Fotos: Cortiços foram demolidos, empurrando seus moradores para os morros da Zona Norte. A vida humilde era a marca dos migrantes que, chegados ao Rio, procuravam as favelas para morar.
Todos sabem do que se trata quando a palavra favela é mencionada, poucos, porém, são os que conhecem a origem do termo. E como foi escolhido para designar lugares onde a população de baixa renda se aglomera, morando sem pagar.
Arbusto típico do sertão nordestino, o faveleiro, mais popularmente favela, identificava também a elevação onde os seguidores de Antônio Conselheiro construíram suas casas. Era o Morro da Favela, no Arraial de Canudos, no sertão da Bahia, destruído pelo exército brasileiro, como descreveu Euclides da Cunha em Os sertões.
O cerco ao Morro da Favela, a resistência dos seguidores de Conselheiro aos soldados, transformaram em dura e longa campanha aquilo que se pensava ser fácil resolver com uns quantos tiros.
O que não se imaginaria é que a revolta de Canudos, um movimento de cunho basicamente religioso no Nordeste, viesse influenciar social e musicalmente o Rio de Janeiro, então capital da República, que se preparava para passar por grande reforma urbanística.
O engenheiro Pereira Passos, que ocuparia a Prefeitura carioca ao nascer do século XX, rasgando avenidas, demolindo habitações coletivas, transformando o núcleo central da cidade em pólo comercial e empurrando os menos favorecidos para a Zona Norte, foi, em última análise, com todo o seu modernismo, o pai das favelas cariocas.
Aquela região era habitada principalmente pela colônia baiana que vivia no Rio. As “tias” festeiras em seus casarões, reunindo os patrícios nas festas de santo ou profanas, geralmente obreiros humildes mas cheios de musicalidade, dominavam o centro da cidade, até as reformas exigirem suas saídas.
A solução foi procurar abrigo na Zona Norte e nos morros da região, onde os primeiros barracões começaram a aparecer. A campanha de Canudos teve conseqüências. Não se fez apenas a guerra, mas também o amor. Soldados acabaram por se unir a caboclas e voltar com elas para o Rio de Janeiro.
Sobreviventes resolveram recomeçar a vida na capital, e lá, a primeira orientação foi a dos patrícios que já moravam na cidade, a maioria nos morros. Os novos vizinhos lembravam sempre suas origens e volta e meia estavam falando no seu Morro da Favela e assim, sem se aperceberem, criaram a denominação que se tornou genérica. Favela passou então a ser o nome de todos os locais onde aquele tipo de habitação foi — por força das circunstâncias — adotado.
Fonte: História do Samba - Editora Globo
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