antes do show começar: “Bonfá, você vai tocar Manhã de Carnaval”? Bonfá confirmou. “Posso cantar com você?”, pediu Agostinho. Bonfá, muito sem jeito, disse que não, já que o que estava combinado era que ele faria apenas um solo com o violão, e não queria se indispor com Sidney Frey. Agostinho não desistiu: “Não tem importância, você modula que depois eu entro...”. Depois de muita insistência, Bonfá cedeu: combinaram que ele faria primeiro uma introdução instrumental e depois anunciaria Agostinho. Mas quando o violonista começou a tocar, os aplausos abafaram o som. Agostinho, achando que já era sua hora, entrou. E acabou cantando desde o início, exatamente como queria. O Carnegie Hall aplaudiu de pé, e cravos vermelhos foram atirados ao palco.

Nos dias seguintes, alguns inimigos da Bossa Nova na imprensa brasileira noticiaram com fartura o “fracasso histórico” do show, A mentira e o exagero causaram uma repercussão tão negativa que Mário Dias Costa foi chamado pelo ministro das Relações Exteriores para explicar o que havia se passado. No entanto, o show havia sido filmado por uma equipe de TV americana. Dora Vasconcellos comprou o filme por 450 dólares e mandou-o para o Brasil na bagagem do radialista Walter Silva, o famoso Pica-pau. As TVs Continental e Tupi encarregaram-se de exibi-lo e a verdade veio à tona: o que se via era algo bem diferente do que a imprensa noticiara. Mostrava, por exemplo, a platéia aplaudindo entusiasticamente Tom, João, Bonfá, Agostinho dos Santos e os demais participantes do show.

Logo Depois do concerto no Carnegie Hall, vários brasileiros fecharam contratos para continuar por lá. João Gilberto assinou um contrato de três semanas com a Blue Angel e outro com a gravadora Verve para gravar um disco. Tom Jobim foi contratado como arranjador pela Leeds Corporation. O conjunto de Oscar Castro Neves foi para o Empire Room do Waldorf Astoria. Chico Feitosa foi convidado por Mel Tormé para assistir ao seu espetáculo em Nova Jersey.

Após a apresentação, no camarim, Chico ficou tocando suas músicas durante uma hora para Mel Tormé enquanto ele tirava a maquiagem. Tormé resolveu: “Quero gravar todas. Vamos nos encontrar na casa de Nesuhi Ertegun em Nova York depois de amanhã para acertar tudo”. Chico voltou para Nova York, caiu no redemoinho das festas para a Bossa Nova, esqueceu de Mel Tormé e voltou para o Brasil sem voltar a ligar para o grande cantor.

Duas semanas depois do Carnegie Hall, aconteceu um novo show de Bossa Nova nos Estados Unidos — que muita gente, como o próprio Carlos Lyra, garante ter sido o “verdadeiro” — no George Washington Auditorium, em Washington. Dele participaram Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Roberto Menescal, o Sexteto Sérgio Mendes, Sérgio Ricardo, o quarteto de Oscar Castro Neves, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos e Milton Banana. O grupo fechou sua apresentação em Washington, sendo recebido na Casa Branca.

Tom Jobim ficou em Nova York por nove meses, período em que foi considerado o melhor arranjador musical . pela National Academy of Recording Arts and Sciences, da qual recebeu seu primeiro troféu internacional. O prêmio foi concedido por causa dos arranjos do disco de João Gilberto que a Odeon havia enviado para os Estados Unidos. Em maio de 1963 Tom gravou Antonio Carlos Jobim — The Composer of Desafinado Plays, com doze músicas suas, entre elas Garota de Ipanema, que em breve seria o maior sucesso da Bossa Nova e da música brasileira no Exterior.

No final daquele ano também chegaria às lojas o disco Getz/Gilberto – Featuring Antonio Carlos Jobim, que em menos de um ano vendeu mais de dois milhões de exemplares. O principal êxito do disco foi The Girl from Ipanema, interpretada por Astrud Gilberto. Getz e Gilberto conheceram-se poucos dias depois do concerto no Carnegie Hall, num encontro do qual também participaram Tom Jobim e o produtor Creed Taylor, dono da Verve. A gravação do disco foi uma novela: João e Getz brigavam feitos cão e gato, o primeiro criticando a altura do sax do segundo, que por sua vez brigava com a voz sussurrada de João. Mesmo assim as oito faixas foram gravadas em apenas dois dias e o LP estourou nas paradas, conquistando vários prêmios Grammy.

Carlos Lyra também ficou algum tempo nos Estados Unidos, acompanhando o grupo de Stan Getz.“Ajudou muito o fato do Getz ser um músico ligado à Bossa Nova. Ele queria um elemento brasileiro que cantasse acompanhado pelo conjunto dele”, conta. Lyra cantava somente suas canções e era acompanhado por músicos da melhor qualidade: Getz no sax, Gary Burton no vibrafone e Chick Corea no piano. Juntos, apresentaram-se nos Estados Unidos, Japão, Europa, México, Canadá e até no Brasil. Quando se separou do grupo, Lyra continuou sua carreira no Exterior por conta própria.

O Carnegie Hall havia enfim provado que o evento tinha sido um sucesso na vida dos compositores e na vida da própria Bossa Nova. Apesar das críticas negativas ao show no Carnegie Hall, a Bossa Nova no Brasil estava mais forte do que nunca no início dos anos 60.

Incansáveis, os músicos não paravam de compor e novas parcerias surgiam da noite para o dia. Foi assim com Baden Powell e Vinícius de Moraes. Apresentado a Baden pelo empresário Nilo Queiroz, aluno do violonista, os dois acabaram passando três meses trancados na casa de Vinicius, onde beberam dezenas de garrafas de uísque e criaram 25 canções, entre elas Berimbau e Canto de Ossanha.

Em 1962, mesmo ano do Carnegie Hall, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto finalmente se reuniram para um espetáculo juntos. O antológico O encontro teve lugar na boate Au Bon Gourmet, em Copacabana. A temporada, prevista para um mês, acabou sendo prorrogada por mais duas semanas, tal foi o sucesso. Aquela foi a primeira vez que “o poetinha” cantou em público, e também foi a primeira vez que Garota de Ipanema foi apresentada num espetáculo. A música, que se tornaria um dos hinos da Bossa Nova em todo o mundo, foi composta por Tom alguns meses antes do espetáculo no Carnegie Hall, e Vinicius colocou a letra mais tarde, inspirado pela famosa garota que eles viram passar da varanda do Veloso, em Ipanema. Helô Pinheiro tinha apenas quinze anos na época. e costumava passar pela Rua Montenegro, atual Rua Vinícius de Moraes, a caminho do mar.

Na mesma época, João Gilberto lançou seu terceiro disco, que levava apenas seu nome, viajando em seguida para os Estados Unidos, onde passaria alguns anos sem gravar e até mesmo sem voltar ao Brasil. Entre 1963 e 1969, João Gilberto apresentou-se em várias cidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa, conquistando para sempre suas platéias. Em 1965, já separado de Astrud, conheceria em Paris sua segunda mulher, Miúcha Buarque de Holanda.

