quinta-feira, 7 de julho de 2011

A impressão musical no Brasil - Parte 2

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Joseph Alfred Martinet - Botafogo, Rio de Janeiro - 1846
No ano seguinte, a firma foi comprada por Salmon & Cia. — Sucursal de R. Laforge, mudando-se para a Rua dos Ourives, 60, onde funcionou até 1853. Salmon & Cia., anteriormente instalados na Rua da Assembléia, 86, haviam iniciado a publicação de uma série de seis variações para piano, intitulada Flores guanabarenses (1842-1857). 

Como sucessores de R. Laforge reimprimiram várias peças dessa oficina, passando a numerar as chapas até 1869, quando a firma foi adquirida, juntamente com outras, por Narciso José Pinto Braga. Dentre as muitas coleções publicadas, destacam-se Progresso musical (1853-1857), O livro de ouro dos pianistas (1854-1857), Recreio dos flautistas (1856-1857), Abelha musical (1858-1859).

Em 1856 publicaram Rio de Janeiro — álbum pitoresco musical, com sete peças para piano de compositores brasileiros, impresso “em papel da China”, com litografias e desenhos de Martinet. Um fac-símile desse álbum foi lançado em 1958 pela Livraria Kosmos Editora.

Entre as oficinas litográficas que na primeira metade do século passado imprimiram material musical de relativa importância, está ainda a firma Heaton & Rensburg. 

George Mathias Heaton, pintor inglês, e Eduardo Rensburg, litógrafo holandês, chegaram juntos ao Brasil em 1840, estabelecendo-se na Rua do Hospício, 103, passando depois por outros endereços, até se fixarem, em 1842, na Rua da Ajuda, 68, quando iniciaram a publicação da coleção Ramalhete das damas, inicialmente sob orientação de Rafael Coelho Machado e interrompida oito anos depois. Constituída de peças para piano e canto, era ilustrada com retratos de compositores, e alguns números acompanhados de um texto sobre assuntos musicais, segundo os anúncios publicados no Jornal do Comércio da época

Em 1851 foram nomeados “litógrafos da Casa Imperial”. Da mesma oficina, em edições muito bem cuidadas, saíram ainda a Coleção de doze valsas, de Francisco Xavier Bontempo (1847); Harpa do trovador (1846), romances de Rafael Coelho Machado, dedicados à imperatriz, e Mauricinas (1849), peças para canto compostas pelo Dr. José Maurício Nunes Garcia, em homenagem a seu pai, o compositor do mesmo nome. Em 1856 dissolveram a sociedade, e E. Rensburg prosseguiu sozinho durante ainda muitos anos.

Na mesma Rua da Ajuda, 21, funcionava a Litografia de J. J. do Rego, responsável pela publicação do periódico Filo-Harmônico (1842), com peças de Francisco Manuel da Silva, João José Ferreira de Freitas, Cândido José de Araújo Viana Júnior etc. Conhecido como litógrafo no Rio de Janeiro desde 1832, Frederico Briggs funcionou na Rua do Ouvidor, 130, entre 1840 e 1843, e depois na Rua da Lampadosa, 6, quando deve ter iniciado atividades no campo da música, publicando obras de Rafael Coelho Machado (1840) e Antônio Tornaghi (1843).

No final desse ano, associou-se a Pedro Ludwig, que, por sua vez, dissolvera a sociedade que mantivera com Victor Larée, na Rua do Ouvidor, 66, este também impressor de música. A nova firma Ludwig & Briggs passou a funcionar na Rua do Carmo, 55 (1843), depois na Rua dos Pescadores (1846-1 849), e até 1870 na Rua dos Ourives, 142. Na década de 1830, com Pierre Laforge, o Rio de Janeiro ganhara a primeira imprensa de música da corte. Anteriormente, eram oficinas de gravadores, abridores e estampadores, na sua maioria franceses que, ocasionalmente, gravavam também música.

