segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Viola cantadera

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Viola cantadera - (1917) canção sertaneja da opereta sertaneja Scenas da Roça, original de Arlindo Leal e música de Marcelo Tupinambá.
Temperada minha viola / Vou rasgando logo a toada... / E a minh'arma' se aconsola / Já não véve amargurada... / Minha viola é cantadera, / Vae chorando a minha dô... / E pôr ser bôa companhera / Nunca nunca me deixou / Ai!...
C'om a viola, no sertão, / Quando a noite é de luá... / Vou abrindo o coração, / Nunca deixo de cantá

Quando alembro, com sôdade, / Da muié que me enganô... / Eu renego a mocidade / Que não vorta e já passô!... / Quando eu canto, quando eu chóro, / A viola vae gemendo / E na serra adonde móro, / Minha vois se vae perdendo... / Ai!...

E sosinho, no sertão, / Quando a noite é de luá... / Vou abrindo o coração, / Aliviando o meu pená...

Quando eu canto, no terrêro, / Minha vois correndo, avôa... / Corre as matta, corre os sêrro / E bem longe ela resôa... / Quando eu canto, com tristura, / Minha viola, num gemido, / C'o meu canto se amistura. / Mais me deixa intrestecido!.. / Ai!...

C'om a viola, no sertão / Quando a noite é de luá... / Vou abrindo o coração, / Aliviando o meu pená / Aliviando o meu pená...

Pelo telefone ("o primeiro samba")

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Primeira composição classificada como samba a alcançar o sucesso, "Pelo Telefone" marca o início do reinado da canção carnavalesca. É a partir de sua popularização que o carnaval ganha música própria e o samba começa a se fixar como gênero musical. Desde o lançamento, quando apareceram vários pretendentes à sua autoria, e mesmo depois, quando já havia sido reconhecida sua importância histórica, o "Pelo Telefone" seria sempre objeto de controvérsia, tornando-se uma de nossas composições mais polêmicas em todos os tempos.
Quase tudo que a este samba se refere é motivo de discussão: a autoria, a afirmação de que foi o primeiro samba gravado, a razão da letra e até sua designação como samba. Todas essas questões, algumas irrelevantes, acabaram por se integrar à sua história, conferindo-lhe mesmo um certo charme. "Pelo Telefone" tem uma estrutura ingênua e desordenada: a introdução instrumental é repetida entre algumas de suas partes (um expediente muito usado na época) e cada uma delas tem melodias e refrões diferentes, dando a impressão de que a composição foi sendo feita aos pedaços, com a junção de melodias escolhidas ao acaso ou recolhidas de cantos folclóricos.

Outra versão, relatada por Donga a Ary Vasconcelos e ao jornalista E. Sucupira Filho, é a de que "Pelo Telefone" teria surgido de uma estrofe a ele transmitida por um tal Didi da Gracinda, elemento ligado ao grupo de Hilário Jovino. Já Mauro de Almeida, que parece nunca ter-se preocupado em afirmar sua participação na autoria, declarou, em carta ao jornalista Arlequim, ser apenas o "arreglador" dos versos, o que corresponderia à verdade. "Pelo Telefone" foi lançado em discos Odeon, em dezembro de 1916, simultaneamente pelo cantor Bahiano (foto) e a Banda da Casa Edison.

Primeiro samba?