Aloysio de Oliveira resolveu sair da Odeon e, em 1963, criou sua própria gravadora, a Elenco, que se tornou reduto da Bossa Nova. As capas dos discos, sempre brancas e com fotos de Chico Pereira, tornaram-se uma marca registrada da gravadora.

Um personagem que marcou época na Bossa Nova foi o bailarino Lennie Dale, Ele chegou ao Brasil trazido por Carlos Machado para coreografar o show Elas Atacam pelo Telefone. Encantado com o Rio, Lennie foi ficando e se enturmou com os músicos do Beco das Garrafas, conseguindo convencê-los da importância dos ensaios para uma melhor performance profissional. Antes disso a improvisação costumava comandar os espetáculos. Lennie chegou inclusive a estrelar um espetáculo antológico, em que cantava O Pato com seu forte sotaque, segurando uma fruteira com um pato de verdade dentro. E foi Lennie também que resolveu inventar passos de dança para a Bossa Nova, já que na época qualquer novo ritmo musical sempre era associado a uma dança específica.

Neste início dos anos 60, já começava a se formar a segunda geração dos compositores da Bossa Nova, da qual fizeram parte, entre outros, Marcos Valle, Edu Lobo, Francis Hime, Pingarilho, e Antonio Adolfo. Mais tarde, ainda sob a influência do primeiro grupo, apareceram Milton Nascimento, Chico Buarque e Toquinho.

A cantora Elis Regina chegou ao Rio, vinda de Porto Alegre, em março de 1964. Ela já havia gravado três LPs na capital gaúcha: Viva a Brotolândia (1961), Poema (1962) e O Bem do Amor (1963), nos quais demonstrava a influência de sua maior admiração, Ângela Maria. Miéle e Bôscoli criaram para ela um pocket show no Little Club, do qual também participavam o conjunto Copa Trio, do baterista Dom Um, a bailarina Marly Tavares e o pandeirista Gaguinho. Lennie Dale encarregou-se de ensaiar a “baixinha”: foi dele a idéia de rodopiar os braços feito moinhos de vento, o que valeu a Elis o bem-humorado apelido de “Hélice” Regina.

Marcos Valle conta que a música sempre esteve presente em sua vida. “Estudei música clássica durante treze anos e meu interesse por música brasileira começou muito cedo, ainda criança”. Lembra ele, que, em 1958, quando surgiu Chega de Saudade, ainda era um adolescente de quinze anos e só tocava nas festinhas dos amigos. Através da cantora Tita, Marcos foi apresentado a Johnny Alf, “Ele achou que eu tinha talento e começou a freqüentar a minha casa e me estimulava muito”, lembra Marcos.

Mas sua atividade musical começou a crescer quando reencontrou Edu Lobo, amigo de infância do Colégio Santo Inácio, dentro de um ônibus. Edu comentou que estava tocando violão e que sempre se reunia com Dori Caymmi, filho de Dorival. Entusiasmado, Marcos resolveu se juntar aos dois e em breve eles formariam um trio vocal, com Edu e Dori nos violões e Marcos no piano. Edu Lobo frisa que, nesta época, nenhum deles pensava em música como uma profissão. “Eu já estava programado para estudar Direito e seguir carreira diplomática”, conta Edu, filho do jornalista e compositor Fernando Lobo. Mesmo assim, começaram a freqüentar as reuniões da Bossa Nova.

Marcos Valle da primeira vez em que esteve na casa de Ary Barroso: “Estava todo mundo lá, Vinicius, Carlos Lyra, Baden Powell. Eles eram meus ídolos e de repente eu estava ali, no meio deles”. Numa outra reunião, esta na casa de Vinicius, Marcos reencontrou Lula Freire, amigo de infância de seu irmão Paulo Sérgio. Quando, já no fim da noite, Marcos pegou o violão, Lula imediatamente o convidou para ir no dia seguinte á sua casa para apresentá-lo aos músicos do Tamba Trio de Luizinho Eça. Marcos foi, mostrou algumas de suas primeiras composições, Sonho de Maria, Razão do Amor e Vem o Sol, e Luizinho, que já estava com disco praticamente pronto, resolveu voltar ao estúdio para gravar uma das canções de Marcos que mais o havia encantado: Sonho de Maria.

Nesse mesmo dia Marcos foi apresentado a Carlos Lyra, Roberto Menescal, Luís Carlos Vinhas e Chico Feitosa. Menescal acabou levando-o aos Cariocas, que gravaram Vamos Amar, parceria com Edu Lobo, e Amor de Nada. No ano seguinte Marcos foi chamado para um teste na Odeon, gravadora na qual acabou ficando por doze anos. Seu primeiro disco, Marcos Valle Samba Demais, foi lançado em 1964.

Edu Lobo lembra que aquela época foi muito especial, e que talvez nunca mais se repita em nenhum lugar do mundo. “Bastava você trabalhar muito para que as coisas acontecessem”, conta Edu. A história de sua parceria com Vinicius é um exemplo. Edu Lobo conheceu Vinicius de Moraes numa festa na casa de Olívia Hime, em Petrópolis. “Ela me ligou no final da tarde e disse para eu ir ate lá, porque o Vinicius também estava indo. Eu nunca tinha visto o Vinicius antes, a não ser em shows, e fui correndo”, lembra. Na festa, Edu pegou o violão e começou a tocar algumas músicas. Vinicius, interessado, perguntou se ele não teria uma música nova, ainda sem letra. Edu tinha. Mostrou a música e Vinicius perguntou se poderia fazer a letra. “Dormi aquela noite sem acreditar e no dia seguinte, quando eu acordei, era parceiro do Vinicius de Moraes! Esse tipo de coisa não acontece em lugar nenhum do mundo. Se um grande letrista americano, por exemplo, encontrar um jovem compositor, antes de começar a parceria ele no mínimo vai ligar para o advogado”, garante Edu.

A música em questão era Só me fez bem. “Isso foi mais que um prêmio, mais que qualquer empurrão”, lembra Edu, que ainda nessa época não pretendia seguir carreira musical. “Eu fazia música como quem pega onda, era uma coisa da geração. Inclusive muita gente, que tocava bem na época, hoje em dia faz outra coisa”, diz.

Edu atualmente acha inacreditável a facilidade que se tinha de entrar nas casas de pessoas públicas como Vinicius e Tom Jobim. “A gente ficava só olhando enquanto eles trabalhavam. Na casa do Tom, eu tocava a campainha e entrava, a Teresa trazia um cafezinho e eu ficava ali, feliz da vida, só ouvindo. E eles deixavam. Era como se fosse uma escola”, garante.

Musicalmente, no entanto, tanto Edu Lobo quanto Marcos Valle já começavam a trilhar seus próprios caminhos. Apesar da influência explícita da Bossa Nova, a inovação chegava através da versatilidade em termos de ritmo e principalmente nas letras, que começaram a apresentar mais temas políticos, deixando de lado a máxima “amor, sorriso e flor” da primeira geração da Bossa Nova. Marcos Valle, um dos primeiros surfistas cariocas, chegou a compor várias canções ligadas ao mar. O clima para músicas de fundo social começou a crescer no meio artístico como uma forma de protesto contra o sistema político vigente. Várias canções foram censuradas e outras tiveram frases mutiladas, o que só serviu para aumentar mais ainda a curiosidade e o prestígio das mesmas.