Com a instalação, em 1846, da Casa de Filippone e Cia., Abridores e Impressores, na Rua dos latoeiros (hoje Rua Gonçalves Dias), 59, no ano seguinte denominada Ed. Filippone e Cia. e por fim Imperial Imprensa de Música de Filippone e Cia. constituiu-se a primeira editora musical da cidade. 

Em 1847 foi aberta subscrição para a publicação de O Brasil Musical — periódico dedicado a Sua Majestade a Imperatriz do Brasil, que lançou mais de 500 peças entre 1848 e 1875, saindo duas por mês, uma para piano, outra para canto.

Desde o início foram precursores na impressão com chapas numeradas (Brasil Musical número 1 — Ch. Número 33), e no número 20 já declaravam possuir depósitos em Porto Alegre RS, Bahia, Pernambuco e Buenos Aires, Argentina. Foram também precursores na publicação de catálogos nas contracapas das peças que imprimiam, de frontispícios com belos trabalhos de gravação. O repertório apresentado, segundo o gosto da época, era quase exclusivamente de árias, cavatinas, transcrições para piano, para flauta, para violão e trechos de óperas italianas.

Em 1853 mudaram-se para a Rua do Ouvidor, 101, e dois anos mais tarde a firma admitiu como sócio Antônio Tornaghi (Filippone e Tornaghi), conhecido compositor e professor de canto e piano, que chegara ao Brasil em 1841 e do qual o próprio Filippone já publicara várias peças. Até então haviam lançado, entre outras coleções, Melodias celestes (1847), Tesouro da mocidade (1847), As ninfas brasileiras (1848), Pensamentos italianos (1848), Saudades de Bellini (1848), Choix de romances françaises (1851), Divertimento noturno (1850-1852), Noite do Rio de Janeiro (1850-1852), Saudades de Botafogo (1852), Brincadeira musical (1853), Ilustração musical (1854), Coleção de peças para concertina (1854), Novo álbum de modinhas brasileiras (1853) etc.

Por volta de 1862 mudaram-se para a Rua do Ouvidor, 93, entrando gradativamente em declínio as atividades da casa, que tivera seu período áureo na Rua do Ouvidor, 101. Outras coleções foram publicadas mais tarde: O Vesúvio (1859), Família imperial (1862), Estátua eqüestre (1862) e Soirées fluminenses

Domenico Filippone foi responsável pela editora entre 1873 e 1874; no ano seguinte, seus herdeiros assumiram a direção, e logo depois a firma passava à Viúva Filippone (1875-1884). A editora já não dispunha de oficina própria. Em 1884 o Estabelecimento de Músicas e Águas Minerais da Viúva Filippone & Filha publicava algumas peças de Ernesto Nazareth (Cruz, perigo!, Beija-flor, Não me fujas assim), e J. Filippone Ed., Rua Moreira César, 93 (nome da Rua do Ouvidor de 1897 a 1916), publicou ainda alguma música popular. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.

A impressão musical no Brasil - Parte 1

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O Príncipe regente Dom João
Até a criação da Imprensa Régia, por decreto do príncipe regente Dom João, a 13 de maio de 1808, era proibida a instalação de tipografias no Brasil. Mas já em princípios do século XVIII surgia em Recife PE uma pequena tipografia, logo confiscada, e em 1747 houve a tentativa, também fracassada, de A. Isidoro da Fonseca, no Rio de Janeiro RJ.

As primeiras oficinas imprimindo música no Rio de Janeiro surgiram no início do séc. XIX; alguns desses estabelecimentos se incumbiam de editar e vender músicas.

John Ferguson & Charles Crokaat, com loja na Rua da Quitanda, 41, em 1824 anunciavam no Diário do Rio de Janeiro o que parece ser a mais remota referência a obra musical impressa no país, o “Hino Imperial e Constitucional de S. M. Imperial (Pedro I), para piano e cantoria, recentemente gravado e estampado nesta corte”.

