O poeta Domingos Correia suicidou-se no dia 6 de maio de 1912, bebendo um copo do desinfetante Lisol, numa casa de chope no Rio de Janeiro. Antes, porém, perpetuou nos versos da canção "Flor do Mal" o motivo do suicídio: sua paixão não correspondida por Arminda Santos, uma jovem pernambucana que então iniciava carreira artística nos palcos da cidade.
"Oh! Eu me recordo ainda / desse fatal dia / em que tu me disseste, Arminda, / indiferente e fria / eis do meu romance o fim...". Como não era compositor, fez esses versos tristíssimos em cima da melodia, mais triste ainda, de "Saudade Eterna", uma valsa do violonista Santos Coelho, autor de um método de guitarra portuguesa, muito usado na época.
Tendo recebido em 1909 a letra de Catulo da Paixão Cearense (sob o título de "Ó como a saudade dorme num luar de calma"). "Saudade Eterna" era apenas razoavelmente conhecida, tornando-se grande sucesso ao transformar-se em "Flor do Mal", talvez até pelo impacto da tragédia.
Segundo o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque), Domingos Correia "era branco, baixo e tinha uma. cabeça enorme", o que lhe valeu o apelido de Boneco nos meios boêmios onde "bebia e cantava com voz possante". Com tal figura, era mesmo tarefa impossível ao Boneco conquistar a bela Arminda.
valsa - 1912 - Domingos Correia / Santos Coelho
Oh ! Eu me recordo ainda, / Deste fatal dia... / Em que tu me disseste, Arminda, / Indiferente e fria.
- Eis do meu romance o fim! / - Senhor! / - Basta! / - Esquece-te de mim, / Amor.
Por que? / Não procures indagar, / A causa ou a razão?
Por que? / Eu não te posso amar? / Oh ! Nunca quis não, / Será fácil te esquecer. / Prometo, / Oh! minha flor, / Não mais ouvir falar de amor.
Eu! / Hipócrita! / Fingido coração! / De granito... / Ou de gelo... / Maldição...
Ah! / Espírito satânico! / Perverso! / Titânico chacal... / Do mal... / Num lodaçal imerso...
Sofrer! / Quanto tenho sofrido! / Sem ter uma consolação! / O Cristo também foi traído! / Por que? / Não posso ser então... / Oh, Não !
Que importa, / O meu sofrer ferino... / Das coisas é ordem natural! / Seguindo o meu destino, / Chamar-te-ei, eternamente, / A Flor do Mal.
Sofrer! / Quanto tenho sofrido! / Sem ter uma consolação! / O Cristo também foi traído! / Por que? / Não posso ser então... / Oh, Não!
Que importa, / O meu sofrer ferino... / Das coisas é ordem natural! / Seguindo o meu destino, / Chamar-te-ei, eternamente, / A Flor do Mal....
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34
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