Ainda em 1963, após muito hesitar, Nara Leão aceita o convite de Carlos Lyra e Vinicius para estrelar a Pobre Menina Rica, no Au Bon Gourmet. Entre as canções do espetáculo, todas compostas pela dupla, estavam Samba do Carioca, Sabe Você?, Pau de Arara, Maria Moita e Primavera. A temporada, de apenas três semanas, foi um sucesso. Nara havia começado um namoro com o cineasta Ruy Guerra, também letrista e parceiro de Edu Lobo.

Carlos Lyra, na época, estava mergulhado em pesquisas sobre a música dos velhos sambistas do morro, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Keti, tentando inclusive compor com alguns deles. O disco Nara, lançado pela Elenco em 1963, reunia composições como Diz Que Vou Por Aí de Zé Keti, O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, e Luz Negra. de Nelson Cavaquinho, além de Feio não é Bonito e Maria Moita, de Lyra, Berimbau e Consolação, de Baden e Vinicius, Nanã, de Moacyr Santos, e Canção da Terra e Réquiem para um Amor, de Edu Lobo e Ruv Guerra. Quando o disco saiu, Nara foi ferozmente atacada por alguns críticos, mas seu novo estilo acabou agradando.

Em janeiro de 1964 ela fez uma temporada no Bottle’s, e poucos meses depois partiu para o Japão com o trio de Sérgio Neto e Edison Machado. Quando voltou ao Brasil assinou com a Philips para gravar o Opinião. No repertório, Derradeira Primavera de Tom e Vinicius, Em tempo de Adeus, de Edu Lobo e Ruy Guerra, Opinião e Acender as Velas, de Zé Keti, entre outras composições que iam de capoeiras do folclore baiano. Nara estava fugindo de Ipanema, e o disco causou enorme polêmica, tendo sido considerado na época totalmente anti-Bossa Nova. Logo ela estrearia o show Opinião, de Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, dirigido por Augusto Boal, e acompanhada por Zé Keti e João do Vale, no Teatro de Arena da Rua Siqueira Campos em Copacabana. O espetáculo, em toda a sua temporada, teve grande sucesso. E Nara passaria a ser a musa de outro movimento: o protesto da nova geração universitária.

Nesta época começaram a surgir os festivais da canção, que permitiam uma maior liberdade de composição. A partir de 1965, vários festivais começaram a acontecer nas emissoras Excelsior, Tupi e Record. Em 1966, Tom Jobim, já de volta ao Brasil após todo sucesso no Exterior, estava tomando tranqüilamente seu chopp no bar Veloso, em Ipanema. O telefone do bar tocou. Tom foi chamado e do outro lado da linha estava ninguém menos que Frank Sinatra, diretamente dos Estados Unidos, convidando-o para gravarem juntos um disco. Foi um encontro de gênios: O LP chamado Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, foi escolhido por unanimidade pela crítica especializada dos Estados Unidos como o álbum vocal do ano. Em 1967, o disco só perdeu em vendagem para os Beatles, que haviam acabado de lançar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Mais tarde, já em 1968, Marcos Valle estourou em todas as paradas com a Viola Enluarada. E é ele quem conta como compôs a música: “Eu estava nos Estados Unidos, em 1967, participando de espetáculos e programas de televisão. E aquela saudade batendo. Fui gravar um disco em Nova York com arranjos do Eumir Deodato. Saudoso demais do Brasil, um dia entrei no banho e me veio, embaixo d’água, a melodia completa de Viola Enluarada na cabeça. Foi um ato de saudade, por isso ela é tão brasileira e tão triste também. Quando voltei ao Brasil, conheci o Milton Nascimento. Promoveram um encontro na casa do Tom para a gente se conhecer. Ele era meu fã, e eu dele. Neste encontro, toquei Viola Enluarada ainda sem letra. Todos adoraram a música e inclusive me disseram que deveria ser gravada sem letra. Mas eu preferi pedir ao Paulo Sérgio para fazer a letra. Quando ele me mostrou, fiquei um pouco na dúvida se a letra deveria ser aquela mesma, mas acabei concordando, e realmente o conjunto de letra e música deu supercerto.”

Marcos lembra que, antes de ser sucesso de público e disco Viola Enluarada já era sucesso no meio artístico e era item obrigatório nas rodas de violão e nos shows. No espetáculo do Quarteto em Cy, por exemplo, Juscelino Kubitschek em pessoa levantou-se e cantou a plenos pulmões o refrão “Liberdade”. Logo Marcos Valle convidou Milton Nascimento para gravar música, que rapidamente estouraria nas paradas.

Mais ou menos na mesma época, Marcos Valle foi convidado para participar do programa Almoço com as Estrelas, comandado por Aerton Perlingeiro na TV Tupi. Marcos seria agraciado com o prêmio Velho Capitão uma estatueta com a imagem de Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados e da TV Tupi. “Eu resolvi convidar o meu irmão Paulo Sérgio, já que ele era meu parceiro. O Paulo Sérgio se sentou num canto da mesa. meio escondido, e ficou observando tudo. Quando o Aerton anunciou o prêmio, eu comecei a agradecer e disse que também queria oferecer o prêmio ao meu irmão. Quando eu falei isso, o Paulo Sérgio já se levantou. Mas antes que ele chegasse perto, o Perlingeiro disse: ‘De jeito nenhum!’ Ficou aquele clima, o Paulo Sérgio já voltou pro lugar dele, e o Perlingeiro continuou: ‘Não senhor, o prêmio é seu. Quando o seu irmão merecer um, ele vai ganhar!’ Depois a gente chorava de rir e até hoje eu não sei se o Aerton viu que o Paulo Sérgio estava ali”, lembra Marcos.

Poucos anos depois, o Brasil veria o surgimento de outro movimento importante: o Tropicalismo dos baianos Caetano, Gil e cia. Mas a verdade é que nunca um movimento musical influenciou tantos músicos em tantas partes do mundo como a Bossa Nova.

Era incontestável que a música brasileira havia mudado, e para muito melhor. O respeito com que os compositores e músicos brasileiros começaram a ser tratados no Exterior era a prova do sucesso absoluto da Bossa Nova. O mercado internacional abria-se para o grupo de jovens amadores e seus seguidores, que haviam conquistado pela primeira um lugar de destaque para a música brasileira, livre de sotaques, batucadas e cachos de bananas.

Em curto espaço de tempo, Antonio Carlos Jobim já era conhecido e consagrado como um dos maiores compositores do mundo. A gravação do seu disco com Frank Sinatra cantando suas músicas e músicas americanas no embalo da Bossa Nova era o reconhecimento da definitiva influência da moderna música brasileira.

