quinta-feira, 10 de maio de 2007

Zé Keti

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"O Zé ficou quietinho?" - A pergunta da mãe, quando voltava do trabalho, era infalível. E como o moleque Zé sempre ficava quietinho, virou Zé Quieto, logo em seguida, Zé Keti.
Neste século que se finda, na raiz da maioria das coisas boas que aconteceram no ramo samba da árvore da música popular brasileira, tem o dedo de Zé Keti, o compositor que se tornou um dos símbolos de sua escola de samba, a Portela, guardiã da cultura popular e menestrel maior de Madureira, a capital dos subúrbios da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Nascido em 1921, José Flores de Jesus fez do bairro carioca de Bento Ribeiro e contornos o seu reinado. Ninguém cantou a Portela como ele, ninguém soube compreender a beleza e a importância do mar em azul e branco que cobre a passarela a cada carnaval, vencendo ou não a competição com as co-irmãs. Zé era portelense e deixou isso bem claro em suas rimas e harmonias.
Criador perfeito em A voz do morro, crítico social em Acender as velas, lírico em Máscara negra, boêmio em Diz que eu fui por aí, cronista em Malvadeza durão, historiador em Jaqueira da Portela, ator de teatro no show divisor de águas Opinião e de cinema em Rio, 40 Graus e A Grande Cidade, Zé Keti tinha a generosidade entre outras de suas qualidades.
Foi ele, quando diretor musical do restaurante Zicartola - outro marco cultural carioca e brasileiro -, que lançou dois novos compositores: Elton Medeiros e o menino (também portelense) Paulo César Batista de Faria, a quem Zé batizou como Paulinho da Viola e para o qual profetizou a carreira que ajudou a consolidar, até mesmo dando a ele para gravar jóias como As moças do meu tempo.
Aos 78 anos, vitimado por uma parada cardíaca, Zé Keti morreu no hospital da Venerável Ordem Terceira Penitência, no bairro suburbano da Tijuca, no seu Rio de Janeiro, na manhã de 14 de novembro de 1999.
Arley Pereira /MPB ESPECIAL / 4/7/1973

Época de Ouro

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Em 1964, quando Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt) resolveu reunir em torno de si os melhores executantes dos conjuntos regionais das rádios e estúdios de gravação do Rio de Janeiro, não poderia ter sido mais feliz na escolha do nome do grupo.
Época de Ouro retrata não só o momento raro da música popular brasileira ao qual se refere o nome, como o faz da maneira mais brilhante, mais virtuosa que se poderia encontrar no gênero.
Eram famosos os ensaios no casarão de Jacarepaguá, o castelo de Jacob. O menino Paulinho da Viola acompanhava o pai, o senhorial violonista César Farias, carregando o violão para ter o privilégio de sentar-se silenciosamente a um canto e ouvir os deuses.
Sentados em semicírculo ("chorão" tem de ver as caras dos companheiros, tocar "namorando"), liderados pelo bandolim, lá estavam, além do seis cordas de César, o solene sete-cordas de Horondino Silva, o Dino, o outro "seis" de Carlinhos, o estupendo cavaquinho de Jonas e o pandeiro cantabile de Gilberto.
Passava-se uma vez a melodia, luzes acesas. A segunda era no escuro. Terminada, o vozeirão de Jacob corrigia cada raro erro, que não escapava nenhum a seu ouvido. O mestre só se contentava com a perfeição. Os crescendos e diminuendos maravilhosos em Noites cariocas, por exemplo, são frutos de muito ensaio e burilamento.
Damásio entrou no lugar de Carlinhos. Jorge assumiu o pandeiro de Gilberto. Jacob morreu e seu aluno Deo Rian empunhou o bandolim, e o Época de Ouro continuou a cintilar belezas sonoras.
Qualquer apresentação do grupo sempre foi garantia de música brasileira de primeiríssima qualidade. Mantida por sua formação atual, de que fazem parte os originais Dino e César, mais o também antigo Jorge no pandeiro, Ronaldo no bandolim, Jorge Filho, cavaquinho, e Toni no segundo violão de seis cordas.
Arley Pereira /ENSAIO / 23/5/1997

MPB-4

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MPB-4

Rui Alexandre Faria, nascido em Cambuci, em1938, Milton Lima dos Santos Filho, de Campos, 1944, Antônio José Waghabi Filho, de Itaocara, 1945, e Aquiles Rique Reis, de Niterói, 1949, todas cidades do Estado do Rio de Janeiro, formam o mais antigo conjunto de que se tenha notícia, no mundo, a manter, desde a criação, os mesmos integrantes.
Rui, Miltinho e Aquiles criaram o grupo em 1962, em Niterói, e a eles juntou-se, em seguida, Waghabi - que, pelo tipo físico, tinha o apelido de Magro, que mantém ainda hoje. No início, eram o Quarteto do CPC, pois apresentavam-se nos espetáculos promovidos pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes.
Foi Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que os batizou de MPB-4 - e nascia, aí, a sigla MPB, para designar aquele tipo de música popular brasileira voltada para a história urbana da constituição da música popular.
O primeiro disco, um compacto - aqueles disquinhos com uma música de cada lado - saiu em 1964. No ano seguinte eles juntaram as quatro vozes com as das meninas baianas, descobertas por Aloísio de Oliveira, do Quarteto em Cy, num espetáculo montado em São Paulo por Chico de Assis.
Chico de Assis foi um dos incentivadores do jovem Chico Buarque de Hollanda e entra nessa história não só por haver aproximado o xará Buarque do MPB-4 quanto por haver dado o ultimato aos meninos fluminenses: ou vocês largam a faculdade e resolvem fazer música profissionalmente, em tempo integral, ou é melhor desistir. Eles largaram a faculdade, depois de uma reunião - que varou a noite - realizada ali no então célebre bar Redondo, na Av. Ipiranga, em São Paulo.
Começava uma das histórias mais bonitas e íntegras da canção brasileira. Com uma formação de extrema simplicidade - o violão de Miltinho, a tumbadora do Magro, um eventual chocalho de Aquiles e a voz de Rui (inicialmente era só isso), o grupo alcançou um grau de sofisticação que poucas vezes um quarteto vocal conseguiu.
O uníssono é perfeito, as vocalizações (quase sempre escritas por Magro) mudaram o conceito de arranjo vocal e ainda hoje constituem a fórmula em que se baseiam os arranjos vocais. Trabalharam - em shows, peças de teatro, comícios, ou que manifestação tenha sido importante para nossa história recente - com os maiores artistas de seu tempo (houve época em que Chico Buarque não entrava em palco sem eles) e o conjunto de seus discos memoráveis forma uma antologia do que melhor se produziu na MPB - afinal, eles são homônimos da sigla e de certa forma responsáveis por ela - nos últimos 40 anos.
Mauro Dias / MPB ESPECIAL / 4/6/1973

Paulo Soledade

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Paulo Soledade (Paulo Gurgel Valente do Amaral) nasceu em 1919 Paranaguá, PR, e morreu em 1999 no Rio de Janeiro, RJ. Compositor, produtor de shows, empresário. Interessou-se por música desde a infância, mas sua primeira atividade artística foi como ator.
Em fins da década de 1930, trabalhou em um pequeno grupo onde atuavam Gustavo Dória, Luísa Barreto Leite, Ziembinski, entre outros. Na década de 1940, viajou para os Estados Unidos para realizar curso de piloto de caça. Regressou como tenente da Força Aérea Norte-Americana, ingressando posteriormente em uma companhia aérea comercial como comandante. Manteve-se nessa função por um período de sete anos, abandonando-a por problemas de saúde.
Fundou no Rio de Janeiro o "Clube dos Cafajestes", grupo de boêmios que ficou famoso com o "Hino dos cafajestes" que ele compôs para grupo. Nessa época atuou também como produtor de shows.
Em 1950, teve sua primeira composição gravada, a marcha Zum-Zum, com Fernando Lobo lançada por Dalva de Oliveira. Foi um grande sucesso do Carnaval. Nos anos seguintes, teve muito êxito com as composições feitas em parceria com Marino Pinto, Fernando Lobo e outros. Suas músicas foram gravadas por cantoras como Araci de Almeida, Eliseth Cardoso, Linda Batista, Emilinha Borba.
Em 1961, abriu a Boate "Zum-Zum", onde apresentava produções de Aloysio de Oliveira, quase sempre ligadas ao novo movimento musical carioca – a Bossa Nova –, do qual participavam artistas como Sylvia Telles, Lenie Dale e Vinícius de Moraes. Data dessa época a marcha-rancho Estão voltando as flores, que logo se tornaria um hino nas noites cariocas.
Em 1980, teve as músicas O pato e O relógio, parcerias com Vinícius de Moraes, lançadas no LP "A Arca de Noé". No ano seguinte, as músicas O peru, O pinguim e A formiga, em parceria com Vinícius de Moraes, foram gravadas no disco "A arca de Noé volume 2".
Em 1990, no projeto "O Som do Meio-Dia" foi apresentado espetáculo em sua homenagem, no qual suas obras foram executadas. Em 1996, Miltinho regravou Estão voltando as flores e Emílio Santiago fez o mesmo no ano seguinte.
Em julho de 2001, o crítico R. C. Albin homenageou-o no espetáculo "Estão voltando as flores", com as Cantoras do Rádio. O show virou disco de igual título, lançado em 2002 pela Som Livre. Dentre seus sucessos, destacam-se ainda Estrela do mar, com Marino Pinto, Insensato coração, com Antônio Maria, Já é noite, com Fernando Lobo e Sonho desfeito, com Tom Jobim, e as músicas infantis como O pato.

