quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Zé Espinguela

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José Gomes da Costa
Zé Espinguela (José Gomes da Costa - circa 1890 - 1945, Rio de Janeiro, RJ), compositor, cantor e animador cultural, nasceu no Rio de Janeiro, na última década do século XIX e morreu na mesma cidade, no fim da Segunda Guerra.

Segundo relatou Carlos Cachaça, Espinguela dizia-se descendente de italianos da Calábria, da família Espineli, o que explicaria o apelido, um aportuguesamento popular do sobrenome estrangeiro. Era mulato, com marcas de bexiga no rosto, jongueiro, pai-de-santo e "irmão de cabeça" de dona Lucíola, velha matriarca da Mangueira. Morava no Engenho de Dentro, mas não saía do morro, onde tinha uma amante preferida.

Em 1925, teve idéia de fundar um bloco, a que deu o sugestivo nome de Bloco dos Arengueiros, constituído, entre outros, por Cartola, Maçu (Marcelino José Claudino), Saturnino Gonçalves e seu irmão Arthur (respectivamente pai e tio de D. Neuma da Mangueira), Carlos Cachaça, Chico Porrão, Fiúca e Homem Branco. Cartola dizia que "um arengueiro de verdade saía do morro pra brigar, pra ser preso, pra apanhar, pra bater".

O Bloco dos Arengueiros veio a transformar-se no que seria, segundo o nome imposto em 1935, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira. A escola, na verdade, foi fundada em 28 de abril de 1928, no Buraco Quente (Travessa Saião Lobato nº 21), na casa de seu Euclides da Joana Velha, pai do João Cocada.

Os fundadores foram sete: Seu Euclides (Euclides Alberto dos Santos, o dono da casa), Saturnino, Marcelino, Cartola, Pedro Caim, Abelardo da Bolinha e Zé Espinguela, que acrescentava ao título de criador do Bloco dos Arengueiros o de fundador da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira.

Não contente com essas credenciais, Zé Espinguela, em 20 de janeiro de 1929 (um domingo, dia de Oxóssi para os negros e de São Sebastião para os brancos), realizou o primeiro concurso entre escolas de samba dessa gloriosa cidade. O evento ocorreu em sua casa, na rua Engenho de Dentro, atual Adolfo Bergamini.

Em 1935, quando o jornal A Nação patrocinou o Concurso de Escolas de Samba que começou naquele ano a fazer parte do Programa Oficial do Carnaval da então Prefeitura do Distrito Federal, quis ouvir o Zé Espinguela, o criador da iniciativa inaugural. A Nação de 1 de março de 1935 transcreveu o que sobre isso disse Espinguela: "Eu fui o primeiro organizador de concursos entre as nossas escolas. Foi em 1929. Realizei no Engenho de Dentro. Sagrou-se vencedora a Portela, sabiamente dirigida pelo Paulo. Mangueira também apresentou-se pujante, tendo os seus sambistas Cartola e Arthurzinho apresentado dois sambas monumentais: Foram beijos e Eu quero nota".

Espinguela foi grande amigo de Heitor Villa-Lobos, que conheceu provavelmente na Mangueira e de quem se tornou uma espécie de assessor para assuntos de folclore e de música popular.

Em 1940, Leopoldo Stokowski solicitou a Villa-Lobos que selecionasse e reunisse os mais representativos artistas de música popular brasileira, para gravação de músicas destinadas ao Congresso Pan-Americano de Folclore. Villa-Lobos incluiu no grupo escolhido a nata dos verdadeiros criadores nacionais de música: Pixinguinha, Cartola, Donga, João da Baiana e, como não poderia deixar de ser, Zé Espinguela.

As gravações realizaram-se na noite de 7 para 8 de agosto de 1940, a bordo do navio Uruguai, atracado no Armazém 4. Foram registradas quarenta músicas, entre as quais, segundo relato do jornal O Globo, seis de Zé Espinguela: Orimé, Hoje é dia, Afoché, Curimachô, Camandaué e Acorvagô. Dessas quarenta músicas, apenas dezesseis chegaram ao disco, reproduzidas nos Estados Unidos em dois álbuns de quatro fonogramas cada um, sob o título Columbia presents - Native Brazilian Music - Leopold Stokowski.

Ainda em 1940, Villa-Lobos, tentando reviver os carnavais do passado, fundou um grupo carnavalesco a que chamou Sodade do Cordão, com as mesmas características dos antigos cordões de velhos. O grande colaborador do maestro na seleção dos componentes, na concepção e confecção das fantasias e na variada coreografia a executar foi Espinguela. O Sodade do Cordão saiu no carnaval e fez apresentações em clubes como o Fluminense, com a colaboração de componentes da Mangueira de Espinguela, entre os quais sobressaiam Cartola, Carlos Cachaça e Aluisio Dias.