O violonista Baden Powell foi morar em Paris, e tanto na França como na Alemanha gravou inúmeros discos. O violonista pernambucano Cussy de Almeida morava em Genebra, Suíça, e chegou a ser o primeiro violino da orquestra Suisse Romande. Voltando ao Brasil encantou-se pela Bossa Nova. Viajava freqüentemente ao Rio de Janeiro, onde conheceu diversos personagens da Bossa Nova, terminando por gravar um belíssimo disco (O Mergulhador) de violino e violão com Candinho.

Também para Paris mudou-se o violonista e cantor Normando. Carlinhos Lyra foi para os Estados Unidos e México onde viveu e trabalhou com grande prestígio. O pianista e compositor Eumir Deodato radicou-se em Nova York, onde ganhou diversos prêmios e discos de ouro, sendo considerado um dos maiores arranjadores pelos músicos americanos. Sérgio Mendes, há anos com o seu espetacular som característico, já é uma instituição no cenário da música nternacional.

João Gilberto transformou-se em símbolo e padrão de qualidade de interpretação. Astrud mora na Filadélfia e será sempre a suave “Garota de Ipanema”.

Edu Lobo, Dori Caymmi e Marcos Valle deixaram a marca de sua presença em todos os locais em que a Bossa Nova é ouvida. Vinícius de Moraes, o poeta dos poetas, correu mundo contando e cantando sua poesia, e por algum tempo chegou a morar na Itália, onde fez enorme sucesso.

Oscar Castro Neves fixou residência em Los Angeles como notável arranjador e instrumentista. Roberto Menescal, dono de uma obra que é parte fundamental do acervo da Bossa Nova, fez diversos shows pelo mundo, e além da música tornou-se um dos maiores experts em bromélias no Brasil.

Moacyr Santos e Don Salvador fizeram da América sua opção de vida e trabalho. A batida do violão e dos ritmistas Juquinha, Hélcio Milito, João Palma, Milton Banana, Paulinho Magalhães, Chico Batera, Edson Machado, Toninho Pinheiro, Ronnie Mesquita, Paulinho Braga, Ruben Bassini e Dom Um Romão, abriu no Exterior o caminho para que os percussionistas de vários países acompanhassem a Bossa Nova, que saiu das noites de Copacabana e Ipanema para as luzes internacionais.

De um cantinho e um violão para as grandes platéias e orquestras do mundo. E 40 anos depois do seu nascimento, a riqueza, a suavidade e o encanto da Bossa Nova não se encontrou nada que a superasse.

Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.

Capítulos anteriores desta saga: A história da Bossa Nova - Parte 1; A história da Bossa Nova - Parte 2; A história da Bossa Nova - Parte 3. Veja também em Bossa Nova: Agostinho dos Santos / Alaíde Costa / Aloysio de Oliveira / Baden Powell / Billy Blanco / Bossa Nova, Dicionário da / Bossa Nova, mais letras / Cariocas, Os / Carlos Lyra / Chico Feitosa / Edu Lobo / Elizeth Cardoso / João Gilberto / Johnny Alf / Leila Pinheiro / Luiz Bonfá / Lula Freire / Maysa / Nara Leão / Newton Mendonça / Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli / Sylvia Telles / Tom Jobim / Vinícius de Moraes.

Canhoto da Paraíba

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Não são poucos os violonistas canhotos no Brasil. Alguns deles, com status de estrelas de primeiríssima grandeza (como o paulista Américo Giacomino, o Canhoto, o maior nome do instrumento no início do século), deram importantes contribuições para a fixação do violão como o mais brasileiro dos nossos instrumentos populares. Mas todos eles necessitavam inverter as cordas para aprender; primas para cima, bordões para baixo, de maneira que somente canhotos pudessem dedilhar o instrumento. Todos, menos um.

No alto sertão paraibano, na lendária cidade de Princesa Isabel (onde "pau-pereira já roncou", como cantava Luiz Gonzaga), entre nove irmãos, nasceu Francisco Soares de Araújo, em 19 de maio de 1928. O avô era clarinetista da banda, o pai tocava violão, os irmãos distribuíam-se entre vários instrumentos e logo o Chico começou a tocar todos eles, por conta própria. Tanto assim que, já adolescente, tomou puxão de orelha de "seu" vigário, que tolerava a maneira suingada como seu pequeno sacristão tocava os sinos, mas não perdoou quando o flagrou rasgando o frevo Vassourinhas, no... órgão da igreja.

Mas Chico gostava mesmo era de violão. O problema é que para ensiná-lo "só mesmo na frente do espelho", como dizia seu pai, quando desanimou da tarefa. Canhoto irreversível, tratou de aprender sozinho. Como o instrumento era usado pela família toda, não podia inverter as cordas, o negócio era simplesmente virá-lo ao contrario, de cabeça para baixo e...tocar.

Tocar magistralmente, a ponto de em pouco tempo a confraria dos gênios musicais brasileiros saber dele. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tia Amélia, Severino Araújo, Dilermando Reis já sabiam que pelo Nordeste - agora já adulto, tocando no Regional da Rádio Jornal do Comercio do Recife, depois de estágio nas mesmas funções na Rádio Tabajara, de João Pessoa - existia um violonista fora de série, à altura dos melhores do país.

Em 1959, visita o Rio de Janeiro e em um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, torna-se amigo de todos os seus ídolos, principalmente do jovem Paulinho da Viola, que o homenageia com o choro Abraçando o Chico Soares. Nunca quis fazer carreira no Sul, mesmo tendo gravado um LP (produzido por Paulinho), preferindo continuar sua vida de "chorão" ao lado dos amigos no Recife.

Tão bom compositor quanto intérprete, Canhoto da Paraíba - nome com que se inscreveu definitivamente na história do violão brasileiro - realizou algumas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, exibindo um talento que sempre deixou um gosto de "quero mais" nos que tiveram contato com ele.