Hermínio Bello de Carvalho

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Hermínio Bello de Carvalho nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1935. Neto de violeiro e filho de ator, morava no bairro da Glória quando começou a freqüentar reuniões na casa do músico Burle Marx, onde conheceu Claudete Soares e Helena de Lima.
Adolescente, gostava muito de música clássica, tendo sido presidente do Centro Cívico Carlos Gomes, de sua escola. Aos 14 anos, cantava em coro de igreja e, em 1958, começou sua carreira na Rádio MEC, do Rio de Janeiro, tendo escrito, entre outros, os programas Violão de Ontem e de Hoje, Reminiscências do Rio de Janeiro, Retratos Musicais e Concertos para a Juventude.
Agitador cultural, poeta, produtor musical, compositor e descobridor de talentos, desde cedo Hermínio conviveu de perto com a música e com os músicos brasileiros. Em 1962, publicou seu primeiro livro de uma série de cerca de 20 que viriam depois, entre eles poesias e crônicas dos personagens da MPB.
Em 1964, com a inauguração do bar Zicartola, no Rio de Janeiro, aproximou-se de Cartola e de alguns de seus futuros parceiros como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Mauricio Tapajós, com quem fez sua primeira música, Mudando de conversa.
No ano seguinte, dirigiu um musical que marcou época, Rosa de ouro, apresentado no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, que contou com a participação de Clementina de Jesus e Araci Cortes, acompanhadas pelo conjunto Rosa de Ouro, liderado por Paulinho da Viola e Elton Medeiros, que se consagrariam a partir desse show. O musical foi transformado em disco gravado ao vivo – Rosa de Ouro, volume I –, considerado por unanimidade o melhor do ano.
Ainda em 1965 promoveu, com Edu Lobo, no Teatro Jovem, a Feira de Música Popular, reunindo nomes como Nara Leão, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Torquato Neto, realizou palestras sobre Villa-Lobos, em Lisboa, Portugal, Madrid, Espanha, e Paris, França, e compôs com Zé Keti o samba Cicatriz. Produziu mais de cem discos, como os de Radamés Gnattali, Dalva de Oliveira, Pixinguinha e Eliseth Cardoso. Foi o primeiro a fazer discos de Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça.
Na primeira metade da década de 1960, dedicou-se a poesia, lançando vários livros: Chove azul em teus cabelos, Rio de Janeiro, 1961; Ária e percussão, Rio de Janeiro, 1962; Novíssima poesia brasileira, Rio de Janeiro, 1963; e Poemas do amor maldito, Rio de Janeiro, 1964.
A partir de 1964, iniciou movimento de integração da música popular e erudita, produzindo concertos mistos, num dos quais apresentou pela primeira vez em público Clementina de Jesus, acompanhada pelo violonista clássico Turíbio Santos.
Deixou a Funarte em 1989 após 13 anos no cargo de diretor adjunto da Divisão de Música Popular Brasileira. Neste período, esteve à frente dos seguintes projetos: Almirante, de recuperação de arquivos e gravação de discos pouco comerciais; Lúcio Rangel, de biografias de MPB; e, o mais conhecido, o Pixinguinha, de shows, uma reedição nacional do Projeto Seis e Meia, que reuniu duplas inesquecíveis para cantar pelo país. Foi membro fundador do Conselho de Música Popular do Museu da Imagem e do Som (MIS).
Em 1978 recebeu o Troféu Estácio de Sá, do MIS, por ter sido a personalidade que mais prestou serviços à musica naquele ano. Apresentou na TVE o musical "Água Viva", de 1976 a 1977 e de 1981 a 1983. Na comemoração dos seus 60 anos, em 1995, foi homenageado com shows e a exposição Isso é que é viverHomenagem aos 60 anos de Hermínio Bello de Carvalho, do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, quando autografou seu livro Umas e Outros.
Ainda em 1995 foram lançados o livro Sessão Passatempo pela Relume-Dumara, RJ, em que conta histórias sobre personalidades da música popular e dois CDs Alaíde Costa canta Hermínio Bello de Carvalho, com canções remasterizados do LP de 1982 e composições novas como a inédita O sabiá e o vento (com Vicente Barreto), e a coletânea de sua obra na série Mestres da MPB, da Warner, em que participam intérpretes como Dalva de Oliveira, Maria Bethânia, Elizeth Cardoso e Gal Costa.
Em 1997 idealizou o Centro de Memória da Mangueira, para a Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro.
Fonte: Educarede

Pena Branca e Xavantinho

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Pena Branca e Xavantinho

A dupla formada pelos irmãos José Ramiro Sobrinho (Pena Branca), nascido em Uberlândia (MG), em 1939, e Ranulfo Ramiro da Silva (Xavantinho, Uberlândia, 1942-1999) é um raro caso de fidelidade às raizes caipiras no universo sertanejo atual.
Criado na roça com cinco irmãos, José Ramiro aprendeu "de orelha" no cavaquinho do pai antes de passar para a viola. A dupla com o irmão começou em mutirões, feiras, folias de reis e teve outros nomes como José e Ranulfo, Peroba e Jatobá, Zé Mirante e Miramar e até Xavante e Xavantinho.
Num festival organizado pelo sertanejo Zé Bétio, eles conquistaram o primeiro lugar e o direito de gravar uma música, Saudade, de Xavantinho, num compacto duplo em 1971. Em 1980, outra música de Xavantinho, Que Terreiro é Esse?, foi classificada para a final do festival MPB-Shell da TV Globo e a dupla finalmente estreou em LP, Velha Morada - Rodeio, já se distinguindo pela escolha do repertório: incluía entre as faixas a dissonante O cio da terra de Chico Buarque e Milton Nascimento.
A audácia de afrontar o comercialismo do mercado gravando material selecionado, das folclóricas Cuitelinho (recolhida por Paulo Vanzolini) e Calix Bento (recolhida e adaptada por Tavinho Moura) a Vaca Estrela e Boi Fubá (do cearense Patativa do Assaré), deu certo. Logo a dupla seria um dos esteios do programa de TV Som Brasil, apresentado pelo ator e intérprete Rolando Boldrin, que a incluiria em seus shows Brasil adentro.
Boldrin produziu o segundo disco dos dois, Uma Dupla Brasileira. Milton Nascimento cantou (e gravou) com eles o Cio da Terra, além de levá-los ao Teatro Municipal para o espetáculo em que recebia o Prêmio Shell, de 1986.
Além de Tavinho Moura, com quem Xavantinho faria Encontro de Bandeiras, a dupla foi ampliando sua participação na MPB em encontros (e gravações) com Fagner, Almir Sater, Tião Carreiro, Marcus Viana, entre outros.
Em 1990, eles ganharam o Prêmio Sharp de melhor música com Casa de barro, de Xavantinho e Moniz, e de melhor disco, Cantadô do mundo afora. Dois anos depois, ao vivo em Tatuí levaram outro Sharp de melhor disco e também foram escolhidos pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Sempre mesclando repertório matuto, clássicos da MPB e obras de lavra própria, PB & X gravaram de Mário de Andrade, Viola quebrada, a Ivan Lins e Vitor Martins, Ituverava, Caetano Veloso, O ciúme, e o Uirapuru (Murilo Latini/Jacobina), sucesso do grupo Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano em Violas e Canções, de 1993, ano em que os dois excursionaram também aos EUA.
Em Pingo d'água (1996), o rei do baião Luiz Gonzaga, A vida do viajante, convive com os caipiras históricos João Pacífico e Raul Torres da faixa título. E no Coração matuto (1998), entram Djavan, Lambada de serpente, Milton Nascimento, Morro Velho, com participação do próprio, e até Guilherme Arantes, Planeta Água.
Já sem o irmão, falecido no ano anterior, Pena Branca prosseguiria solo em Semente caipira (2000). Congregando de Tom Jobim e Luiz Bonfá, Correnteza, a Renato Teixeira, Quando o amor se vai, Joubert de Carvalho, Maringá, e composições próprias, Casa amarela, Rio abaixo vou viver, o disco de Pena Branca mantém acesa a chama de integridade que marcou a trajetória da dupla e continua lhe servindo de farol.
Tárik de Souza / ENSAIO / 21/2/1991

