A mãe chamava-se Maria Paula da Silva. O pai, Brás Antônio da Silva. No dia 29 de outubro de 1911, nasceu o filho Nelson, que, em virtude das difíceis condições financeiras da família, mudou várias vezes de casa até fixar-se por algum tempo na Lapa, antes de ir para a Gávea, já na adolescência.
O ambiente da Lapa mostrou o clima da boêmia. Na Gávea, conheceu rodas de choro, o que definiria seu destino, ao entrar em contato com o instrumento do qual tomaria o nome, o cavaquinho. A perícia dos músicos fascinava o menino Nelson. Começou a ter aulas com o violonista Juca, que lhe ensinou os rudimentos, mas jamais conseguiu corrigir sua forma de tocar, beliscando as cordas com dois dedos.
Ao tempo que aprendia música, Nelson enveredava pela boêmia. Arranjou emprego, mas, ao invés de trabalhar, ia se encontrar com Eduardinho, Romualdo Miranda e Luperce Miranda. Vê-los e ouvi-los tocar era sua felicidade. Animado com o talento de Nelson, um jardineiro português, que gostava muito de choro, deu-lhe de presente seu primeiro cavaquinho. Com 20 anos, foi obrigado a se casar com Alice. Para garantir o sustento, o pai, Brás, falsificou a idade para 21 e arrumou para ele ser cavalariano da Polícia Militar. Mas, como policial, Nelson continuaria a ser ótimo boêmio.
Destacado para dar serviço no morro da Mangueira, fez amizade com Cartola, Carlos Cachaça, Zé da Zilda e outros. Amarrava o cavalo no pé do morro, subia para rodas de samba e só retornava pela manhã. Em uma delas não encontrou o cavalo, que, soltando-se, voltou para o quartel. Mais uma prisão para o já compositor Nelson Cavaquinho, que aproveitava a tranqüilidade da cela para ali compor seus sambas. Antes da expulsão, pediu baixa em 1938, ano em que seu casamento com Alice chegou ao fim. Finalmente livre, Nelson foi viver do que mais gostava: música.
Seu primeiro samba gravado foi Não faça vontade a ela, por Alcides Gerardi. Ciro Monteiro gravou alguns outros, sem muito êxito. Vagando de bar em bar, principalmente na praça Tiradentes, vendia sambas por uns trocados, compondo cada vez mais, já tendo substituído o cavaquinho pelo violão. Em 1961, freqüenta o Zicartola, onde se apresenta com regularidade. "Descoberto" pela nova geração, Nelson teve os sambas gravados com sucesso por Nara Leão (Pranto de poeta) e Elizeth Cardoso (Luz negra e A flor e o espinho).
Em 1971, grava o primeiro disco solo e vira atração do show Noitada de Samba, às segundas-feiras, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, mais um LP e, em 1974, o terceiro, em dueto com o mais importante parceiro, Guilherme de Brito: A flor e o espinho, Se eu sorrir, Quando eu me chamar saudade, Pranto de poeta, entre outras.
Com mais de 600 músicas e outras centenas vendidas, sempre compondo de madrugada, acompanhado de cerveja ou cachaça. Nelson continuou assim até perto do final. Nos últimos tempos, já não bebia e pouco fumava. A morte foi sua obsessão e grande inspiradora. O encontro entre os dois aconteceu em 18 de fevereiro de 1986. Aos 74 anos, Nelson Cavaquinho passou a se chamar saudade.
Algumas músicas
A flor e o espinho, Caridade, Cheira à vela, Cinza, Cuidado com a outra, Degraus da vida, Dona Carola, É tão triste cair, Eu e as flores, Folhas secas, Garça, Gotas de luar, Juízo final, Luz negra, Minha fama, Minha festa, Mulher sem alma, Não faça vontade a ela, Não te dói a consciência, Nem todos são amigos, Nome sagrado, Notícia, O meu pecado, Palhaço, Pecado, Pranto de poeta, Primeiro de abril, Quando eu me chamar saudade, Revertério, Rugas, Se você me ouvisse, Sempre Mangueira, Visita triste, Vou partir.
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