Em 1917, o samba Pelo Telefone se transformou no marco inicial da história fonográfica daquele gênero musical. Historiadores, porém já registraram, em suas pesquisas, gravações anteriores que podem ser reconhecidas como samba e que comprovadamente foram gravadas antes da composição assinada pela dupla Donga/Mauro de Almeida. O sucesso comercial de Fred Figner e sua Casa Edison, no Rio de Janeiro, provocou o aparecimento de concorrentes no Brasil inteiro e uma variedade enorme de selos fonográficos surgiu. A maioria de vida curta, mas que acabou por contribuir culturalmente com a música popular brasileira e influir na instalação da indústria fonográfica no país.
A gravadora Odeon, por exemplo, que registrou o chamado samba pioneiro, antes dele já havia gravado, na série lançada entre 1912 e 1914, Descascando o pessoal e Urubu malandro, classificados como sambas no próprio catálogo da fábrica. Na série de 1912 a 1915 consta A viola está magoada de Catulo da Paixão Cearense e interpretada por Bahiano e Júlia Martins, além de Moleque vagabundo de Lourival Carvalho, também identificados como samba. Pelo Telefone tem o número de série 121313, mas anteriores a ele são ainda Chora, Chora, Choradô (121057), cantado por Bahiano, Janga (121165), com o Grupo Paulista, e Samba Roxo (121176), com Eduardo das Neves. O selo Columbia editou série entre 1908 e 1912, aparecendo nela como “samba” a gravação Michaella, interpretada por Bartlet; Quando a Mulher Não Quer, com Arthur Castro, e No Samba, gravado por Pepa Delgado e Mário Pinheiro. A Favorite Record gravava na Europa para a Casa Faulhaber do Rio de Janeiro, entre 1910 e 1913, e em seu catálogo se encontra a gravação Samba - Em Casa de Baiana, com o Conjunto da Casa Faulhaber, identificada na abertura como “samba de partido-alto”. O disco tem o título simples de Samba, sem indicação de intérprete ou autoria. O selo Phoenix também pertencia à família Figner. Gravou de 1914 a 1918 para a Casa Edison de São Paulo. Os sambas que nele aparecem são anteriores a 1915, ano da gravação 70.711(Flor do Abacate), como provam suas numerações: Samba do Urubu (70.589), com o Grupo do Louro, Samba do Pessoal Descarado (70.623), com o Grupo dos Descarados, Vadeia Caboclinha (70.691), com o Grupo Tomás de Souza, e Samba dos Avacalhados (70.693), com o Grupo do Pacheco, coro e batuque. Da mesma maneira como existem dúvidas quanto à verdadeira autoria de Pelo Telefone, não se pode concluir com inteira certeza qual o primeiro samba realmente gravado.

Outros compositores
A história oral menciona vários autores para o samba Pelo Telefone, mas quando Donga fez seu registro na Biblioteca Nacional omitiu todos declarando ser seu único compositor. As primeiras partituras, ainda na ortografia da época, que grafava Telephone, exibiam apenas o nome de Donga. A grita que se seguiu não teve muitos resultados, mas pelo menos serviu para que Mauro de Almeida (foto) fosse reconhecido como um dos parceiros. O Peru dos Pés Frios, como era conhecido o jornalista carnavalesco, aparece aqui em raríssima foto, mesmo porque faleceu pouco tempo depois da gravação do samba, ficando todas as luzes apenas sobre Donga, que delas sempre soube tirar proveito pessoal.
O sucesso cercou Pelo Telefone de aspectos os mais variados, fugindo da simples conseqüência musical, de cair na preferência popular, no assobio das calçadas e na cantoria das festinhas de subúrbio. Logo um sem-número de pais-da-criança apareceu, cada um puxando a brasa para sua sardinha, todo mundo ignorando a iniciativa de Donga (foto ao lado) em registrar oficialmente sua autoria na Biblioteca Nacional.
Como se sabe, o samba vinha sendo cantado na casa de Tia Ciata de maneira informal, como partido alto com a participação da dona da casa, emérita partideira que com certeza introduziu nele seus improvisos, o mesmo fazendo seu genro Mestre Germano e o "ranchista" Hilário Jovino.
Da cantoria, lá pelo ano de 1916, participavam também Donga, o jornalista Mauro de Almeida - a quem Almirante credita a autoria indiscutível do samba -, João da Mata, o dono do refrão, e o conflituoso Sinhô, que como autor da frase "samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar", evidentemente tentou também se apossar da paternidade da novidade. Ironizando a atuação de Aurelino Leal, o novo chefe de policia do Rio de Janeiro, o samba teve seus versos fixados por Mauro de Almeida, que nem assim foi reconhecido como co-autor no registro da Biblioteca Nacional.

