Luiz Gonzaga do Nascimento, compositor, cantor e instrumentista, nasceu em Exu PE (13/12/1912) e faleceu em Recife PE (2/8/1989). Filho do sanfoneiro Januário, que tocava em bailes e nas horas vagas consertava sanfonas, aprendeu a tocar o instrumento com o pai. Nascido numa fazenda, desde pequeno trabalhou na roça, tocando em bailes, forrós e feiras. Já era relativamente conhecido como sanfoneiro, quando, em 1930, fugiu de casa e foi para Fortaleza CE onde ingressou no Exército.
Com a revolução de 1930, seu batalhão deslocou-se para a Paraíba e outros Estados do Nordeste, seguindo depois para Juiz de Fora MG. Ali conheceu Dominguinhos Ambrósio, famoso sanfoneiro mineiro que também estava no Exército e com quem estudou, além de aprender as músicas mais populares no Sul. Transferido para Ouro Fino MG, apresentou-se como sanfoneiro num clube local.
Em 1939 foi para São Paulo SP, para comprar uma sanfona nova, seguindo depois para o Rio de Janeiro RJ, onde deu baixa do Exército. Passou então a se apresentar nos bares cariocas do Mangue, tocando fados, foxes, valsas e tangos em dupla com o guitarrista português Xavier Pinheiro. Atuava também em cabarés da Lapa e festinhas, além de tocar nas ruas, passando o pires para recolher dinheiro. Depois, começou a participar de programas de calouros, sempre apresentando um repertório de ritmos estrangeiros, sem êxito. Até que, no programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Nacional, cantou o chamego Vira e mexe, obtendo grande sucesso.
Passou, então, a participar de vários programas radiofônicos e, em 1941, depois de acompanhar Genésio Arruda em uma gravação na Victor, foi convidado a gravar como solista. De início gravou apenas música instrumental - mais de 50 músicas. Lançou dois 78 rpm pela Victor com a mazurca Véspera de São João (com Francisco Reis), as valsas Numa serenata (de sua autoria) e Saudades de São João del Rei (Simão Jandi), e o chamego Vira e mexe. Ainda em 1941 foi contratado pela Rádio Clube do Brasil, apresentando-se em vários programas, entre os quais Alma do Sertão, onde substituiu Antenógenes Silva. Foi depois para a Rádio Tamoio, continuando também a gravar como sanfoneiro na Victor.
Em 1943, na Rádio Nacional, umas das principais divulgadoras de ritmos regionais, em obediência à política de união cultural de Getúlio Vargas, encontrou-se com o sanfoneiro Pedro Raimundo, cujos trajes tipicamente gaúchos faziam grande sucesso, e teve a idéia de vestir-se como vaqueiro nordestino. Nesse mesmo ano, conheceu seu primeiro parceiro, Miguel Lima, que colocou letra em Vira e mexe, transformando-a em Xamego, música gravada com sucesso por Carmen Costa. Nessa época recebeu de Paulo Gracindo o apelido de Lua.
No início de 1945, gravou pela primeira vez como cantor, lançando pela Victor sua mazurca Dança, Mariquinha (com Miguel Lima). Continuando a compor com Miguel Lima, gravou Dezessete e setecentos, que foi lançado também em 1945 pelo cantor Manezinho Araújo. No mesmo ano, lançou o chamego Penerô xerém (com Miguel Lima) e a mazurca Cortando pano (com Miguel Lima e Jeová Portela), obtendo significativo êxito. A partir de agosto do mesmo ano, tornou-se parceiro do cearense Humberto Teixeira, com quem estabeleceu o ritmo, o estilo e a temática de uma nova categoria musical: o baião.
A parceria com Humberto Teixeira voltou-se para os costumes e a cultura nordestinos e rendeu-lhe alguns dos maiores êxitos de sua carreira, como Baião, lançado pelos Quatro Ases e Um Curinga (1946), No meu pé de Serra (1946), Asa branca, um de seus principais sucessos (1947), e Juazeiro (1948). Ainda em 1945, assumiu a paternidade do filho da dançarina e cantora Odaléia, dando-lhe o nome de Luís Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha.
Em 1948 casou-se com Helena das Neves. No ano seguinte, lançou com Humberto Teixeira mais uma composição de destaque, Mangaratiba, e em 1950 Paraíba e Baião de dois. Por essa época, passou a compor somente com o estudante de medicina José de Sousa Dantas Filho, o Zé Dantas, pois Humberto Teixeira, eleito deputado federal, deixou a parceria. Suas músicas se tornaram mais politizadas, por vezes denunciando o abandono do povo.
Em 1950 lançaram, entre outras, Cintura fina e A volta da asa branca. Três anos mais tarde, ABC do sertão e, depois, Algodão, Vozes da seca e Paulo Afonso. Em 1953 participou do programa No Mundo do Baião, na Rádio Nacional, ao lado de Paulo Roberto e Zé Dantas. O baião viveu sua época de ouro até 1954, quando era enorme a popularidade do compositor, apelidado Rei do Baião. Com a ascensão da bossa-nova, o baião caiu no esquecimento nos grandes centros urbanos. Afastado do cenário artístico, Luís Gonzaga preferiu apresentar-se em cidades do interior, onde continuava muito popular.