Nelson Ferreira

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Nelson Ferreira (Nelson Heráclito Alves Ferreira), o Moreno Bom, nasceu em 9.12.1902 na cidade de Bonito, PE, filho de vendedor de jóias e violonista amador e de professora primária. Aprendeu violão, piano e violino e já aos 14 anos compôs sua primeira música, a valsa Vitória, a pedido da Companhia de Seguros Vitalícia Pernambucana. Daí em diante mais valsas, foxes, tangos, canções, vindo a especializar-se no frevo.
Ainda jovem tocou em pensões alegres, cafés, saraus e nos famosos cinemas Royal e Moderno do Recife. Foi o pianista mais ouvido na época do cinema mudo. Nos primeiros anos do rádio foi convidado pelo pioneiro Oscar Moreira Pinto para ser o diretor-artístico da Rádio Clube de Pernambuco, onde, além de compor, fundou vários grupos e orquestras e apresentou os mais variados programas, atingindo, com o seu talento e versatilidade, todas as camadas sociais.
Formou a partir dos anos 40 uma Orquestra de Frevos, cuja fama extrapolou as fronteiras pernambucanas, conseguindo sucesso nacional. Também foi homem do disco, na função de diretor-artístico da Fábrica Rosenblit, selo Mocambo, instalada nos anos 50 no Recife, então a única gravadora fora do eixo São Paulo-Rio.
Seu sorriso aberto e franco, sua bondade, seu espírito nativo e criativo, valeram-lhe muitos amigos em todos os segmentos. Alguns até se tornariam seus parceiros musicais: Sebastião Lopes (o bom Sebastião), Ziul Matos, Aldemar Paiva e tantos outros famosos na radiofonia pernambucana. Compôs sete Evocações, apreciadas em todo o Brasil nas quais homenageou carnavalescos, velhos companheiros, jornalistas e imortais da poesia como Manuel Bandeira, e artistas da dimensão de Ataulfo Alves, Lamartine Babo, Francisco Alves, entre outros.
Nelson é um dos nordestinos que possui maior número de músicas gravadas dentro da discografia nacional, embora grande parte seja desconhecida do resto do Brasil. Sua produção, ao lado da de outros pernambucanos, como Raul e Edgar Morais, Zumba, Levino Ferreira, Irmãos Valença, Luiz Gonzaga e Capiba, e outros mais, é de importância enorme no estudo das manifestações músico-sócio-culturais da região.
Teve sua primeira música gravada, em ritmo de samba, Borboleta não é ave, no Odeon 122.381, pelo Grupo do Pimentel, concomitantemente pelo cantor Bahiano, no Odeon 122.384, como marcha, ambos os registros para o Carnaval de 1923.
No final dos anos 20 suas músicas são constantemente gravadas no Sul pelos artistas mais famosos: Francisco Alves, Almirante, Carlos Galhardo, Araci de Almeida, Joel e Gaúcho, Augusto Calheiros, Minona Carneiro, e, nos anos seguintes, por Dircinha Batista, Nelson Gonçalves, várias orquestras, além de intérpretes pernambucanos do maior valor, no Recife, como Claudionor Germano e Expedito Baracho.
Sua importância como autor vai além dos frevos, já que compôs valsas tão aplaudidas na região quanto as vienenses, que lhe valeram do escritor Nilo Pereira estas palavras: “Feiticeiro do piano, fixador dum tempo que as suas valsas revivem como se estivessem falando. Se meia-hora antes de sair o meu enterro tocarem as valsas de Nelson, velhas valsas tão íntimas do meu mundo, irei em paz, sonhando.”
Sua projeção nacional evidenciou-se de forma efetiva em 1957 através de sua Evocação nr. 1, frevo de bloco sucesso no Carnaval de todo o país, no qual resgata com saudade momentos inesquecíveis do Carnaval do Recife: “Felinto, Pedro Salgado/Guilherme Fenelon/Cadê seus blocos famosos?...”
A Mocambo, em 1973, resgatou em 4 LPs uma produção de 50 anos do querido maestro, abrangendo valsas e frevos de rua, de bloco e canção, coletânea documental que é um retrato da própria história sócio-cultural de Pernambuco. Em sua extraordinária obra, Nelson fez adivinhações, brincou de Boca de Forno, de Coelho Sai, fez evocações, cantou a sua Veneza Americana e seus tipos populares, registrou a Revolução de 30 e a Segunda Guerra Mundial, os momentos românticos, alegres e tristes, disse da natureza humana, da tradição e dos costumes de sua gente.
Antes de falecer fez questão de demonstrar a enorme gratidão que sentia pela cidade que o fez seu cidadão. “Olhar meu Recife/Amar a sua gente/Que a graça da bondade sempre me concedeu/Vivendo um mundo assim/De ternura e de beleza/Quanto é bom envelhecer/Assim como eu”. Ainda em vida foi homenageado por governadores, prefeitos, clubes e entidades, tendo recebido a condecoração presidencial de Oficial da Ordem do Rio Branco.
Casado desde 1926 com D. Aurora, sua musa inspiradora durante toda a vida, confessava que os maiores orgulhos de sua vida eram ser pernambucano e poder despertar para Aurora. Foram anos e anos de doce felicidade com o filho e depois os netos no antigo casarão da avenida Mário Melo, onde se encontra a praça Nelson Ferreira com seu busto.
Veio falecer em 21.12.1976, com 74 anos. Foi velado na Câmara Municipal e fez o itinerário em direção á última morada nos braços do povo e ao som dos seus frevos e evocações. O maestro Vicenti Fittipaldi declarou de certa feita: “Ele era como Mário Melo, Ascenso Ferreira, Valdemar de Oliveira, uma das instituições da cidade. Era, com sua música, aquilo que Garrincha foi com o seu futebol, a alegria do povo. Tenho plena convicção de que daqui a duzentos anos Gostosão e a Evocação serão tocados e cantados pela gente do Recife. Não serão mais de Nelson Ferreira, serão folclore, serão como Casinha Pequenina, Prenda Minha e o Meu Limão, Meu Limoeiro, que, sem dúvida, também tiveram um autor”.
Quando seus olhos se cerraram pela última vez, escreveu Gilberto Freyre no Diário de Pernambuco: “O vazio que deixa é o que nos faz ver como era grande pela sua música, pelo seu sorriso, pela sua fidalguia de pernambucano.”
Renato Phaelante da Câmara

Norival Reis

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Norival Reis (Norival Torquato Reis), compositor e instrumentista, nasceu em Angra dos Reis/RJ em 24/3/1924. Criado em Dona Clara, bairro situado entre os subúrbios cariocas de Madureira e Osvaldo Cruz, freqüentou desde pequeno o G.R.E.S. da Portela e o G.R.E.S. Império Serrano.
Começou a trabalhar na gravadora Continental, e, influenciado pelo convívio com vários compositores, decidiu-se a compor. Em 1945, fez sua primeira marchinha, Até vestida, realizando logo depois O barão. De sua autoria foram gravados com sucesso Hoje ou amanhã (com Rutinaldo de Morais), pela dupla Joel e Gaúcho; A lua se escondeu (com Alcibíades Nogueira), por Rui Rei; e A saudade não foi leal (com Jorge Duarte), por Ângela Maria.
Em 1969 entrou para a ala dos compositores da Portela, levado por Cabana, com quem compôs Ilu ayê, samba-enredo dessa escola para o Carnaval de 1972, e em 1975, em parceria com Davi Antônio Correia, compôs Macunaíma, também samba-enredo vencedor.
Composições suas foram escolhidas como sambas-enredo ainda nos anos de 1983 (Hoje tem marmelada, com Jorge Macedo e Davi Antônio Correa) e 1984 (ABC dos orixás, com Dedé da Portela).
Estuda cavaquinho, toca um pouco de violão e é conhecido como um dos maiores especialistas em técnica de acústica e gravação de som, tendo ficado nacionalmente conhecido por ser o responsável pelo som personalizado do cavaquinho de Waldir Azevedo, para o qual criou um sistema especial de câmaras de eco improvisadas, antes de existir o aparelho no Brasil.
Obras: Amigo do rei (c/Alberto Rego), marcha, 1953; Barra da Tijuca (c/Irani Oliveira), samba, 1955; Hoje ou amanhã (c/Rutinaldo Silva), samba, 1952; Iaiá da Bahia (c/José Batista), batucada, 1957, Ilu ayê (Terra da vida) (c/Cabana), samba-enredo, 1972; A lua se escondeu (c/Alcíbiades Nogueira), marcha, 1952; Macunaíma (c/Davi Antonio Correia), samba-enredo, 1975; O morro canta assim (c/José Batista), samba, 1956; O samba é bom assim (c/Hélio Nascimento), samba, 1958; A saudade não foi leal (c/Jorge Duarte), samba, 1961.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora

Olga Praguer Coelho

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Olga Praguer Coelho, soprano e violonista, nasceu em Manaus, AM em 12/8/1909. Sua iniciação musical foi feita pela mãe. Em 1920, a família transferiu-se para Salvador. Em 1923 estabeleceram-se no Rio de Janeiro, num casarão situado na Rua das Laranjeiras. Posteriormente, em 1927, teve aulas de violão com o cantor e violonista Patrício Teixeira.
Em 1928 Patrício Teixeira a levou para a Rádio Clube do Brasil. No ano seguinte, realizou sua primeira gravação para a Odeon, registrando a embolada A mosca na moça, de motivo popular e o samba do norte Sá querida, de Celeste Leal Borges. Nessas gravações foi acompanhada pelos violões de Patrício Teixeira e Rogério Guimarães.
Ainda em 1929, passou a estudar sob a orientação do compositor Lorenzo Fernandez, com quem teve aulas de teoria, harmonia e composição. Em 1932, ingressou no Instituto Nacional de Música, estudando sob a orientação de Lorenzo Fernandez. Concluiu o curso rapidamente, diplomando-se no ano seguinte. Passou então a tomar aulas de canto com Riva Pasternak e Gabriella Bezansoni. Casou-se com o poeta Gaspar Coelho.
Em 1930, lançou mais três discos pela Odeon dos quais se destacam os motivos populares Puntinho branco, com versos de Olegário Mariano, Morena, com versos de Guerra Junqueiro e a canção Vestidinho novo, de Joubert de Carvalho.
Em 1935, assinou contrato de exclusividade com a Rádio Tupi do Rio de Janeiro e São Paulo. No mesmo ano, apresentou-se em Buenos Aires na Argentina, quando da visita do Presidente Vargas aquele país. No ano seguinte, gravou 7 discos na Victor (14 músicas), entre as quais adaptações de canções tradicionais - tipo de trabalho que caracterizaria sua carreira artística, como a modinha Róseas flores e o lundu Virgem do rosário além da canção Luar do sertão, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense e a modinha Gondoleiro do amor, de motivo popular com versos de Castro Alves.
Gravou ainda com Pedro Vargas o lamento Canto de expatriação, de Humberto Porto e o acalanto Boi, boi, boi, de motivo popular com adaptação de Georgina Erisman. Ainda no mesmo ano, foi indicada pelo governo Vargas como Embaixatriz do Brasil no Congresso Internacional de Folclore realizado em Berlim na Alemanha.
Em 1937, seguiu para Europa, onde teve aulas de canto com Rosner. Em 1938, lançou mais um disco na Victor com o registro da modinha Mulata tema popular com versos de Gonçalves Crespo e a macumba Estrela do céu, uma adaptação sua de um motivo popular.
Em 1939, apresentou-se em Lisboa, empreendendo em seguida uma turnê pela Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Em 1942 gravou na Victor o coco Meu limão, meu limoeiro, do folclore brasileiro e a modinha Quando meu peito..., de domínio público.
Em 1944, conheceu o violonista espanhol Andres Segovia (1893-1987) com quem passou a viver. Segovia lhe dedicou várias transcrições e arranjos para canto e violão. Passou desde então a residir em Nova York e empreendeu uma vitoriosa carreira artística internacional. Freqüentou a elite musical européia tendo sido apresentada na França pelo compositor Darius Milhaud, na Itália por Mario Castelnuovo-Tedesco, em Estocolmo por Segóvia e em Nova York por Sergey Koussevitzky e Aaron Copland.
Vários compositores lhe dedicaram obras e transcrições para voz e violão, destacando-se no conjunto dessas a da famosa "Bachianas nº 5" de Villa Lobos (original para oito violoncelos), feita especialmente para ela, que contava com o apoio da esposa de Villa Lobos, Dª Mindinha, para convencê-lo a tal empreendimento. A obra foi estreada com enorme sucesso em concerto no Town Hall em Nova York, contando com a presença de Segóvia e Villa-Lobos na platéia.
Em 1956, jornais de várias nacionalidades destacaram a beleza de sua arte. Para o "Le Figaro", ela possuía "uma bela voz, uma extraordinária musicalidade a serviço de um repertório único". No "New York Times" recebeu crítica do famoso musicólogo americano Olin Downes, dizendo que "cantando Villa-Lobos, o legendário pássaro uirapuru brasileiro, Olga também toca seus acompanhamentos de guitarra com a maestria que aprendeu de Segovia. Um alcance extraordinário de voz e de repertório. A maior folclorista que este crítico já encontrou".
Na velhice, passou a viver em um apartamento na Rua das Laranjeiras, num prédio construído no lugar do casarão onde morou com sua família na sua juventude.

Otília Amorim

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A atriz e cantora Otília Amorim nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 13/11/1894 e faleceu em São Paulo/SP, circa 1970. Estudou num colégio de freiras, até que dificuldades financeiras da família levaram à interrupção de seus estudos.
Estreou como artista em 1910 atuando como atriz no filme Vida do Barão do Rio Branco, de Alberto Botelho. No ano seguinte estreou como corista no Teatro de revistas com Peço a palavra, no Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro.
Era uma completa atriz de revista. Dançava, era caricata, representava, era bonita e desembaraçada, com total domínio da platéia, foi, segundo o poeta Orestes Barbosa, "a precursora do samba no palco". Grande dançarina de maxixes, seu primeiro papel importante foi de Olga na opereta Ela encenada no antigo Teatro Chantecler.
Trabalhou em muitas companhias teatrais, dentre as quais a de Carlos Leal e Procópio Ferreira. Trabalhou com Leopoldo Fróes, com quem excursionou pela Bahia e Pernambuco, até ingressar no Teatro São José, onde estreou em 1918, na burleta Flor do Catumbi, de Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt, com música de Júlio Cristóbal e Henrique Sánchez.
Em 1919, voltou ao cinema, atuando nos filmes Alma sertaneja e Ubirajara, ambos de Luís de Barros. No ano seguinte, apresentou-se no Teatro São José cantando com grande sucesso, ao lado de Álvaro Fonseca a marcha Pois não, de Eduardo Souto e Philomeno Ribeiro, no quadro Gato, Baêta e Carapicu, na revista Gato, baeta e carapicu, de Cardoso de Meneses, Bento Moçurunga e Bernardo Vivas.
Em 1922 , exibiu-se com sua própria companhia no Teatro Recreio, excursionando em seguida por São Paulo e Rio Grande do Sul. Na revista Se a moda pega, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses com música de Henrique Vogeler, encenada em 1925 no Teatro João Caetano, interpretou a marcha Zizinha, de Freitinhas.
Sua discografia é pequena, e se iniciou somente em 1931, com cinco discos para a Victor, de onde se destacam o samba Eu sou feliz e o samba batuque Nego bamba, ambos de J. Aimberê. Neste mesmo ano, participou do filme Campeão de futebol, de Genésio Arruda. Ainda na mesma época, gravou do maestro pernambucano Nelson Ferreira, o samba Tu não nega sê home.
Em 1932 estreou no Teatro recrio a revista Calma, Gegê!, onde interpretou o grande sucesso da temporada, a marcha Gegê, de Getúlio Marinho. No mesmo ano gravou na Columbia a marcha Napoleão, de Joubert de Carvalho.
O escritor e musicólogo Mário de Andrade, no Compêndio de História da Música, relacionou entre seus sambas preferidos, quatro gravados por ela: Nego bamba, Vou te levar, Eu sou feliz e Desgraça pouca é bobagem.
Após casamento com empresário paulista, retirou-se da vida artística. Em 1963, recebeu a medalha Homenagem ao Mérito, da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, por sua dedicação ao teatro brasileiro. Em 1989, o selo Revivendo lançou o LP Sempre sonhando com interpretações suas e de Gastão Formenti, Alda Verona, Raul Roulien.

Pepa Delgado

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Pepa Delgado (Maria Pepa Delgado), cantora e atriz de teatro de revistas nasceu em 21/7/1887 em Piracicaba, SP e faleceu em 11/3/1945, no Rio de Janeiro, RJ. Era filha Ana Alves e do toureiro espanhol Lourenço Delgado, que se tornou fotógrafo ao chegar ao Brasil.
Em 1902 veio com o pai para o Rio de Janeiro e, aos 15 anos de idade, se tornou atriz e cantora. Entre 1902 e 1920, atuou em várias revistas encenadas no Teatro São José, no Rio de Janeiro. Em 1905, gravou para a Casa Edison a cançoneta O abacate e o maxixe Café ideal, ambos da revista Cá e lá, com música da maestrina Chiquinha Gonzaga. No mesmo ano, gravou Um samba na Penha, da revista Avança e A recomendação, de Assis Pacheco.
Em 1912, a Columbia lançou discos seus, nos quais se lia em uma das faces: "Atriz brasileira que tem feito sucesso e arrancado (sic) de nosssas platéias as mais ruidosas manifestacoes (sic)". Em algumas dessas gravações, se apresentou cantando em duetos com Mário Pinheiro, registrando, entre outras, o tango Vatapá, de Paulino Sacramento.
Entre suas gravações, destacam-se ainda a canção Iara (Rasga o coração), de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense e, principalmente, Corta-jaca (Gaúcho), de Chiquinha Gonzaga, sua gravação de maior sucesso, ao lado do cantor Mário Pinheiro.
Em 1920, casou-se com o oficial do Exército Almerindo Álvaro de Moraes, que era tesoureiro do Clube dos Democráticos, onde se tornara mais conhecido pelo apelido de Lambada.
Pepa muitas vezes saiu integrando a comissão de frente no desfile dos Préstitos da terça-feira gorda. Nesse mesmo ano seguiu com o marido para a cidade de Campos-RJ, onde se apresentou em teatros.
Encerrou sua carreira artística em 1924, aos 37 anos de idade. Foi ela quem solicitou a Fred Figner, proprietário da Casa Edison e diretor-geral da Odeon Brasileira, que doasse um terreno em Jacarepaguá para construir o Retiro dos Artistas, situado na Rua dos Artistas, ainda hoje em funcionamento.