Arley Pereira
ENSAIO - 12/4/1994

Zimbo Trio

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"Formado pelo paulista de Bauru, Amílton Godoi (nascido em 1941), ao piano, o paraense de Belém, Luís Chaves (1931), no contrabaixo, e o paulistano Rubinho, Rubens Barsotti (1932), o Zimbo Trio surgiu em São Paulo em plena efervescência da bossa nova, em 1964.
Na epidemia de trios instrumentais do período, ele logo se destacou numa ninhada de cobras que trazia entre muitos os depurados Tamba Trio (Luís Eça, Bebeto, Hélcio Milito), Bossa 3 (Luís Carlos Vinhas, Tião Netto, Edison Machado) e Sambalanço Trio (César Camargo Mariano, Humberto Cleiber e Airto Moreira).
Lançado num show na boate Oásis, em São Paulo, ao lado da cantora e atriz Norma Benguel, o Zimbo alcançaria sucesso nos grandes shows de origem universitária que tomavam a cidade, incluindo o clássico O Fino da Bossa, do qual sairia o programa homônimo da TV Record comandado por Elis Regina.
A pegada vigorosa de arquitetura clássica do piano de Amílton (de formação erudita, estudou na escola de Magda Tagliaferro), o baixo conciso de Luís Chaves e a bateria sutil de Rubinho (que também solava sem as baquetas, utilizando as caixas como tumbadoras) transformaram-se em uma grife de qualidade instrumental capaz de erguer uma ponte entre as dissensões da MPB na época.
O arranjo do ZT para Garota de Ipanema (que eles foram um dos primeiros a gravar) era número imprescindível em suas apresentações. Por isso, eles tanto eram convocados ao programa O Fino, de Elis (com quem gravariam o memorável disco O Fino do Fino, de 1965) quanto ao tradicionalista Bossaudade, de Elizeth Cardoso, com quem excursionariam pelo Japão, além de gravar dois discos ao vivo na boate carioca Sucata, em 1969 e 1970.
Ao lado de Elizeth e seu descobridor, Jacob do Bandolim, o Zimbo ainda participaria de um dos shows mais importantes já realizados no país, no teatro João Caetano no Rio, em fevereiro de 1968, sob a direção de Hermínio Bello de Carvalho. O encontro da bossa modernizadora do trio com o choro nada conservador do exímio Jacob, unidos pela eternidade vocal de Elizeth, virou marco histórico, editado em nada menos de três LPs.
Ao longo de uma carreira de inúmeras excursões ao exterior, o grupo ainda difundiu seu saber fundando em 1973 o CLAM (Centro Livre de Aprendizado Musical), por onde passaram feras como a pianista paulista Eliane Elias, hoje uma renomada jazzista nos EUA, onde está radicada desde os 80.
Em 1974, ao lado da Orquestra Sinfônica de Buenos Aires eles provaram sua ressonância erudita atuando no Pequeno Concerto para o Zimbo Trio, escrito especialmente para eles pelo maestro Ciro Pereira. Com vários discos gravados ao lado de solistas instrumentais (Canhoto da Paraíba, Hector Costita, Heraldo do Monte e até o saxofonista de jazz americano Sonny Stitt) e centrados em repertórios de grandes autores (Milton Nascimento, Tom Jobim) à alta qualidade o Zimbo Trio aliou a façanha de ter resistido a todas os movimentos em um trajeto de longevidade à prova de modismos."
Tárik de Souza
ENSAIO - 28/4/1994

Roberto Ribeiro

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"As escolas de samba vivem um paradoxo: são um celeiro de cantores, popularmente chamados de "puxadores", mas raros fazem sucesso fora das quadras. Uma das exceções é José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, da Mangueira, cantor, intérprete de samba-enredo – jamais um "puxador", como se recusa a ser chamado.

Outro dos raros exemplos é Roberto Ribeiro – assim mesmo com o verbo no presente, pois Roberto continua vivo nas gravações (poderiam ser em maior número), vídeos (raros). E principalmente na lembrança de quem ouviu aquela voz de timbre muito especial.

Nascido Demerval Miranda Maciel, Roberto é sinônimo de Império Serrano, ao lado do maior compositor de sambas-enredos da história, Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade, Tiradentes), de Mano Décio da Viola (parceiro de Silas), Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, e por aí vai. Além de puxador, Roberto era da ala de compositores da escola – chegou a fazer dois sambas para a avenida.

A voz translúcida de Roberto Ribeiro deixou para sempre o registro de algumas obras-primas de Silas, além de jongos – uma das marcas registradas do morro da Serrinha – e uma fieira de belíssimos sambas de terreiro. Uma das duas melhores gravações de Senhora Tentação (Meu Drama), de Silas, é dele. A outra é de Cartola.

Roberto teve ainda a sensibilidade de deixar registrado um samba-enredo que, apesar de não ter sido o escolhido na quadra para ir à avenida, no carnaval de 1975, durante anos foi cantado nas rodas. A divulgação do samba era feita espontaneamente nos bares e biroscas do Rio. Vedete de Madureira ("Brilhando / num imenso cenário...") sobreviveu durante muito tempo sem estar gravado. Com Roberto Ribeiro, garantiu a perpetuidade.

Puxador de samba na avenida, aos poucos Roberto conquistou palcos e estúdios. Mas nunca se desligou da Serrinha. Nos dias de desfile do Império podia ser visto no asfalto com terno de linho branco, camisa verde e óculos escuros, para proteger a vista, atacada por uma doença irreversível.

Fluminense de Campos, morreu em 1996, vítima de um atropelamento. Foi-se muito cedo, aos 55 anos de idade. Seguiu o destino de Silas, que, em 1972, aos 56, sofreu enfarte fulminante depois de cantar sambas seus em uma roda em Botafogo. Roberto Ribeiro estava presente. Continua presente."

Aluizio Maranhão
ENSAIO - 29/1/1991

Rildo Hora

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Rildo Hora (Rildo Alexandre Barreto da Hora), instrumentista, compositor e cantor, nasceu em Caruaru PE em 20/4/1 939. Começou a tocar gaita-de-boca aos seis anos, quando foi morar no subúrbio carioca de Madureira.
Autodidata, desenvolveu sua técnica tocando chorinhos, frevos e outras músicas populares que ouvia no rádio. Aos 12 anos venceu concurso das Gaitas Hering, na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro, e foi convidado pelo apresentador do programa, Fred Williams (também gaitista), a integrar a equipe da emissora.
Convidado por Moleque Saci (Caué Filho), participou de shows circenses, acompanhando cantores ao cavaquinho — que também tocava desde os 14 anos — e, como solista, tocando gaita. Tomou parte também do programa Festival de Gaitas, na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.
Em 1958 formou com Sérgio Leite e Luís Guimarães o trio Malabaristas da Gaita, aproveitando a grande aceitação do instrumento nos programas radiofônicos. No ano seguinte, fez sua primeira composição, com Gracindo Júnior, Brigamos com o amor, gravada por Carminha Mascarenhas. Na época da bossa nova, passou também a tocar violão e a cantar.
Em 1961 — época em que trabalhava na boate carioca Cangaceiro —, compôs com Clóvis Melo Canção que nasceu do amor, lançada por Cauby Peixoto, regravada mais tarde por Elisete Cardoso. No ano seguinte, Alaíde Costa gravou, dele e Gracindo Júnior, Como eu gosto de você, arranjo de César Camargo Mariano.
Acompanhou Elisete Cardoso como violonista em shows por todo o Brasil, de 1965 a 1967. No ano seguinte, quando era cantor e professor de violão, iniciou carreira de produtor de discos, aceitando o convite de Geraldo Santos para trabalhar na RCA; sua primeira produção foi o LP Música nossa, seguida dos discos de Antônio Carlos e Jocafi, João Bosco, Martinho da Vila e Maria Creuza.
Estudou então harmonia, contraponto e composição na Pró-Arte, com o maestro Guerra-Peixe. Compôs com Sérgio Cabral Janelas azuis, gravada em 1973 por Maria Creuza. Em 1987 executou na Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, o Concerto para harmônica e orquestra, de Villa-Lobos, sob regência do maestro Davi Machado.
Em 1988 interpretou Suíte quatro cordas, de Guerra-Peixe, obra escrita e orquestrada especialmente para ele. Em 1992 lançou o CD Espraiado, pela gravadora Caju, que, distribuído nos EUA pela etiqueta Milestone, em 1994, foi considerado um dos dez melhores discos de jazz latino do ano.
Além de ter mais de 200 composições gravadas, é arranjador e produtor de discos de artistas como Martinho da Vila (de quem é produtor desde 1970), Beth Carvalho, Leni Andrade e Elis Regina, tendo recebido vários prêmios. Também participou como instrumentista de discos de inúmeros artistas. Já se apresentou nos E.U.A., Argentina, Angola, Moçambique e países europeus.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha

Paulinho da Viola

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Paulinho da Viola

Paulinho da Viola (Paulo Cesar Batista de Faria), compositor, cantor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro em 12/11/1942. Seu pai, o violonista César Faria, que fez parte do conjunto Época de Ouro, sempre trazia para tocar em sua casa os grandes chorões da época, como Pixinguinha e Jacó do Bandolim, mas não desejava que seu filho fosse músico.
Este, no entanto, convenceu-o a dar-lhe um violão, instrumento que começou a aprender sozinho e, depois, com Zé Maria, amigo da família. Residindo no bairro de Botafogo, todos os fins de semana ia visitar sua tia em Jacarepaguá, onde tinha mais liberdade para sair à noite e ouvir mÚsica. Por essa época, chegou a organizar um bloco carnavalesco, Foliões da Anália Franco, que mais tarde se transformou em conjunto, e no qual tocava violão.
A primeira escola de samba que freqüentou foi a União de Jacarepaguá, onde conheceu sambistas como Jorge Mexeu e Catoni. Compôs seu primeiro samba, Pode ser ilusão, em 1962, quando já pertencia à ala dos compositores da escola e tocava cavaquinho. No ano seguinte, foi convidado a mudar de escola por seu primo Oscar Bigode, diretor de bateria do G.R.E.S. da Portela, que o levou para conhecer os membros da ala dos compositores. Na ocasião, mostrou a primeira parte de um samba que estava fazendo, e Casquinha, um dos grandes compositores da Portela, gostou, completando Recado.
Passou então para a Portela, escola que defendeu com seus sambas, preocupando- se também em conservar-se o mais fiel possivel à sua raiz popular. Nesse penedo, estudava contabilidade e trabalhava numa agência bancária, onde um dia reconheceu o poeta Herminio Belo de Carvalho, que freqüentava as rodas de choro; este se tornou grande incentivador de sua carreira, nascendo dai nova parceria.
Ainda em 1963, o poeta apresentou-o a Cartola, compositor da Mangueira, ídolo que influenciou sua obra no inicio da carreira. Cartola e sua mulher, Zica, tinham um restaurante (Zicartola) onde se apresentavam diversos sambistas. Ai, passou a acompanhar, no violão ou cavaquinho, compositores e cantores, apresentando-se tambem cantando música de outros autores. Depois de fazer um show com o compositor Zé Kéti, foi por ele incentivado a cantar suas próprias músicas no Zicartola. Um ano depois, decidiu abandonar o emprego de bancário e dedicar-se definitivamente à música.
Em 1965, já com o nome de Paulinho da Viola, que lhe fora dado por Sérgio Cabral e Zé Kéti, participou com mais quatro sambistas (Elton Medeiros, Nelson Sargento, Nescarzinho do Salgueiro e Jair do Cavaquinho) do musical, montado por Hermínio Belo de Carvalho, Rosa de ouro. O musical foi montado inicialmente no Teatro Jovem, do Rio de Janeiro, indo depois para São Paulo SP e Salvador BA, representando grande passo em sua carreira, com a gravação, naquele mesmo ano, pela Odeon, do LP Rosa de ouro, volume 1.
Também em 1965, seu nome apareceu em mais dois LPs, Roda de samba, volumes I e II, da Musidisc: a pedido dessa gravadora, Zé Kéti organizara o conjunto A Voz do Morro, com sambistas do Rosa de Ouro, acrescido dele próprio, de Oscar Bigode e Zé Cruz, que fazia ritmo num chapéu de palha. No primeiro disco — do qual não participou Nelson Sargento — apareciam três sambas seus, Coração vulgar, Conversa de malandro e Jurar com lágrimas. No segundo LP, que incluiu Nelson Sargento, aparecem outros dois sambas seus: Recado e Responsabilidade. Por essa época, ja era conhecido também como cantor.
Em 1966, seu samba-enredo Memórias de um sargento de milícias venceu pela Portela; no mesmo ano, gravou o terceiro LP com o conjunto A Voz do Morro e também gravou com Elton Medeiros o LP Na madrugada, que incluia seus sambas Arvoredo, Catorze anos, Momento de fraqueza, Minhas madrugadas (com Candeia) e Jurar com lágrimas, ambos pela RGE. Mudou-se nessa epoca para o Solar da Fossa, onde moravam vários compositores em inicio de carreira. Aí, conviveu com o grupo baiano Gilberto Gil, Caetano Veloso, Capinam, entre outros —, conhecendo o trabalho que desenvolviam. Nesse mesmo ano, participou do II FMPB, da TV Record, de São Paulo, quando sua composição (com Capinam) Canção para Maria, interpretada por Jair Rodrigues, obteve o terceiro lugar.
Ainda em 1966, com seu amigo e parceiro Elton Medeiros, acompanhou Clementina de Jesus no Festival de Arte Negra em Dacar, Senegal. Em 1967 foi lançado o LP Rosa de ouro, volume II, pela Odeon. No ano seguinte, seu samba Coisas do mundo, minha nega foi classificado em sexto lugar na I Bienal do Samba (Teatro Paramount, São Paulo), defendido por ele próprio.
Em 1968 gravou na Odeon seu primeiro LP individual, Paulinho da Viola. No mesmo ano, compôs com Herminio Belo de Carvalho o samba Sei lá, Mangueira, que foi inscrito no IV FMPB e, defendido por Elza Soares, classificou-se entre os finalistas, acabando por criar um problema com a Portela, pois o tema era a Mangueira. No ano seguinte, no V FMPB, obteve o primeiro lugar com Sinal fechado, composição que revela outra face de sua obra, musicalmente mais elaborada e resultante de pesquisas a que também se dedicava.
Em 1970 obteve grande sucesso no Carnaval, com sua homenagem à Portela, Foi um rio que passou em minha vida, que fez parte do LP do mesmo nome lançado naquele ano pela Odeon. Ainda em 1970, produziu um LP pela RGE Portela, passado de glória, em que foram reunidos os velhos compositores da escola, entre eles seu pai tocando violão.
Em 1971 lançou mais um LP pela Odeon, no qual presta homenagem a Nelson Cavaquinho com o samba Sol e pedra. Relembrou-o ainda na II Bienal do Samba, quando tocou beliscando as cordas, como fazia Nelson Cavaquinho. Em 1972 lançou outro LP pela Odeon, Dança da solidão, e, em novembro, apresentou-se na então R.F.A. e na Áustria, com Maria Betânia, Terra Trio, Sebastião Tapajós, iorge Arena e Pedro Sorongo.
Um ano depois fez um show com Sérgio Cabral, o Sarau, no Teatro da Lagoa, Rio de Janeiro, em que se apresentou com o conjunto Época de Ouro, concretizando velha idéia sua de reafirmar o choro na música popular brasileira. Ainda em 1973, foi lançado seu LP Nervos de aço pela Odeon, em que aparecem Choro negro (com Fernando Costa) e Comprimido, entre outros, confirmando a versatilidade de sua obra.