Cantado em público pela primeira vez (segundo Almirante) no Cinema Teatro Velo, à rua Haddock Lobo, na Tijuca, despertou de imediato a cobiça alheia e - com razão ou sem ela - contestações quanto à autoria de Donga (foto ao lado) pipocaram de todos os lados. A principal veio de Tia Ciata, criando uma briga que jamais chegou à reconciliação, com um anúncio publicado no Jornal do Brasil garantindo que no Carnaval de 1917, na avenida Rio Branco, seria cantado o "verdadeiro tango Pelo Telefone dos inspirados carnavalescos João da Mata, o imortal Mestre Germano, a nossa velha amiguinha Ciata, o bom Hilário, com arranjo do pianista Sinhô, dedicado ao falecido repórter Mauro", seguindo-se a letra com o nome de Roceiro, denunciando Donga nas entrelinhas: "Pelo telefone/A minha boa gente / Mandou avisar / Que meu bom arranjo / Era oferecido / Para se cantar - Ai; ai, ai / Leve a mão na consciência, / Meu bem / Ai, ai, ai / Mas porque tanta presença / meu bem? - O que caradura / De dizer nas rodas / Que esse arranjo é teu / E do bom Hilário / E da velha Ciata / Que o Sinhô escreveu - Tomara que tu apanhes / Para não tornar a fazer isso, / Escrever o que é dos outros / Sem olhar o compromisso".
Não faltaram também os aproveitadores, que na esteira do êxito da gravação de Bahiano correram atrás dos lucros que se imaginava para os autores de Pelo Telefone (Mauro de Almeida jamais recebeu um tostão de direitos...). Carlos Lima editou Chefe da Folia no Telefone; J. Meira registrou Ai, Si A Rolinha Sinhô, Sinhô e Maria Carlota da Costa Pereira se apresenta como autora de No Telefone, Rolinha, Baratinha & Cia.

Pelo Telefone (Donga & Mauro de Almeida)

Bb-------------------------- Gm--------------- Cm--- F7
O chefe da folia pelo telefone manda lhe avisar
-----------------Cm-------------- F7-------------- Bb
Que com alegria não se questione para se brincar
--------------------------------Gm ---------------Cm---F7
O chefe da polícia pelo telefone manda lhe avisar
----------------Cm------------- F7-------------- Bb
Que na Carioca tem uma roleta para se brincar
: - Ai, ai, ai,
------------------------------F7
- Deixa as mágoas para trás ó rapaz
- Ai, ai, ai,
-----------------------Bb-------- F7 Bb F7 Bb
- Fica triste se é capaz, e verás :
---------Gm ----------------Cm
: Tomara que tu apanhes
----------F7-------------- Bb
Pra nunca mais fazer isso
----Gm----------------- F7
Tirar o amor dos outros
--------------------Bb
E depois fazer feitiço :
----------------Eb
: Ai se a rolinha (Sinhô, sinhô)
---------------Bb
Se embaraçou (Sinhô, sinhô)
------------------F7
É que a avezinha (Sinhô, sinhô)
----------------Bb
Nunca sambou (Sinhô, sinhô)
--------------------Eb
Porque este samba (Sinhô, sinhô)
-------------Bb
De arrepiar (Sinhô, sinhô)
-------------------F7
Põe perna bamba (Sinhô, sinhô)
------------Bb F7 Bb F7 Bb
E faz chorar

A versão do povo

No dia 20 de outubro de 1916, Aureliano Leal, chefe de polícia do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, determinou por escrito aos seus subordinados que informassem "antes pelo telefone" aos infratores, a apreensão do material usado no jogo de azar. Imediatamente o humor carioca captou a comicidade do episódio, que ao lado de outros foi cantado em versos improvisados nas festas de Tia Ciata e registrado rapidamente por Donga em seu nome, na Biblioteca Nacional. É lógico que os versos "oficiais" eram diferentes daqueles que ridicularizavam o chefe de polícia. Sua versão popular, a que corria na boca das ruas dizia:

"O chefe da polícia / Pelo telefone / Mandou avisar / Que na Carioca / Tem uma roleta /Para se jogar /Ai, ai, ai /O chefe gosta da roleta,/ Ô maninha / Ai, ai, ai / Ninguém mais fica forreta / É maninha. / Chefe Aureliano, / Sinhô, Sinhô, / É bom menino, / Sinhô, Sinhô, / Prá se jogar,/ Sinhô, Sinhô, / De todo o jeito, /Sinhô, Sinhô, / O bacará / Sinhô, Sinhô, / O pinguelim, / Sinhô, Sinhô, / Tudo é assim".

