Nara Leão, Sílvio Caldas e Carlos Lyra no programa Renner Brasil, TV Excelsior, São Paulo, maio de 1963.
“A Bossa Nova foi importante para mim e para a humanidade, pois mudou a música do mundo inteiro. Pimeiro, é preciso destacar o João Gilberto, porque ele mudou tudo. Chegou até a ser chamado de desafinado, coisa que ele não é.
Na verdade é afinaderrímo, a coisa mais afinada do mundo, mas as pessoas achavam que um cantor que não gritasse era desafinado. Sua maneira de cantar é fantástica, não precisa de orquestra nenhuma. O violão, sozinho, parece uma orquestra. Com a boca, faz uma bateria, milhares de coisas.
A Bossa Nova também mudou as letras. Havia uma parte substancial de nossa música em que as letras eram dramáticas, sentimentais, derramadas. A Bossa Nova veio com aquele negócio de amor, sorriso, flor, céu. Era uma coisa leve. Para mim, ela continua viva e muito nova. A música quando é boa a gente ouve sempre, com prazer. E a Bossa Nova contribuiu muito com a nossa música tradicional.
Antes o samba não tinha uma harmonia rica. Quando o Carlinhos Lyra me apresentou aos sambas, tocados de maneira bossa-novista, achei muito interessante. Mas, na época, eu pensava que não podia cantar uma coisa que João Gilberto já tivesse cantado, porque ele canta maneira extraordinária.
Só tive coragem de fazer Bossa Nova quando fui para Paris e gravei um álbum duplo. O João me inibia de cantar Bossa Nova. O que se guardou do movimento foi a maneira de cantar e a harmonia. Os arranjos e a harmonia”.
Fonte: Depoimento a Almir Chediak no Songbook Bossa Nova.
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