Paquito

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Paquito (Francisco da Silva Fárrea Júnior), compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 9/2/1915 e faleceu na mesma cidade em 31/7/1975. Compositor de músicas carnavalescas, geralmente satirizando os dramas da "vida apertada" dos moradores dos subúrbios cariocas, obteve seu primeiro grande sucesso no carnaval de 1941 com O trem atrasou (com Estanislau Silva e Artur Vilarinho), gravado por Roberto Paiva.
Lançou o samba Não me diga adeus (com Luís Soberano e João Correia da Silva), gravado por Araci de Almeida, para o carnaval de 1948. Tornou-se, a partir do ano seguinte, presença constante nas paradas carnavalescas, começando nessa época a compor com Romeu Gentil, que seria seu grande parceiro durante toda a vida.
Jacarepaguá (com uma melodia semelhante à da rumba Cubanchero), o primeiro grande êxito da dupla, em parceria com Marino Pinto, foi gravado pelos Vocalistas Tropicais para o carnaval de 1949.
Seguiram-se vários sucessos, como a marcha Daqui não saio, também gravada pelos Vocalistas Tropicais e grande sucesso do carnaval de 1950, satirizando o problema de moradia no Rio de Janeiro; Tomara que chova, gravado pelos Vocalistas Tropicais e por Emilinha Borba para o Carnaval de 1951; a Marcha do conselho gravada por Roberto Paiva em 1954; e no ano seguinte Água lava tudo, marcha da dupla com Jorge Gonçalves, gravada depois por Emilinha Borba.
Em 1956, Jackson do Pandeiro fazia grande sucesso com Boi da cara preta, marcha da dupla com José Gomes e em 1961 surgia Bobeei, sendo Bigorrilho o último sucesso da dupla, gravado em 1964 por Jorge Veiga e inspirado no samba de Pixinguinha O malhador.
Foi um dos fundadores da SBACEM, da qual foi fiscal, morrendo depois de longa doença.
Obras: Água lava tudo (c/Romeu Gentil e Jorge Gonçalves), marcha, 1955; Bigorrilho (c/Romeu Gentil e Sebastião Gomes), samba, 1964; Bigu (c/Romeu Gentil e Sebastião Gomes), samba, 1965; Boi da cara preta (c/Romeu Gentil e José Gomes), marcha, 1956; Daqui não saio (c/Romeu Gentil), samba, 1950; Jacarepaguá (c/Romeu Gentil e Marino Pinto), marcha, 1949; Não me diga adeus (c/Luís Soberano e João Correia da Silva), samba, 1947; Nem de vela acesa (c/Romeu Gentil), marcha, 1950; Tomara que chova (c/Romeu Gentil), marcha, 1951; O trem atrasou (c/Estanislau Silva e Artur Vilarinho), samba, 1941.

Quarteto em Cy

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Quarteto em Cy

Quarteto em Cy - Conjunto vocal formado em Salvador BA pelas irmãs Cyva (Cyva de Sá Leite, Ibirataia BA 1939-), Cybele (Cybele de Sá Leite, Ibirataia 1940-), Cynara (Cynara de Sá Leite, Ibirataia 1945-) e Cylene (Cylene de Sá Leite 1946-).
Inicialmente Cynara e Cylene, Cyva e Cybele cantavam em duplas em Salvador. Depois, uniram-se, formando o quarteto, que estreou na TV Itapoã, em Salvador. Em 1959, Cyva foi para o Rio de Janeiro RJ tentar carreira artística, e depois as outras a seguiram. Conheceram, então, Vinícius de Moraes, que sugeriu o nome para o quarteto.
Em maio de 1963, o conjunto gravou com Catulo de Paula a trilha sonora do filme Sol sobre a lama, de Alex Viany. Em 1964 o quarteto fez o primeiro show, na boate carioca Bottle's, e em seguida acompanhou Vinícius de Moraes e Dorival Caymmi em show produzido por Aluísio de Oliveira na boate carioca Zum-Zum, gravando o primeiro LP - Quarteto em Cy - pela Forma, onde se destacaram suas interpretações de Reza (Edu Lobo e Rui Guerra) e Berimbau (Baden Powell e Vinícius de Moraes).
Em 1965 lançou, também pela Forma, o LP Som definitivo, com, entre outras, Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes) e Das rosas (Dorival Caymmi); e, em 1966, gravou o LP Quarteto em Cy, pela Elenco, com Pedro pedreiro (Chico Buarque de Hollanda) e Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinícius de Moraes).
Sem Cylene, que saiu do grupo para casar e foi substituída por Regina, cantora carioca que mudou seu nome para Cyregina, o quarteto foi aos EUA, ainda em 1966, apresentando-se em televisão. Na volta, participou do Show do crioulo doido, de Sérgio Porto, no Teatro Toneleros, no Rio de Janeiro.
A partir de 1967, Cynara e Cybele, sem se desligarem do quarteto, começaram a cantar em dupla, defendendo Carolina (Chico Buarque de Hollanda), no II FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro, em que foram classificadas em terceiro lugar. Ainda no mesmo ano, o grupo lançou o LP Marré em Cy pela Elenco.
Em 1968, Cynara e Cybele cantaram a música vencedora do III FIC: Sabiá (Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim); e o quarteto gravou, nesse mesmo ano, o LP Em Cy maior, pela Elenco, com Samba do crioulo doido (Sérgio Porto) e Juliana (Dorival Caymmi).
Através do produtor Aluísio de Oliveira, casado com Cyva, o quarteto foi contratado para atuar nos EUA. Cynara e Cybele deixaram o conjunto nessa ocasião e foram substituídas por Cynthia e Cymíramis, ficando apenas Cyva, do quarteto original. No entanto, em janeiro de 1970, ainda nos EUA, o grupo se desfez, sendo reestruturado em 1972, quando Cyva voltou ao Brasil. A partir de então o quarteto foi formado por Cyva e Cynara e mais Soninha (Sônia Maria Ferreira de Medeiros Albuquerque, Rio de Janeiro 1947-) e Dorinha (Dora Tapajós Gomes, Rio de Janeiro 1950-).
O conjunto gravou, em 1972, pela Odeon, o LP Quarteto em Cy, com Quando o carnaval chegar (Chico Buarque de Hollanda) e Tudo o que você podia ser (Lô e Márcio Borges). Em 1975, lançou pela Philips o LP Antologia do samba-canção, com pot-pourri de Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins e outros, e em 1979 saiu Cobra de vidro, LP gravado com o MPB-4. No ano seguinte Cybele voltou ao grupo em lugar de Dorinha, e essa formação permanece há 18 anos, sempre sob a direção musical de Célia Vaz.
Na década de 1980 gravaram os discos Quarteto em Cy interpreta Caetano, Milton, Gonzaguinha e Ivan (1981, Philips); Pontos de luz (1983, Som Livre); A arte do Quarteto em Cy (1984, Philips); e Para fazer feliz a quem se ama (1989, CBS).
Em 1989 o quarteto apresentou-se em Tóquio, participando de um festival de bossa nova, de shows na boate Kay e de um especial para a TV japonesa, juntamente com Carlos Lyra e Leila Pinheiro. Em 1992 viajou pela Espanha, com Carlos Lyra, Gilson Peranzetta e Maria Creuza, participando das comemorações dos 500 anos do descobrimento da América a convite do governo espanhol.
O quarteto voltou a se apresentar no Japão em 1997. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Sharp de Música como o melhor grupo vocal do ano e lançou pela Polygram o CD Bate boca, em que interpreta músicas de Chico Buarque e Tom Jobim ao lado do MPB-4. Na década de 1990 foram lançados os discos Chico em Cy (1991, CID); Vinícius em Cy (1993, CID); Trinta anos (1994, Polygram) e Brasil em Cy (1996, CID).
Fonte: Adaptado da Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 2000.

Quatro Ases e um Coringa

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Quatro Ases e um Coringa - Grupo carioca formado no Rio de Janeiro na década de 40 por três irmãos (Evenor, José e Permínio Pontes de Medeiros) e um amigo André Batista Vieira). Inicialmente um quarteto, adotaram o nome Quatro Ases e Um Coringa com a entrada do último elemento, Pijuca.
Trabalharam nas maiores emissoras de rádio da época (Mayrink Veiga, Nacional, Tupi) ao lado de figuras como Fernando Lobo e César Ladeira. Tornaram-se, ao lado dos Anjos do Inferno, um dos conjuntos vocais mais populares da década de 40.
Gravaram o primeiro disco em 1941, e depois disso realizaram diversas gravações, principalmente de marchas de carnaval. Foram do elenco do Cassino Copacabana. Por volta de 1952 alguns integrantes da formação original saíram, e foram substituídos por outros cantores (Jorge, Nilo Falcão e Miltinho) até a dissolução final, em 1957.
Os maiores sucessos do grupo foram na década de 40: Viva quem tem bigode (David Nasser e Rubens Soares), No Ceará é assim (Carlos Barroso), Trem de ferro (Lauro Maia), Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Onde estão os tamborins (Pedro Caetano), Cabelos brancos (Herivelto Martins e Marino Pinto), Baião de Dois (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira).