A letra registrada por Donga, que passou a ser conhecida como original e aparece nas gravações até hoje, é alongada, homenageando o "Peru", o jornalista Mauro de Almeida, co-autor da obra, e o "Morcego", Norberto do Amaral Júnior, conhecido no Clube dos Democráticos. Incorpora também elementos do folclore nordestino:

"O chefe da folia / Pelo telefone / Manda avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar. Ai, ai, ai, / Deixa as mágoas para trás / Ó rapaz! /Ai, ai, ai, / Fica triste se és capaz / E verás Tomara que tu apanhes / Pra nunca mais fazer isso / Tirar amores dos outros /E depois fazer feitiço...Ai, a rolinha / Sinhô, Sinhô / Se embaraçou / Sinhô, Sinhô/ É que a avezinha / Sinhô, Sinhô / Nunca sambou / Sinhô, Sinhô,/ Porque esse samba, /Sinhô, Sinhô, / É de arrepiar, /Sinhô, Sinhô,/ Põe a perna bamba / Sinhô, Sinhô, / Me faz gozar, / Sinhô, Sinhô.O "Peru" me disse/ Se o "Morcego" visse / Eu fazer tolice,/ Que eu então saísse / Dessa esquisitice / De disse que não disse. Ai, ai, ai, / Aí está o canto ideal / Triunfal / Viva o nosso carnaval. / Sem rival. Se quem tira o amor dos outros / Por Deus fosse castigado / O mundo estava vazio / E o inferno só habitado.Oueres ou não / Sinhô, Sinhô, / Vir pro cordão / Sinhô, Sinhô / Do coração, / Sinhô, Sinhô. / Por este samba".

Fonte: A Canção no Tempo (Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello), História do Samba - Ed. Globo

Maricota, sai da chuva

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Maricota, sai da chuva (tanguinho) - 1917----clique para ouvir amostra da música
- Canção sertaneja da opereta sertaneja Scenas da Roça - original de Arlindo Leal e música de Marcelo Tupinambá

Côro: Maricóta, sáe da chúva / Deixa, deixa de embromá / Maricóta, sáe da chúva / Que tu vaé te aconstipá / A chúva tá penêrano / Tá penêrano no á / Maricóta, sáe da chúva / Que tu vaé te aconstipá

Maricóta: Não tenho medo da chúva / Nem do ronco do trovão / Eu quero mêmo que chôva / Pra lavá meu coração

Penêra, chuva, penêra; / Não deixa de penêrá... / E prô sê triste rocêra / Como tu anda a chorá...

Côro: Maricóta, sáe da chúva, etc... / Maricóta: Não tenho medo da chúva, etc...

Lá no ceo tá fuzilano / Vejo as nuvens a se mexê, / Pode sê que seja engano / Se chovê logo se vê...

Côro: Maricóta, sáe da chúva, etc... / Maricóta: Não tenho medo da chúva, etc...

Óia o sór já pareceu... / Já, não chóve, nhô Vadô, / Óia o arco, lá no céu, / A trovada já passô...

Côro: Maricóta, sáe da chúva, etc... / Maricóta: Não tenho medo da chúva, etc...

Cala a bocca, nhô Vadô / Que essa chúva não me móia... / Vá s'imbora, minha gente, / Que moiada eu não estô...

Pierrô e Colombina

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Antes do advento do samba e da marchinha, fazia sucesso no carnaval qualquer tipo de música, nem sempre alegre, como é o caso de "Pierrô e Colombina". Também chamada de "Desespero de Pierrô" e "Paixão de Pierrô", esta valsa de versos ("A vós que acabais de ouvir meu pranto, meu padecer / quero um pedido fazer / tenham dó do meu carpir...") e melodia carregados de tristeza, tomou conta do Rio de Janeiro nos carnavais de 1915 e 16, por paradoxal que possa parecer.
Embora atribuída em algumas publicações à dupla Oscar de Almeida e Eduardo das Neves, "Pierrô e Colombina" é só de Almeida, segundo Almirante em sua coluna no jornal O Dia: "'Pierrô e Colombina' é letra e música de Oscar de Almeida dos Correios; o Edu das Neves somente a gravou". Como vários personagens da música popular brasileira no início do século, Almeida era funcionário dos Correios e Telégrafos.
Pierrot e Colombina - valsa - 1913 - Oscar de Almeida e Eduardo das Neves