Pouco depois, nos anos finais da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Zé Espinguela, que devia estar se aproximando dos sessenta anos, sentiu aproximar-se o fim da existência. Segundo Arthur de Oliveira, ele "reuniu os adeptos do centro religioso e dirigiu-se ao morro da Mangueira para despedir-se do seu reduto preferido. Lá chegaram no princípio da noite. A favela, de luzes apagadas, descansava da trabalheira do dia. Eis que surge o grupo, em cortejo pelos becos e ruelas, cantando um samba que Espinguela compôs especialmente para o momento.

Era como um samba-enredo. Desfilavam, dançavam e cantavam, com o ritmo alegre, a melodia triste, e as vozes alvissareiras das pastoras. Os barracos aos poucos se acenderam. Os negros foram abrindo as janelas e o morro transformou-se num céu no chão, iluminado, silencioso e reverente. A voz de Espinguela dominava o coro: a favela compartilhava da cerimônia do passamento do seu sambista com aquela vivência afro-brasileira da morte, presente nos gurufins e tão diversa do sentimento judaico-cristão das classes dominantes".

Obra

Cantiga de festa (c/ Donga), Macumba de Iansã (c/ Donga), Macumba de Oxossi (c/ Donga).

Fontes: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira; Receita de Samba: Zé Espinguela.

Antenor Gargalhada

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Antenor Gargalhada
Antenor Gargalhada (Antenor Santíssimo de Araújo), compositor e sambista, nasceu em 1909 no Rio de Janeiro, RJ, e faleceu na mesma cidade em 1941. Considerado um dos maiores sambistas da época de ouro da MPB, os anos 1930. Também era estimado batuqueiro e partideiro.

Foi fundador da Escola de samba Azul e Branco, do morro do Salgueiro, da qual foi diretor de harmonia. Morando no morro do Salgueiro destacou-se também ao defender os moradores locais contra uma ação de despejo impetrada por um italiano que comprou o morro e queria expulsar todo mundo.

Em 1931, o samba Eu agora fiquei mal, sua única parceria com Noel Rosa, foi gravado na Parlophon pelo cantor Canuto.

Em 1938, a escola de samba Azul e Branco desfilou no carnaval com seu samba Asas do Brasil homenageando Santos Dumont, composição apontada por muitos como um dos primeiros sambas-enredo. Nesse ano, como representante da Escola de Samba Azul e Branco foi escolhido como "Cidadão samba".

Em 1945, seu samba Cheque à granel, parceria com Ernâni Alvarenga e Paquito foi gravado por Violeta Cavalcanti na Continental.

Morreu prematuramente vitimado pela tuberculose. Devido a seu falecimento a escola de samba Azul e Branco em sinal de luto não desfilou no carnaval de 1941.

Em 1974, foi homenageado pelo compositor Geraldo Babão do Salgueiro com o samba Homenagem a Antenor Gargalhada cuja letra dizia: "Morava lá no alto do Salgueiro/Antenor Gargalhada, o primeiro/Emérito compositor/Na Azul e Branco ele foi o bamba/Foi um rei no reduto de samba/Hoje exaltamos o seu valor/Suas músicas ninguém esquece/Vamos cantá-las em forma de prece/Deixa eu afinar meu violão/Nega, o que queres de mim/Quem é a Vila para nos acordar/Com ele era sempre assim".

Em 1978, no volume 4 da série História das escolas de samba, da Rio Gráfica e Editora, foi homenageado em todo o lado A do disco que acompanhava o fascículo no qual foram interpretados pelo Coral Samba Livre os sambas Nega, o que queres de mim, Amanhecer, O morro é completo, e Arrependimento. Desses sambas, Nega, o que queres de mim havia sido gravado por Djalma Sabiá e os outros três estavam inéditos até então, sendo que Arrependimento, só tinha a primeira parte, tendo recebido uma segunda parte do compositor João Melo.

Obra

Amanhecer, Arrependimento (c/ João Melo), Asas do Brasil, Cheque à granel (c/ Ernani Alvarenga e Paquito), Deixa eu afinar meu violão, Eu agora fiquei mal (c/ Noel Rosa), Nega, o que queres de mim, O morro é completo.

Fontes: Receita de Samba: Antenor Gargalhada; Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira; Bibliografia Crítica: J. MUNIZ JR. Sambistas imortais. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1976.