Laurindo de Almeida

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Laurindo de Almeida, instrumentista e compositor, nasceu em Miracatu, SP, em 2/9/1917 e faleceu em Los Angeles, EUA, em 26/7/1995. Filho de um ferroviário seresteiro de Miracatu, ainda garoto começou a tocar violão, tendo aprendido rudimentos de música com a mãe.
Em 1936 mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a se apresentar nos cassinos da Urca, Atlântico e Icaraí (em Niterói), e na Rádio Mayrink Veiga, inclusive em dupla com Garoto. Em 1940 participou, ao lado de Donga, Pixinguinha, Cartola e outros, de gravações de música popular brasileira realizadas para o maestro Leopoldo Stokowski (1882—1976), que visitava o Brasil.
Com o fechamento dos cassinos, foi para os EUA, estabelecendo-se em Hollywood, onde recebeu oferta para tocar no filme A Song is Born, em 1947. Em seguida foi contratado como violonista para a orquestra de Stan Kenton, na qual começou a se tornar conhecido, obtendo grande sucesso, chegando a ser considerado um dos melhores do jazz em seu instrumento. Com a orquestra, gravou sua primeira música como solista, Lament, na etiqueta Capitol. Mais tarde formou seu próprio trio, apresentando-se na área de Hollywood.
Em 1949 gravou seu primeiro disco individual Concert Creation for Guitar. Lançou, em seguida a série de três LPs Brazilliance na etiqueta World Pacific, e em 1951 gravou o LP Suenos (Dreams), com a canção Sonho. Em 1953 lançou, com o saxofonista Bud Shank, nova série de discos, reeditada em 1962.
Ainda pela Capitol, gravou em 1956 o LP Guitar Music of Latin America, com Caixinha de música e, em 1957, Impressões do Brasil, com Pôr-do-sol em Copacabana e Serenata, composições suas. Como músico de jazz viajou pela Europa, Oceania, Oriente Médio e Japão.
Em 1962, com a popularidade da bossa nova nos EUA, sua carreira recebeu novo impulso, embora não tenha feito parte dos iniciadores do movimento. Em 1963 e 1964 gravou, e excursionou à Europa, com o Modern Jazz Quartet, e em seguida foi arranjador e regente de vários artistas norte-americanos.
Em 1964 recebeu o prêmio Grammy pelo disco Guitar from Ipanema. Em 1967 esteve no Brasil, apresentando-se na Sala Cecilia Meireles, no Rio de laneiro, e como convidado especial do II FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro. Fez trilhas sonoras para diversas séries de filmes norte-americanos de televisão, entre as quais O Fugitivo. Como compositor teve músicas gravadas por Carmen Miranda, Araci de Almeida, Orlando Silva e outros.
Em 1979 foi lançado nos EUA o disco First Concerto for Guitar Orchestra, no qual, acompanhado pela Orquestra de Câmera de Los Angeles, interpreta um concerto de sua autoria e o Concerto n.4 para violão e orquestra, de Radamés Gnattali. CDs: Music of the Brazilian Masters, 1989, Concord Jazz 4389; Brazilllance, vols. 1 e 2, s.d., World Pacific 96339; First Concerto for Guitar Orchestra, s.d., Concord Jazz 42001.
Fonte: Adaptado da Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

Quatro Diabos

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Quatro Diabos - Conjunto vocal integrado pelos estudantes da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Carlos Monteiro de Sousa (Carlos José Monteiro de Sousa, Niterói/RJ 1916 id. 1975), líder do conjunto, e mais tarde maestro e arranjador, Nelson Eduarao Souto (Rio de Janeiro 1917—id. 1979), Roberto Gonzaga e Luis Domes Carneiro.
O grupo estreou em 1934 na Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro, no Esplêndido Programa, de Valdo Abreu, onde se apresentou cantando Porteira infernal, composição dos próprios integrantes. Só no disco de estréia, na Odeon, porque o cantor Arnaldo Pescuma juntou-se a eles, apareceram como os Cinco Diabos, lançando para o carnaval de 1935 as marchas Muita gente tem falado de você (Mano Paulo e Arnaldo Pescuma) e A mais bonita do planeta (Nelson Souto e Roberto Gonzaga).
Depois, no filme carnavalesco Alô, alô Brasil, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, de 1935, todos os cinco cantaram a marcha Menina internacional (João de Barro e Alberto Ribeiro), com Dircinha Batista. Nesse ano os quatro excursionaram com Carmen Miranda e Aurora Miranda a Belo Horizonte MG e gravaram um disco com a marcha Meu coração (Kid Pepe e Jose Fernandes) e o samba Você foi a culpada (Kid Pepe e Buci Moreira).
Em 1936 cantaram no filme Alô, alô Carnaval, de Ademar Gonzaga, a marcha Muito riso e pouco siso (João de Barro e Alberto Ribeiro), novamente com Dircinha Batista, e gravaram para o Carnaval um disco com os sambas Bombardeio de cidade (Mano Travassos de Araújo) e Sou escravo do destino (Kid Pepe, Germano Augusto e José da Silva).
Fonte: Enciclopédia da música Brasileira - Art Editora

Ascendino Lisboa

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Ascendino Lisboa, cantor e compositor, nasceu em Rio Tinto/PB e faleceu em 23/6/1975. Atuou entre fins da década de 1920 e fins da década de 1930. Gravou seu primeiro disco pela Victor em 1929 com acompanhamento da orquestra Victor cantando os sambas Dou tudo, de André Filho e Tapeação, de João Martins.
No mesmo ano, gravou na Parlophon com acompanhamento da Simão Nacional Orquestra os sambas Antes só, de Nílton Bastos e Sabes por que, de Aprígio de Carvalho.Em 1933, gravou pela Victor os sambas Canta bem-te-vi, de Guilherme Pereira e Agora é tarde, de André Filho, com acompanhamento do grupo Diabos do Céu. Em seguida, gravou em dueto com Raul Torres as modas-de-viola Boi amarelinho, de Raul Torres, e Pro mode namoração, de sua autoria.
Nesse ano, ingressou na Columbia e gravou os sambas Falta de consciência, de Ary Barroso e Zombando da vida, de Ary Barroso e M. L. de Azevedo com acompanhamento de I . Kolman e sua orquestra do Lido do Rio de Janeiro. No ano seguinte gravou a canção Quando a noite vem, de sua autoria.
Em 1935, formou uma orquestra da qual fez parte o regente e instrumentista Aristides Zacarias e viajou ao Rio Grande do Sul para inaugurar o Cassino Farroupilha, de Porto Alegre, apresentando-se nas comemorações do Centenário Farroupilha e na Rádio Farroupilha.
Foi contratado pela Odeon em 1936 e gravou com acompanhamento de Antenógenes Silva ao acordeom as marchas Minha linda Guanabara e Boneca não tem coração, de Antenógenes Silva e Ernâni Campos. No ano seguinte, lançou de Bonfiglio de Oliveira e Valfrido Silva a marcha Margarida e o maxixe O teu sapateado com acompanhamento da Orquestra Odeon. Gravou oito discos pelas gravadoras Odeon, Columbia, Parlophon e Victor.
Em 1997, sua interpretação do maxixe O teu sapateado, de Bonfiglio de Oliveira e Valfrido Silva foi relançada pelo selo Revivendo no CD Bomfiglio de Oliveira - Compositor e Trompetista de Ouro. Outra gravação sua relançada pelo mesmo selo foi a da canção Quando a noite vem, de sua autoria.
Em 2003, sua interpretação do samba Zombando da vida, de Ary Barroso e M.L. Azevedo foi relançada no primeiro volume da série de seis CDs lançados pelo selo Revivendo em homenagem ao centeário de nascimento do compositor mineiro.
Em 2004, teve sua interpretação da moda-de-viola Boi amarelinho, de Raul Torres gravada em dueto com o autor relançada pelo selo Revivendo no CD Raul Torres e seus parceiros. Nesse ano, o governador da Paraíba asssinou o termo de lançamento do início das obras para a construção de uma praça com seu nome no município de Rio Tinto, onde nasceu.

Paulo Borges

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Paulo Borges (Paulo Alves Borges), compositor, nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 28/9/1916. Compôs uma série de musicas para o conjunto Anjos do Inferno, fundado por seu irmão e parceiro Oto Borges, a primeira delas em 1935, Estrela da manhã.
Em janeiro de 1939 atuou brevemente no conjunto como cantor. Sua primeira composição gravada foi Farrapo, pelo cantor Jorge Fernandes, na Odeon em 1953, e seu maior sucesso, Cabecinha no ombro, na voz de Alcides Gerardi, etiqueta CBS.
Obras : Cabecinha no ombro, rasqueado, 1961; Cartão postal, samba-canção, 1961; Mãezinha querida, valsa, 1961.