Há quanto tempo saudoso / Procuro em vão Colombina
Sumiu-se a treda ladina / Deixou-me em trevas choroso
Procuro-a sim como um louco / Nos becos, nas avenidas
As esperanças perdidas / Tendo-as vou já pouco a pouco


Se em todo o carnaval / Não conseguir ao menos
Seu rosto fitar / Palavra de Pierrot
Eu juro me matar / Não posso suportar
Esta cruel ausência / Que me afoga em dor
Meu coração morrer / Sinto de amor


É dia de risos e flores / Todos folgam só eu não
Ela, talvez num cordão / Procure novos amores
Oh! Companheira impiedosa / Vê que suplício cruel
Vejo a minha alma afogar-se / Num oceano de fel


Oh!: Vós que acabaes de ouvir / Meu pranto, meu padecer
Tenho um pedido a fazer / Tenham dó do meu carpir
Se encontrarem Colombina / Que é da minha alma o vigor
Digam-lhe que assim se fina / Procurando-a, seu Pierrot

Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Apanhei-te cavaquinho

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A polca "Apanhei-te Cavaquinho" (clique para escutar o midi) é a segunda composição mais gravada de Ernesto Nazareth, perdendo apenas para "Odeon". De andamento rápido (o autor recomendava semínima = 100 para as polcas e semínima = 80 para os tangos) é muitas vezes executada em velocidade vertiginosa por músicos exibicionistas, que presumem assim mostrar habilidade virtuosística.
Composta em 1915 e gravada no mesmo ano pelo grupo O Passos no Choro, "Apanhei-Te Cavaquinho" foi dedicada a Mário Cavaquinho (Mário Álvares da Conceição), um exímio cavaquinista, amigo de Nazareth (segundo Ary Vasconcelos, ele inventou o cavaquinho de cinco cordas e a bandurra de 14 cordas).
Em 1930 o autor gravou esta composição em disco de grande valor documental, que passou a servir de referência para novas execuções. Já classificado como choro, ganhou letra de Darci de Oliveira, em 1943, para ser gravado por Ademilde Fonseca:
Ainda me lembro, / Do meu tempo de criança, / Quando entrava numa dança, / Toda cheia de esperança, / De chinelinho e de trança, / Com Mané e o Zé da França, / Nunca tive na lembrança, / De rever esse chorinho.

E hoje ouvindo, / Neste choro a voz do pinho, / Relembrando o bom tempinho, / Da mamãe e do maninho, / Hoje sou ave sem ninho, / Sem família, sem carinho, / Mas sou bem feliz ouvindo, / O "Apanhei-te Cavaquinho"!

Hoje cantando o "Apanhei-te Cavaquinho", / Fico louca, fico quente, / Fico como um passarinho, / Sinto vontade de cantar a vida inteira, / Esta vida, eu levo de qualquer maneira, / Ouvindo a flauta, o cavaquinho e o violão, / Eu sinto que o meu coração, / Tem a cadência de um pandeiro, / Esqueço tudo e vou cantando com jeitinho, / Este chorinho, / Que é muito Brasileiro !

Hoje cantando o "Apanhei-te Cavaquinho", / Fico louca, fico quente, /Fico como um passarinho, / Sinto vontade de cantar a vida inteira, / Esta vida, eu levo de qualquer maneira, / Ouvindo a flauta, o cavaquinho e o violão, / Eu sinto que o meu coração, / Tem a cadência de um pandeiro, / Esqueço tudo e vou cantando com jeitinho, / Este chorinho, / Que é muito Brasileiro !...
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Urubu malandro

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Com o título de "Samba do Urubu" e classificado como "dança característica", o "Urubu Malandro" foi gravado pela primeira vez em 1914. O disco (Phoenix n° 70589) tinha como intérprete Lourival Inácio de Carvalho, o Louro, compositor, instrumentista e solista do grupo (clarinete, cavaquinho e violão) que levava o seu nome. Este mesmo Louro, a quem é geralmente atribuída a autoria da composição, é na verdade somente o autor das variações que a popularizaram.