Na mesma loja vendia-se a “Notícia da vida e das Obras de J. Haydn, por Joachin Le Breton” (Imprensa Régia, 1820), considerada a mais antiga obra sobre música impressa no Brasil, e ainda a “Arte de música para uso da mocidade brasileira, por um seu patrício”, impressa por Silva Porto & Cia. em 1823.

Entre os pioneiros destacam-se Francisco Chenot, estabelecido em 1830 como “abridor e estampador” na Rua dos Latoeiros, 126, e depois na Rua da Ajuda, 89, e, na mesma época, H. Furcy, “livreiro e editor de música”, com oficina de gravação na Rua do Cano (hoje Rua Sete de Setembro), 73.

O mais antigo exemplar de peça musical gravada é de cerca de 1833, “Uma saudade para sempre", composta por [M. Pimenta Chaves] um criado da Casa Imperial dedicada à Princesa "Dona Paula Mariana”, publicada pela Oficina Litográfica do Arquivo Militar (Higino José Lopes de Almeida), pertencente, como outras peças da mesma oficina, à seção de música da Biblioteca Nacional, Coleção Teresa Cristina Maria.

João Cristiano Müller, de origem dinamarquesa, estabeleceu-se em 1828, como negociante de pianos e música, na Lapa do Desterro, 76, contando em sua loja com um variado repertório nacional e estrangeiro, para venda e empréstimo. Em 1837, associou-se a H. E. Heinen, sendo ambos nomeados “fornecedores de música de S.M.I.”, com endereço na Rua Nova do Ouvidor, 1 e 36, e no mesmo ano foi elaborado o Catálogo da biblioteca musical de 1. C. Müller e H. E. Heinen, talvez o primeiro no gênero impresso no Brasil, do qual é conhecido um único exemplar, ricamente encadernado, que pertenceu à imperatriz Teresa Cristina Maria.

Em março de 1828 chegou ao Rio de Janeiro o clarinetista João Bartolomeu Klier, natural de Bremen, Alemanha, estabelecendo-se inicialmente como professor de música e, mais tarde, instrumentista da Capela Imperial. Três anos depois, abriu uma loja de música na Rua do Cano, 189, transferindo-se em 1832 para a Rua Detrás do Hospício (hoje Rua Buenos Aies), 95.

Em 1834 anunciou que mandara imprimir, com propriedade exclusiva, modinhas de Gabriel Fernandes da Trindade, e em 1836 já possuía uma imprensa própria de música, anunciando no ano seguinte a publicação de Terpsícore brasileira, coleção de valsas, contradanças etc. Após sua morte em 1855, teve como sucessores na firma suas filhas Francisca Klier & Irmã (1856-1859) e por fim A. J. Klier, sucessor de seu pai J. B. Klier.

A impressão regular de peças musicais no Rio de Janeiro teve início com Pierre Laforge, músico francês estabelecido por volta de 1834 com “estamparia de música” na Rua do Ouvidor, 149, que teria sido o responsável pela gravação das modinhas de Gabriel Fernandes da Trindade para J. B. Klier.

Em 1837 instalou-se na Rua da Cadeia (depois Rua da Assembléia), 89, onde funcionou até 1851, tendo gravado inúmeras peças, em sua maioria de pequeno formato (28 por 18 cm) e sem qualquer capa ou folha de rosto, apenas com as indicações necessárias na cabeça da própria música. Sua produção era constituída principalmente de modinhas, lundus e árias de óperas, de compositores como o padre José Maurício Nunes Garcia, Cândido Inácio da Silva, Gabriel Fernandes da Trindade, Pedro I, Francisco Manuel da Silva, Januário da Silva Arvelos, M. A. de Sousa Queirós, Francisco da Luz Pinto, Joseph Fachinetti, Antônio Tornaghi e outros.

Em 1850 iniciou a publicação de coletâneas para piano e canto, como Delícias da jovem pianista, Recreação da jovem fluminense, Progresso da jovem pianista, Ramalhete dos principiantes, Grinalda da jovem pianista etc.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.