Radamés Gnattali

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Radamés Gnattali
Foto: Divulgação / PMPA

O compositor, arranjador, regente, pianista e professor Radamés Gnattali nasceu em Porto Alegre/RS em 27/1/1906 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 13/2/1988. Filho do imigrante italiano Alessandro Gnattali e da pianista gaúcha Adélia Fossati, foi criado em um ambiente tipicamente italiano, com seus costumes, cultura e o amor pela música. Foi envolvido desde cedo pela paixão que os pais nutriam pela ópera, que se refletiu nos nomes dos três filhos do casal: Radamés, Aída e Ernâni, todos personagens de óperas de Verdi.
Aprendeu piano com a mãe e aos 9 anos ganhou um prêmio por sua atuação como regente de uma orquestra infantil, que tocou arranjos feitos por ele. Aos 14 entrou para o Conservatório de Porto Alegre para estudar piano, e acabou dominando também a viola. Já por essa época freqüentava blocos de carnaval e grupos de seresteiros boêmios, para os quais, na impossibilidade de levar o piano, aprendeu a tocar cavaquinho. Até se formar no conservatório, estudava para ser concertista e tocava em cinemas e bailes para se sustentar.
Em 1924, recém-formado, foi para o Rio de Janeiro se apresentar no Teatro Municipal, executando um concerto de Tchaikovski sob regência de Francisco Braga. Nessa viagem conheceu o compositor Ernesto Nazareth, e passou os dois anos seguintes entre Porto Alegre e Rio, sempre trabalhando com música erudita.
Em sua cidade natal montou um quarteto de cordas e com ele viajou por todo o estado, o que fortaleceu sua base para a orquestração. No início dos anos 30 radicou-se definitivamente no Rio de Janeiro, onde se deu sua estréia como compositor, com a apresentação de Rapsódia Brasileira, interpretada pela pianista Dora Bevilacqua. Por essa época, em face às dificuldades com a carreira de concertista, resolveu investir no mercado da música popular. Foi contratado por orquestras que animavam bailes, festas e programas de rádio.
Em 1934 passou a ser o orquestrador da gravadora Victor e dois anos depois participou da inauguração da Rádio Nacional. Lá Radamés atuou como pianista, solista, maestro, compositor, arranjador, usando sua bagagem erudita no trato com a música popular. Permaneceu na Rádio Nacional por 30 anos e criou arranjos antológicos, como Lábios que beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo), gravado por Orlando Silva em 1937, e Aquarela do Brasil (Ary Barroso), em 1939.
Em 1943 criou a Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali, que tocava os arranjos do maestro no programa Um Milhão de Melodias, dando um colorido brasileiro aos sucessos estrangeiros. Para isso, Radamés passou a usar os instrumentos da orquestra de forma percussiva, conseguindo efeitos até então inéditos. O programa foi também o primeiro a prestar homenagens a compositores como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Zequinha de Abreu.
Enquanto atuou no rádio não deixou de lado as carreiras de pianista, concertista e compositor. Compôs concertos e peças sinfônicas executadas ao redor do mundo. Em 1960 viajou à Europa com o Sexteto Radamés Gnattali, grupo derivado do Quarteto Continental, criado na Rádio Continental em 1949. O Sexteto era formado por Radamés, Aída Gnattali (piano), Chiquinho do Acordeom, Zé Menezes (guitarra), Pedro Vidal Ramos (baixo) e Luciano Perrone (percussão).
Nos anos 60 foi contratado pela TV Globo, onde trabalhou durante 11 anos como arranjador, compositor e regente. Foi peça fundamental no movimento de redescoberta do choro ocorrido na década de 70, atuando como incentivador e mestre de jovens instrumentistas como Raphael Rabello, Joel Nascimento, Maurício Carrilho, a Camerata Carioca, e estimulando releituras de Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e outros mestres do choro.
Em 1983, recebeu o prêmio Shell na categoria música erudita, concedido por unanimidade, ocasião em que foi homenageado com um concerto no Teatro Municipal, que contou com a participação da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, do Duo Assad e da Camerata Carioca.

Raul de Barros

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Raul de Barros
Raul de Barros (Raul Machado de Barros), instrumentista, compositor e regente nasceu no Rio de Janeiro RJ em 25/11/1915. No início da década de 1930 tomou lições de sax-horn com Ivo Coutinho, mas logo trocou-o pelo trombone, que aprendeu com Eugênio Zanata.
A partir de 1935, tocou em pequenos clubes de bairros e subúrbios do Rio de Janeiro, e mais tarde trabalhou nos dancings Carioca e Eldorado, dos quais o maestro Carioca o levou para a Rádio Tupi. Três anos depois, começou a acompanhar cantores em gravações e excursionou por Montevidéu, Uruguai, passando em seguida para a Rádio Globo, onde formou sua própria orquestra, tocando no programa Trem da Alegria. Mais tarde foi convidado a gravar na sua orquestra na Odeon, lançando então seu chorinho Na Glória, com o qual ficaria famoso.
Em 1950 casou com a cantora Gilda de Barros, crooner de sua orquestra, e em seguida transferiu-se para a Rádio Nacional, onde teve um programa semanal e atuou em vários outros. Numa eleição promovida pelo crítico Ari Vasconcelos, em sua coluna da revista O Cruzeiro, foi escolhido em 1955 o melhor trombonista do ano. Nos anos seguintes gravou quatro LPs na Odeon e, em 1961, participou da gravação do LP do cantor Gilberto Alves, na Copacabana.
Em 1966 fez parte da delegação brasileira ao Festival de Arte Negra de Dacar, Senegal, ao lado de Clementina de Jesus, Ataulfo Alves, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e outros. Em 1974 gravou, como solista, um LP para a Marcus Pereira. Além de Na Glória, que se tornou seu prefixo musical (muito conhecido pela seqüência melódica para as palavras "Na Glória", dominante-tônoca-tônica, o que ajuda a "dar o tom" a cantores), gravou também, e com êxito, Pô-rô-rô, Pô-rô-rô, de sua autoria.
Gravou 48 discos, um deles em CD, reedição do LP O som da gafieira (1979), pela gravadora CID. Em 1997, ao completar 82 anos, estava doente, pobre e esquecido, no município fluminense da Maricá, afastado da vida artística.
Fontes: Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 2000.

Romeu Gentil

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O compositor e cantor Romeu Gentil (Romeu Scovino) nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 3/6/1911 e faleceu na mesma cidade em 15/10/1983. Nasceu na praça Onze e se criou no morro do Pinto, tendo cursado o primário numa escola local. Aos 12 anos deixou os estudos e começou a trabalhar numa fabrica de chinelos. No morro do Pinto fez amizades e se tornou seresteiro, aprendendo violão com seu sobrinho Jorge Scovino.
Começou a carreira profissional como cantor em 1940, apresentando se em varias rádios, destacando-se o programa Barbosa Júnior, da Rádio Mayrink Veiga, em 1942. Nessa época conheceu o compositor Zé Pretinho, seu parceiro no samba Estou sentido com você, gravado no mesmo ano por Arnaldo Amaral, na Columbia.
Daí em diante prossegue compondo, tendo gravado também como cantor, na Mocambo. Uma de suas composições, Jornal de ontem, na voz de Orlando Silva, foi utilizada numa rádionovela da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, em 1944.
Formou com Paquito uma dupla que se tornou famosa por suas composições de Carnaval. Em 1949, a marcha Jacarepaguá (com Paquito e Marino Pinto), alcançou algum sucesso, sendo gravada pelos Vocalistas Tropicais. Um ano depois, em parceria com Paquito, compôs a marcha Daqui não saio gravada pelo mesmo conjunto, que venceu o concurso de músicas de carnaval promovido pela prefeitura do Rio de Janeiro. A dupla conseguiu o mesmo prêmio no ano seguinte com Tomara que chova, gravada por Emilinha Borba e pelos Vocalistas Tropicais.
Em 1955, seu nome apareceria novamente com destaque no carnaval, com a marcha Água lava tudo (com Paquito e Jorge Gonçalves), gravada por Emilinha Borba. Por essa época, várias de suas músicas faziam parte de peças de teatros de revista, entre os quais o Recreio, o Rival e o Carlos Gomes.
Em 1956, Boi da cara preta (com Paquito e José Gomes) tornou-se popular na gravação de Jackson do Pandeiro. Em 1958 gravou um disco na Mocambo como cantor, a marcha O Lopes perdeu a guerra (com Paquito e Boexi) e o samba Desconfiei (com Walter Machado). Outro grande sucesso de sua autoria foi Bigorrilho (com Paquito e Sebastião Gomes), gravado por Jorge Veiga em 1964. Durante 22 anos foi fiscal da SBACEM.
Obras
Água lava tudo (c/Paquito e Jorge Gonçalves), marcha, 1955; Bigorrilho (c/Paquito e Sebastião Gomes), samba, 1964; Bigu (c/Paquito e Sebastião Gomes), samba, 1965; Boi da cara preta (c/Paquito e José Gomes), marcha, 1956; Daqui não saio (c/Paquito), marcha, 1950; Jacarepaguá (c/Paquito e Marino Pinto), marcha, 1949; Nem de vela acesa (c/Paquito), marcha, 1950; Tomara que chova (c/Paquito), marcha, 1951.