O "Urubu Malandro" é um antigo tema folclórico da região norte do estado do Rio de Janeiro. Tema, aliás, excelente para improvisos, sendo um dos preferidos de Pixinguinha e outros mestres do choro como Benedito Lacerda e Altamiro Carrilho, ambos nascidos na mesma região onde surgiu o curioso tema.


Urubu malandro - Autor desconhecido---=- clique para ouvir amostra da música


------A --------------------------------------E7
Urubu veio de riba / Com fama de dançadô
-----------------------------------------------A
Urubu chegou no Rio / Urubu nunca dançou
---------------------E7-------------- A
Dança, dança urubu / Eu não, sinhô

-------A-------------------------------------- E7
Urubu não vai ao céu / Nem que seja rezadô
-------------------------------------------------A
Urubu catinga muito / Persegue Nosso Senhor
------------------E7-------------- A
Foge, foge urubu / Eu não, sinhô

--------A----------------------------------- E7
Urubu está cantando / Que nada sabe dizê
---------------------------------------------------A
Em Mato Grosso se ouve: / Que foi a tropa fazê?
-----------------E7------------- A
Fala, fala urubu / Eu não, sinhô

--------A -----------------------------------------E7
Urubu lá do Pará / Quem tem fama de avançadô
--------------------------------------------------------A
Larga o trono, vem embora / Deixa o Lauro por favô
--------------------E7-------------- A
Deixa, deixa urubu / Eu não, sinhô

-------A------------------------------ E7
Urubu delegado / É um moço de valô
------------------------------------------------A
É bonito e é letrado / Sabe mais que um dotô
------------------E7------------- A
Sabe, sabe urubu / Eu não, sinhô

-------A ---------------------------------E7
Urubu municipá / Larga o osso por favô
------------------------------------------------------A
Vê se come os intendente / Da mão do bispo, sinhô
--------------------E7------------- A
Come, come urubu / Eu não, sinhô

-------A--------------------------------------- E7
Urubu chega disposto / Deixa o povo por amô
-----------------------------------------------------A
Corta os casaca-lavado / Que é pessoá avançadô
--------------------E7------------- A
Corta, corta urubu / Eu não, sinhô

--------A------------------------------------ E7
Urubu Nascimento / Carinha que Deus pintô
-----------------------------------------------A
Meta a mão na algibeira / Paga aquele cantor
-------------------E7------------- A
Paga, paga urubu / Eu não, sinhô

Luar do sertão

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A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.

A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.
Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".
Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.


Luar do Sertão----------- clique para ouvir amostra da música


--------G ----------Em -------Am --------D7-------- G----- D7
Não há, ó gente, oh não luar / Como este do sertão (bis)

--------------G------- Em------------ Am--------------------------- D7
Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
------------------------G D7------- G--------- Em---------- Am
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
--------------------------D7------------------- G------- D7
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão (refrão)

--------------G --------Em ---------Am--------------------------- D7
A gente fria desta terra sem poesia / Não se importa com esta lua
-----------------------G D7------------- G--------- Em------- Am
Nem faz caso do luar / Enquanto a onça, lá na verde capoeira
------------------------D7-------------------- G------ D7
Leva uma hora inteira, / Vendo a lua a meditar (refrão)

-----------------G--------------- Em---------- Am
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
------------------------D7---------------------- G------- D7
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
-------------G------------- Em --------Am
Ser enterrado numa grota pequenina
------------------------D7 ----------------G -------D7
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez (refrão).

Subindo ao céu

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Chegando ao Brasil com a família real portuguesa, no início do século XIX, a valsa de salão popularizou-se, passando a ser um gênero de execução obrigatória em bailes, confeitarias e retretas. Na virada do século, adotada pelos conjuntos de choro, tornou-se seresteira, influenciando a tradicional modinha, que tomou ritmo ternário.