Durante o ano de 1974, dedicou- se a apresentações em todo o pais e, no ano seguinte, com Outros compositores e críticos, participou da fundação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro. Ainda em 1975, lançou Outro LP, o Amor a natureza, pela Odeon. No ano seguinte, lançou o álbum duplo Memórias 1: cantando e Memórias 2: chorando (EMI). Em 1977 lançou o LP Paulinho da Viola e, no ano seguinte, outro LP com mesmo titulo, em que apresenta Coração leviano, Sentimento perdido e Sofrer, entre outras.
Em 1979 lançou Zumbido (EMI), no qual voltou a gravar composições de Wilson Batista, como Chico Brito. Lançou em 1981 mais um LP com o título de Paulinho da Viola (WEA). Em 1982 lançou o LP A toda hora rola uma estória (EMI). O CD Eu canto samba (RCA) saiu em 1989 e, nele, além da música-título, destacam-se O tímido e a manequim e Quando bate uma saudade.
Em 1994 abriu o Heineken Concerts, no Palace, São Paulo, com Canhoto da Paraíba, Gilberto Gil e a Velha Guarda da Portela. No mesmo ano, Mansa Monte regravou Dança da solidão, no CD Cor-de-rosa e carvão. Em 1995, a Musidisc relançou em CD seu primeiro LP, Roda de samba. Na mesma ocasião, a EMI relançou em CD Paulinho da Viola (de 1975) e, pela Série 2 em 1, Memórias 1: cantando e Memórias 2: chorando (de 1976), Nervos de aço (de 1973) e Paulinho da Viola (de 1978).
Em 1996, a EMI reeditou em CD 11 LPs esgotados, lançados pela Odeon. No inicio do ano, participou de um show de fim de ano na praia de Copacabana, ao lado de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Gal Costa e Milton Nascimento, seguindo-se grande polêmica por ter ele recebido um cachê três vezes menor do que os outros artistas. Ainda em 1996, após oito anos sem gravar, lançou pela BMG o CD Bebadosamba. O CD, que lhe rendeu seu primeiro disco de ouro pelas 100 mil cópias vendidas, também deu origem a um show homônimo, eleito como um dos melhores do ano.
Ainda em 1996, lançou o CD duplo Bebadachama, gravado ao vivo durante apresentação ao lado de seu pai, em um show no Tom Brasil, em São Paulo, premiado como o melhor do ano pela APCA. Em maio de 1997, a RGE relançou em CD dois de seus primeiros discos: Na madrugada (com Elton Medeiros) e A voz do morro.
Obra
Abraçando Chico Soares, samba, 1971; Abre os teus olhos, 1976; O acaso não tem pressa, samba, 1971; Alô, alô, samba, 1966; Ame (c/Elton Medeiros), 1996; Amor à natureza, samba, 1975; Amor é assim, 1979; Amor é de lei (c/Sérgio Natureza), 1979; Ansiedade, samba, 1968; Aquela felicidade, 1979; Argumento, samba, 1975; Arvoredo, samba, 1966; Bebadosamba, 1996; Beliscando, 1976; Brancas e pretas (c/Sérgio Natureza), 1982; Canção para Maria (c/Capinam), samba-canção, 1966; Cantando, 1976; Cantoria (c/Hermínio Belo de Carvalho), 1989; O Carnaval acabou, 1976; Um caso perdido, 1989; Catorze anos, samba, 1966; Um certo dia para 21, samba, 1971; Choro de memórias, 1976; Choro negro (c/Fernando Costa), choro, 1973; Chuva, samba, 1974; Cidade submersa, samba, 1973; Coisas do mundo, minha nega, samba, 1969; Comprimido, samba, 1973; Conversa de malandro, samba, 1965; Coração da gente, 1981; Coração imprudente (c/Capinam), samba, 1971; Coração leviano, 1978; Coração vulgar, samba, 1965; Crotalus terrificus (c/Arrigo Barnabé), 1983; Da vida eu não sei, samba, 1966; Dama de “espadas”, 1996; Dança da solidão, samba, 1972; Depois de tanto amor, samba, 1966; Deixa pra lá, 1979; Dívidas (c/Elton Medeiros), 1976; Dona Santina e seu Antenor, samba, 1971; É difícil viver assim, 1996; Ela vem com as cartas marcadas e diz, 1996; Encontro, 1968; Essa nega pede mais, samba, 1973; Estamos noutra (c/Elton Medeiros), 1989; Estou marcado, samba, 1970; Eu canto samba, 1989; Feito passarinho (c/Salgado Maranhão), 1981; Flor esquecida, 1981; Foi demais (c/Mauro Duarte), 1979; Foi um rio que passou em minha vida, samba, 1970; Fulaninha, 1989; A gente esquece, samba, 1968, Guardei minha viola, samba, 1972; Inesquecível, 1976; Ironia, samba, 1972; Jurar com lágrimas, samba, 1965; Ladeira do chapelão, 1981; Lua, 1981; Mar grande (c/Sérgio Natureza), 1996; Maré mansa (c/Martinho da Vila), samba, 1974; Mariana, samba, 1975; Memórias conjugais, 1996; Memórias de um sargento de milícias, samba-enredo, 1966; Mensagem de adeus, samba, 1975; Mesmo sem alegria, samba, 1970; Meu novo sapato, 1976; Meu violão, 1982; Minhas madrugadas (c/Candeia), samba, 1966; Moema morenou (c/Elton Medeiros), samba, 1971; Momento de fraqueza, samba, 1966; Muito pessoal, samba, 1966; Na linha do mar, samba, 1973; Nada de novo, samba, 1969; Nada se perdeu, samba, 1975; Não é assim, 1982; Não leve a mal, samba, 1973; Não posso negar, 1979; Não quero vingança, 1981; Não quero você assim, samba, 1970; Nas ondas da noite, samba, 1971; No Carnaval da paixão, 1989; No pagode do Vavá, samba, 1972; Nossa alegria (c/Elton Medeiros), samba, 1974; Num samba curto, samba, 1971; Nuvem Mariana das ruas, samba, 1975; Olhar indiferente, samba, 1966; Onde a dor não tem razão (c/Elton Medeiros), 1981; Oração de Outono, 1976; Orgulho (c/Capinam), samba, 1972; Papo furado, samba, 1970; Para jogar no oceano, 1981; Para não contrariar você, samba, 1970; Para um amor no Recife, samba, 1971; Para ver as meninas, samba, 1971; Perder e ganhar, samba, 1971; Perdoa, 1976; Pintou um bode, 1989; Pode guardar as panelas, 1979; Pra fugir da saudade (c/Elton Medeiros), 1982; Pra que obedecer, samba, 1970; O pranto deste mundo (c/Herminio Belo de Carvalho), samba, 1972; Pressentimento, samba, 1970; Quando bate uma saudade, 1989; Quando o samba chama, 1996; Quem sabe um dia?, samba-canção, 1965; Recado (c/Casquinha), samba, 1965; Reclamação (c/Mauro Duarte), samba, 1971; Recomeçar (dElton Medeiros), 1979; Responsabilidade, samba, 1965, Reverso da paixão, 1996; Roendo unhas, samba, 1973; Romanceando, 1976; Rosa de ouro (c/Elton Medeiros e Herminio Belo de Carvalho), samba, 1965; Rosinha, essa menina, 1976; Ruas que sonhei, samba, 1970; Rumo dos ventos, 1982; Samba do amor (c/Herminio Belo de Carvalho e Elton Medeiros), 1968; Sei lá, Mangueira (c/Hermínio Belo de Carvalho), samba, 1968; Sem ela eu não vou, samba, 1968; Sentimento perdido, 1978; Simplesmente Maria, samba, 1970; Sinal fechado, samba, 1969; Sinhá não disse, samba, 1966; Só o tempo, 1982; Sofrer, 1978; Sol e pedra, samba, 1971; Solução de vida (Molejo dialético) (c/Ferreira Gullar), 1996; Tempo de decisão, samba, 1967; O tímido e a manequim, 1989; Timoneiro (c/Hermínio Belo de Carvalho), 1996; Tudo se transformou, 1980; Último lance (c/Sérgio Natureza), 1981; Vela no breu (c/Sérgio Natureza), 1976; O velório do Heitor, 1976; Vida (c/Elton Medeiros), samba, 1974; Vinhos finos.., cristais (c/Capinam), samba, 1971; Viver sem amor (c/Capinan), 1981; Zumbido, 1979.