Raul Roulien

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O cantor, ator e diretor de teatro e cinema Raul Roulien (Raul Entini Pepe Acolti Gil) nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 8 de Outubro de 1905 e faleceu em São Paulo em 8 de setembro de 2000. Nasceu no bairro carioca de Botafogo. Cantava desde a infância. Conta-se que foi ouvido pelo Presidente Rodrigues Alves e por Rui Barbosa.
Quando visitava um irmão em Buenos Aires, foi contratado para cantar no Cine Porteño, passando a se dedicar ao teatro. Casou-se duas vezes. Sua primeira mulher foi a atriz Abgail Maia. A segunda, também atriz, Diva Tosca, foi atropelada e morta em Holywood em 1933, por um jovem embriagado, o futuro diretor de cinema John Huston.
Começou a carreira artística aos oito anos, como Raul Pepe. Faleceu em São Paulo aos 98 anos, vitimado por problemas cardíacos. Afilhado de Ruy Barbosa, foi homenageado no velório pelo Botafogo, do qual era torcedor apaixonado e pela família imperial, à qual era ligado, por ser monarquista.
Destacou-se primeiramente no teatro ligeiro. Foi o maior galã brasileiro de sua época. Em 1928, formou a companhia Abgail Maia-Raul Roulien, tendo sido autor de um gênero denominado "teatro de frivolidade", e introdutor de espetáculos rápidos nos intervalos das sessões de cinema.
Entre 1928 e 1930, gravou nove discos na Odeon, com músicas quase todas de sua autoria. No primeiro disco, aparecem os tangos Tu amor y un ranchito e Adiós mis farras, ambos de sua autoria, sendo que o último foi também gravado por Francisco Alves, tendo alcançado grande sucesso. Em seguida, gravou os tangos Machacho de oro, de sua autoria e Niño bien, de J. Collazo.
Em 1929, gravou na Odeon o fox-trot Miss St. Paul, parceria com Mark Hermanns, o fox-romanza Juventud, de sua autoria e o samba Felicidade, a valsa Nunca e o tango Ave noturna, também de sua autoria e, na Parlophon, os tangos Mala yerba e Bibelot, igualmente de sua autoria.
Em 1930, gravou o fox-trot Saudade má, de sua autoria com arranjos de Mark Hermans e a valsa Tua, de sua autoria. Além de ator, foi diretor de teatro e cinema. Em 1931, foi para Nova Iorque, onde conseguiu um contrato na Fox. Estreou na versão em espanhol de Eram 13.
Entre 1931 e 1934, atuou no cinema americano, numa série de filmes dentre os quais Delicious, dirigido por David Butler, no qual interpretava um compositor russo, e cantava Delicious, dos irmãos Gershwin.
Em 1932, estava em Painted Woman" da Fox, e em 1933 em No dejes la puerta abierta e It's great to be alive. Seu filme mais conhecido foi Flying down to Rio onde atuou ao lado de Ginger Rogers e Fred Astaire, no qual cantava Orchids in the moonlight. Neste mesmo ano, publicou o livro A verdadeira Hollywood. Ainda em 1933, lançou na Victor duas canções que se tornaram clássicas: Favela e Guacyra, de Hekel Tavares e Joraci Camargo. No mesmo ano, lançou dois fox-trots de Irvin Berlin com versões suas: Mente por favor e Se eu perdesse você.
Em 1934, atuou em The world moves on, dirigido por John Ford. De volta ao Brasil, dirigiu o filme Grito da mocidade, em 1937, no qual participou, também, como ator. Em 1938, a Companhia Teatral de Raul Roulien encenou a peça Malibu, de Henrique Pongetti, da qual participava a cantora Elisa Coelho. Em 1939, produziu e dirigiu Aves sem ninho e 10 anos mais tarde foi diretor e argumentista de Asas do Brasil.
Com atividades bastante diversificadas, foi também apresentador de programas de televisão, repórter de jornais brasileiros e estrangeiros, e promotor do concurso Miss São Paulo, para os Diários Associados, que perdurou por muitos anos. Abandonou o cinema em 1950, tentando retomar esta atividade em 1984, idealizando um documentário sobre a vida do sanitarista Osvaldo Cruz. Em 1995, vitimado por um derrame afastou-se definitivamente da carreira artística.
Fonte: Adaptado do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

Rosana Toledo

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Rosana Toledo

Rosana Toledo (Maria da Conceição Toledo), cantora, nasceu em Belo Horizonte/MG em 29/9/1934. Começou a cantar no ano de 1938, aos quatro anos de idade, no orfanato de São João Batista (BH). No ano seguinte, transferiu-se para o Colégio Nossa Senhora do Monte Calvário, participando de todas as apresentações musicais realizadas nas festas da escola.
Iniciou sua carreira artística em 1947 juntamente com sua irmã, a também cantora Maria Helena Toledo. Fizeram seu primeiro teste artístico na Rádio Guarani: apresentaram-se no programa Gurilândia com o nome de Irmãs Toledo, defendendo a música Beijinho doce (Nhô Pai), conhecida criação das Irmãs Castro, de São Paulo. Consagraram-se depois na audição da Hora da Corneta, animada por Valdomiro Lobo. A dupla atuou no cenário artístico até 1951, voltando a se reunir oito anos depois.
Em 1955, deu início à sua carreira solo, apresentando-se na Rádio Mineira. Foi escolhida como melhor cantora por um júri de diretores artísticos mineiros. No ano seguinte, recebeu o título de Rainha do Rádio de Belo Horizonte. Participou da programação musical da TV Itacolomi (MG). Convidada a se apresentar na TV Tupi, do Rio de Janeiro RJ, foi contratada pela Polydor para seu primeiro disco em 1957, um 78 rpm com a valsa "Chove lá fora", de Tito Madi e o bolero Faça de conta, de Fernando César, com acompanhamento da orquestra de Enrico Simoneti.
Voltou a Belo Horizonte onde recebeu o Prêmio de Melhor Estrela da Televisão Mineira. Assinando contrato com a gravadora Odeon, gravou o LP A voz acariciante de Rosana, com destaque para Sonata sem luar, de Fred Chateaubriand e Vinícius Carvalho, apresentando-se nas principais cidades brasileiras.
Em 1959 refez com Maria Helena a dupla Irmãs Toledo na TV Itacolomi, de Belo Horizonte. Em 1960, gravou o Samba triste, de Billy Blanco e Baden Powell e a Canção que morre no ar, de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. No ano seguinte, foi para a RCA Victor e gravou o samba Maldade e o samba-canção Eu e tu, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, o samba-canção Saudadezinha, de Hianto de Almeida e Macedo Neto e o samba Saudade vem correndo, de sua irmã Maria Helena Toledo e Luiz Bonfá.
Embora atuando como cantora do samba-canção, foi muito solicitada nessa época a participar de espetáculos ligados à bossa-nova, em clubes e boates do eixo Rio-São Paulo. Em 1962, ingressou na RGE e gravou o bolero E a vida continua, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim e o samba-canção Dá-me tuas mãos, de Erasmo Silva e Jorge de Castro. Em seguida, lançou o LP Rosana... a voz do amor, incluindo Tudo de mim, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, Samba em prelúdio, de Vinícius de Moraes e Baden Powell e Segredo, de Herivelto Martins e Marino Pinto.
No ano seguinte gravou o LP ... e a vida continua, destacando-se a faixa título de Jair Amorim e Evaldo Gouveia e Não me diga adeus", de Paquito, Luís Soberano e João Correia da Silva. Em 1963, lançou o LP Sorriso e lágrima, com Eu e tu, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, Se houver você, de Fred Chateaubriand e Vinícius Carvalho e Tristeza de nós dois, de Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn, entre outras.
Gravou ainda em 78 rpm o samba-canção Segredo, de Herivelto Martins e Marino Pinto. Em 1965, gravou o elepê Momento novo, com Inútil paisagem, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, Momento novo, de Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo e Só tinha de ser com você, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira.
Em 1975, participou da série de programas de rádio MPB 100 ao vivo, transmitida para todo o Brasil pelo Projeto Minerva, pela Rede Nacional de Emissoras, produzida e apresentada por Ricardo Cravo Albin. Dessa série resultaram oito LPs de igual título.
Em 1976, estrelou, juntamente com o compositor Cartola, o espetáculo O sol nascerá, apresentado no Ibam no Rio de Janeiro, com direção e apresentação de Ricardo Cravo Albin, show que narrava a história da MPB nos anos 1960 e 1970. Para o lançamento da série de oito LPs, participou de dois shows em 1976, o primeiro no MAM do Rio e o segundo no Teatro Guaíra de Curitiba, ambos apresentados pelo produtor Ricardo Cravo Albin, quando um grande elenco se revezava para apresentar em duas horas a história da MPB em suas diversas décadas.
Passou a morar no Retiro dos Artistas, a partir de 2001, de onde sai eventualmente para shows e eventos promovidos pela entidade.