Um bom exemplo de valsa de nossa belle époque é a elegante "Subindo ao Céu" (clique para ouvir o midi) , obra prima do pianista Aristides Manuel Borges (1884-1946), que resiste ao tempo permanecendo no repertório de nossos instrumentistas. Uma prova disso é a sua discografia que, além de pianistas como Arthur Moreira Lima, Antônio Adolfo e Mário de Azevedo, inclui flautistas (Altamiro Carrilho, Dante Santoro), acordeonistas (Luiz Gonzaga), bandolinistas (Jacó) e violonistas (Dilermando Reis, Édson José Alves). Composta no formato A-B-A-C-A, "Subindo ao Céu" proporciona certa liberdade rítmica de interpretação, o que lhe acrescenta um especial encanto.
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Caboca de Caxangá

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Em entrevista a Joel Silveira, nos idos de 1940, Catulo da Paixão Cearense declarou-se "um sertanejo do sertão", ressaltando o mérito de saber descrevê-lo muito bem, apesar de não conhecê-lo. Parte desse mérito ele deveria creditar ao violonista João Pernambuco (João Teixeira Guimarães), com quem conviveu por diversos anos e que lhe forneceu, além de alguns temas musicais, um variado vocabulário sertanejo que usaria em seus versos. Um exemplo dessa colaboração é a composição "Caboca de Caxangá", que entrou para a história assinada apenas pelo poeta.

Inspirado numa toada que João lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra, impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada Caboca de Caxangá, classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões.

Caboca di Caxangá - Catulo da Paixão Cearense--- clique para ouvir amostra da música


E------------------- C7------------------ Fm
Laurindo Punga, Chico Dunga, Zé Vicente
-------------------------B7----------------------E
E esta gente tão valente / Do sertão de Jatobá,
-----------------------C7----------- Fm
E o danado do afamado Zeca Lima,
--------------------------B7-------------------------E
Tudo chora numa prima, / E tudo quer te traquejá.

---------------------B7------------------------E
Caboca di Caxangá, / Minha caboca, vem cá.

------------E---------- C7-------------- Fm
Queria ver se essa gente também sente
-----------------------------B7
Tanto amor, como eu senti,
----------------------------E
Quando eu te vi em Cariri!
-----------------------C7----------- Fm
Atravessava um regato no quartau
-----------------------B7------------------------- E
E escutava lá no mato / O canto triste do urutau.

------------------------B7---------------------------E
Caboca, demônio mau, / Sou triste como o urutau!

E------------------- C7---------------------- Fm
Há muito tempo, lá nas moita das taquara,
-----------------------------B7--------------------------E
Junto ao monte das coivara, / Eu não te vejo tu passá!
------------------C7-------------- Fm
Todo os dia, inté a boca da noite,
------------------------B7----------------------E
Eu te canto uma toada / Lá debaixo do indaiá.

-------------------------B7----------------------E
Vem cá, caboca, vem cá, / Rainha di Caxangá.

E------------------ C7------------------ Fm
Na noite santa do Natal na encruzilhada,
--------------------------B7--------------------------E
Eu te esperei e descantei / Inté o romper da manhã!
--------------------------C7------------ Fm
Quando eu saía do arraiá, o sol nascia
-------------------------B7-------------------E
E lá na grota já se ouvia / Pipiando a jaçanã.

------------------------B7--------------------------E
Caboca, flor da manhã / Sou triste como a acauã!