Rosa de Ouro

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Rosa de Ouro
Paulinho da Viola e Araci Cortes no espetáculo "Rosa de Ouro".

Quando as luzes se apagavam, entravam em cena Os Cinco Crioulos: Nelson Sargento, Anescarzinho, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Paulinho da Viola. Era o início do show Rosa de Ouro, dirigido por Hermínio Bello de Carvalho.

Paulinho abria o espetáculo com Recado. Depois, cada músico cantava uma composição de sua autoria. Quando todos estavam aquecidos, era hora da entrada triunfal de Araci Cortes. Tão majestosa quanto na época em que era a grande estrela do teatro musicado do país.

Na segunda parte do espetáculo, ao som dos atabaques de Paulinho e Elton, brilhava, a então estreante, Clementina de Jesus. No palco do samba, já não cabia tanta emoção. Era o ano de 1965 e, no Teatro Jovem do Rio, Rosa de Ouro tornava-se um divisor de águas, uma espécie de ritual de passagem de uma época em que o samba estava esquecido para um retorno triunfal aos meios de comunicação e às gravadoras.

Momento de reafirmação do ritmo, num período em que a bossa nova e a música estrangeira dominavam quase totalmente o cenário da música popular brasileira. Um grande início de carreira para o jovem Paulinho. Um marco na carreira de Elton Medeiros e de Clementina de Jesus, a despedida para Araci Cortes.

Programado para apenas algumas semanas, o espetáculo ficaria em cartaz no Rio por quase dois anos. O sucesso se repetiria em outras cidades do Brasil. Em São Paulo, Rosa de Ouro teria espaço no palco do Teatro Oficina.

Fonte: MPB Compositores - Editora Globo.

Alma de Palhaço

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Alma de palhaço - Carequinha e Fred Vilar

De um circo eu sou palhaço
No rosto levo este traço
para alegrar a multidão
Mas é tudo fantasia
É falsa a minha alegria
É tudo,tudo, ilusão

Ninguém sabe que no meu rosto
A tinta encobre um desgosto
Que vive a me atormentar
E como a luz da ribalta
Meu coração sente a falta
De quem não me soube amar

Enquanto a platéia acha graça
Dentro do peito a desgraça
Vem logo me torturar
O riso sempre constante
Faz-me esquecer um instante
Mas volto logo a chorar

Se todos pudessem ver
A razão do meu sofrer
Não pensavam em gargalhar
E ao terminar a cena
dariam lenços por pena
para o meu pranto enxugar.

A carrocinha pegou

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Carequinha

A carrocinha pegou
Três cachorros de uma vez
Tralalalá, que gente é essa?
Tralalalá, que gente má!

A carrocinha pegou
Três cachorros de uma vez
Tralalalá, que gente é essa?
Tralalalá, que gente má!

Canção da Primeira Comunhão

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Carequinha
Canção da Primeira Comunhão - Alonso Galvão

hoje é dia de grande alegria
parabéns nós queremos te dar
O Menino Jesus na Eucaristia
Em teu peito foi morar.

Parabéns...
Parabéns...
Deus conserve
Teu bom coração
E receba as graças divinas
Da Primeira Comunhão.

Circo alegre do Carequinha

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Circo alegre do Carequinha - Carequinha, Patrícia & Luciano

Viva garotada
Viva o circo alegre
Tá certo ou não tá

Ra ra o Carequinha
Virando mil cambalhotas
Deixou cair a sua calça
E foi a maior gargalhada

Circo é alegria
E animação
Tudo é fantasia
Vem se divertir
Vamos brincar
E cantar

Lá lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá
A alegria do palhaço
É ver você feliz cantar

Escolinha do Carequinha

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Carequinha

Escolinha do Carequinha - Irany de Oliveira

Na escolinha do Carequinha
Vamos todos estudar com atenção
O Carequinha é nosso amigo
É camarada e tem bom coração
na escolinha do Carequinha
Vamos todos estudar pra ter valor
A nossa escola é bem querida
Vamos pra sala que lá vem o professor.

Na escolinha do Carequinha
Vamos todos estudar com atenção
O Carequinha é nosso amigo
É camarada e tem bom coração
na escolinha do Carequinha
Vamos todos estudar pra ter valor.

Muito obrigado, meus amiguinhos,
tudo farei para sem um bom professor.

O bom menino

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O bom menino - Carequinha

O bom menino não faz xixi na cama
O bom menino não faz malcriação
O bom menino vai sempre à escola
E na escola aprende sempre a lição

O bom menino respeita os mais velhos
O bom menino não bate na irmãzinha
Papai do céu protege o bom menino
Que obedece sempre, sempre a mamãezinha

Por isso eu peço a todas as crianças
Preste atenção para o conselho que eu vou dar

(falado)
Olha aqui.
Carequinha não é amigo de criança que passa
de noite da sua cama pra cama da mamãe
E também não é amigo de criança que rói unha,
e chupa chupeta.
Tá certo ou não tá?
Táaaaaaa

Eu obedeço sempre a mamãezinha
Então aceite os parabéns do carequinha.

O bom menino...

(falado)
Olha aqui.
Carequinha só gosta de criança
que respeita mamãe, papai, titia e vovó
E seja amigo dos seus amiguinhos
E também que coma na hora certa,
e durma na hora que a mamãe mandar.
Tá certo ou não tá?
Táaaaaaa

Eu obedeço sempre a mamãezinha
Então aceite os parabéns do carequinha.