Em 1962, com o falecimento de seu parceiro Zé Dantas, passou a compor com outros músicos, entre os quais Hervé Cordovil e João Silva. Em 1965, Geraldo Vandré gravou Asa branca e Gilberto Gil, iniciando sua carreira, citou-o como uma de suas principais influências.
Na década de 1970, várias de suas músicas foram incluídas em gravações, como Asa branca, por Caetano Veloso, em 1971. No mesmo ano, lançou o LP O canto jovem de Luís Gonzaga, RCA, com composições de Gil, Caetano, Edu Lobo, Dori Caymmi, Geraldo Vandré e outros. Em março de 1972 fez um show no Teatro Teresa Raquel, do Rio de Janeiro, o Luís Gonzaga volta pra curtir.
Em 1977 participou do show comemorativo Trinta anos de baião, realizado no Teatro Municipal, de São Paulo, com Carmélia Alves, Hervé Cordovil e Humberto Teixeira. Lançou em 1979 o LP Eu e meu pai, pela RCA, em homenagem a seu pai, que faleceu em 1978.
No início da década de 1980, sua carreira ganhou novo impulso, graças principalmente a Gilberto Gil e Caetano Veloso. Em 1981, fez parceria com Gonzaguinha e, na tournée de divulgação de seu LP A vida do viajante, retomou a carreira de sucesso e ganhou o apelido de Gonzagão, que usou até a morte. No mesmo ano, lançou A festa, RCA, LP no qual interpreta, ao lado de Milton Nascimento, com grande sucesso, Luar do sertão.
Em 1984 obteve o primeiro disco de ouro com o LP Danado de bom (maioria das músicas em parceria com João Silva). Apresentou-se pela primeira vez na Europa em 1982, no Teatro Bobino, de Paris, França, a convite de Nazaré Pereira, cantora amazonense radicada em Paris. Em 1984 recebeu o Prêmio Shell e dois anos depois retornou a Paris, para fazer o show de encerramento do festival de música brasileira Coleurs Brésil. Nesse mesmo ano, foi lançado o livro Luiz Gonzaga, o rei do baião - Sua vida, seus amigos, suas canções, de autoria de José J. Ferreira (Editora Ática, São Paulo). Afastado das TVs e das rádios, ainda na década de 1980 continuava a apresentar-se em shows pelo interior do Brasil, cantando em quermesses, circos, cinemas, feiras e fábricas.
Em 1990, foi lançado o livro Eu vou contar pra vocês, de autoria de Assis Ângelo, Ícone Editora, São Paulo. Em 1996, a BMG lançou o CD triplo 50 anos de chão, uma reedição em CD da caixa de cinco LPs homônima, lançada em 1988, que compreendia o período de 1941 a 1987, com seleção dele mesmo. Mais um livro sobre sua vida foi lançado em 1996: Vida de viajante - A saga de Luiz Gonzaga, de autoria de Dominique Dreyfus e prefácio de Gilberto Gil (Editora 34, Coleção Ouvido Musical, São Paulo).
A Editora Globo lançou, em 1997, fascículo e CD Luiz Gonzaga, na série MPB Compositores, n° 20. No mesmo ano, o Jornal da Tarde lançou o CD e fascículo Luiz Gonzaga, na série MPB NO JT, nQ 5.
Participou de inúmeras iniciativas em prol dos flagelados pela seca no Nordeste, muitas vezes por conta própria. Em 1982, no show Nordeste urgente, em Natal RN, conheceu Alceu Valença, que participou de seu disco Luiz Gonzaga, 70 anos de sanfona e simpatia, em 1983. Em meados da década de 1980, criou a Fundação Vovô Januário, destinada a ajudar as mulheres de Exu.
Algumas cifras e letras
A dança da moda, A morte do vaqueiro, A mulher do meu patrão, A vida do viajante, A volta da asa branca, ABC do sertão, Acauã, Apologia ao jumento, Aproveita gente, Asa branca, Assum preto, A triste partida, Baião, Baião de Dois, Boiadeiro.
Calango da lacraia, Capim novo, Cigarro de paia, Cintura fina, Danado de bom, Derramaro o gai, Dezessete e setecentos, Estrada do Canindé, Feira de Caruaru, Forró de Caruaru, Forró do Mané Vito, Forró no escuro, Forró nº 1.
Hora do adeus, Imbalança, Juazeiro, Légua tirana, Lorota boa, Mangaratiba, Na lagoa do amor, Nem se despediu de mim, No Ceará não tem disso não, No meu pé de Serra, Numa sala de reboco, O xote das meninas, Olha pro céu, Ovo de codorna.
Pagode russo, Paraíba, Passo do pingüim, Pau de arara, Pense neu, Propriá, Qui nem jiló, Respeita Januário, Retrato de um forró, Riacho do navio, Sabiá, Súplica cearense, Vem, morena, Vozes da seca, Xamego.
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