Flor do mal

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O poeta Domingos Correia suicidou-se no dia 6 de maio de 1912, bebendo um copo do desinfetante Lisol, numa casa de chope no Rio de Janeiro. Antes, porém, perpetuou nos versos da canção "Flor do Mal" o motivo do suicídio: sua paixão não correspondida por Arminda Santos, uma jovem pernambucana que então iniciava carreira artística nos palcos da cidade.
"Oh! Eu me recordo ainda / desse fatal dia / em que tu me disseste, Arminda, / indiferente e fria / eis do meu romance o fim...". Como não era compositor, fez esses versos tristíssimos em cima da melodia, mais triste ainda, de "Saudade Eterna", uma valsa do violonista Santos Coelho, autor de um método de guitarra portuguesa, muito usado na época.
Tendo recebido em 1909 a letra de Catulo da Paixão Cearense (sob o título de "Ó como a saudade dorme num luar de calma"). "Saudade Eterna" era apenas razoavelmente conhecida, tornando-se grande sucesso ao transformar-se em "Flor do Mal", talvez até pelo impacto da tragédia.
Segundo o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque), Domingos Correia "era branco, baixo e tinha uma. cabeça enorme", o que lhe valeu o apelido de Boneco nos meios boêmios onde "bebia e cantava com voz possante". Com tal figura, era mesmo tarefa impossível ao Boneco conquistar a bela Arminda.
Flor do mal (Saudade eterna)------- clique para ouvir amostra da música
valsa - 1912 - Domingos Correia / Santos Coelho
Oh ! Eu me recordo ainda, / Deste fatal dia... / Em que tu me disseste, Arminda, / Indiferente e fria.
- Eis do meu romance o fim! / - Senhor! / - Basta! / - Esquece-te de mim, / Amor.
Por que? / Não procures indagar, / A causa ou a razão?
Por que? / Eu não te posso amar? / Oh ! Nunca quis não, / Será fácil te esquecer. / Prometo, / Oh! minha flor, / Não mais ouvir falar de amor.
Eu! / Hipócrita! / Fingido coração! / De granito... / Ou de gelo... / Maldição...
Ah! / Espírito satânico! / Perverso! / Titânico chacal... / Do mal... / Num lodaçal imerso...
Sofrer! / Quanto tenho sofrido! / Sem ter uma consolação! / O Cristo também foi traído! / Por que? / Não posso ser então... / Oh, Não !
Que importa, / O meu sofrer ferino... / Das coisas é ordem natural! / Seguindo o meu destino, / Chamar-te-ei, eternamente, / A Flor do Mal.
Sofrer! / Quanto tenho sofrido! / Sem ter uma consolação! / O Cristo também foi traído! / Por que? / Não posso ser então... / Oh, Não!
Que importa, / O meu sofrer ferino... / Das coisas é ordem natural! / Seguindo o meu destino, / Chamar-te-ei, eternamente, / A Flor do Mal....
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Lua branca

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"Compondo incessantemente, e oferecendo periodicamente ao público músicas saborosíssimas de caráter brasileiríssimo, Chiquinha Gonzaga conservou em toda sua longa existência a faculdade inalterável de imprimir às suas melodias um som enfeitiçador que as levava sempre ao fundo da alma dos que as ouviam.
Por isso, cada nova música sua era um êxito seguro. Vale lembrar até como bom exemplo uma certa canção que apresentou numa revista de Luis Peixoto e Carlos Bittencourt chamada “Forrobodó”, e que foi a canção marcante de uma peça em que dezenas de outras músicas se destacavam de modo especial. Mas a que perdurou por anos e anos foi a “Lua Branca” de Chiquinha Gonzaga" (Almirante em O Pessoal da Velha Guarda de 15/10/1947).

Lua branca - 1911 - Chiquinha Gonzaga---clique para ouvir amostra da música

(Am)------ E7------------------------ Am
Ó lua branca de fulgores e de encanto,
-----------A7--------------------------- Dm
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
-------------------------Dm6------- Am
vem tirar dos olhos meus, o pranto
---------------E7--------------------------- Am
Ai vem matar essa paixão que anda comigo,



------------------G7----------------------- C
Ai! Por quem és, desce do céu, ó lua branca
-------------A7------------------------------- Dm
Essa amargura do meu peito, ó vem e arranca
-----------------------Dm6------- Am
Dá-me o luar da tua compaixão
------------------E7--------------------- Am
Ó vem, por Deus, iluminar meu coração.



----------------E7----------------------- Am
E quantas vezes lá no céu me aparecias
----------A7-------------------------- Dm
A brilhar em noite calma e constelada,
---------------------Dm6------- Am
A sua luz então me surpreendia
-------------E7---------------------------- Am
Ajoelhado junto aos pés da minha amada



-------------G7----------------------- C
Ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
--------------------A7------------------------- Dm
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo...
-----------------------Dm6------ Am
Ela partiu, me abandonou assim
------------E7---------------------------- (Am) (E7) (Am)
Ó lua branca, por quem és, tem dó de mim!...