segunda-feira, 2 de julho de 2007

Vicente Celestino

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Vicente Celestino (Antônio Vicente Filipe Celestino), cantor, compositor a ator, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12/9/1894 e falceu em São Paulo, em 23/8/1968. Filho de um casal de imigrantes calabreses chegados ao Brasil dois anos antes de seu nascimento, teve dez irmãos, quatro também artistas João, galã cômico; Pedro Celestino, tenor; Radamés, barítono; e Antônio, baixo. Começou a cantar aos oito anos, num grupo chamado Pastorinhas da Ladeira do Viana, e, ainda aluno de escola primaria publica, iniciou-se no ofício de sapateiro com o pai, entrando para o Liceu de Artes e Ofícios, para aprender desenho industrial, logo após terminar o primário.
Em 1903 participou do coro infantil da ópera Carmen (Georges Bizet, 1838—1875), no Teatro Lírico, e, notado pelo tenor italiano Enrico Caruso, recebeu convite para ir estudar canto na Itália, mas seu pai recusou-lhe autorização. Trabalhou numa fábrica de guarda chuvas, em 1905, foi servente de pedreiro no ano seguinte e, em 1910, voltou à sapataria do pai.
Cantou solo em público, pela primeira vez, na peça Vida de artista, encenada em 1912 pelo Grupo dos Cartolas, formado por amigos do bairro da Saúde. Depois, começou a cantar em festas, serenatas e casas de chope, abandonando o emprego em 1913 para dedicar-se somente à música. Numa dessas casas de chope, foi ouvido por Alvarenga Fonseca, que o levou para a Companhia Nacional de Revistas, do Teatro Sao José, da qual era diretor.
No dia 10 de julho de 1914, estreou na revista Chuá-Chuá, de Eustórgio Wanderley e J. Ribas, participando do coro e solando a valsa Flor do mal (Santos Coelho e Domingos Correia), com calorosos aplausos. Dois anos mais tarde, integrando a Companhia Leopoldo Fróis, foi cantar em São Paulo, sendo promovido a ator-cantor, apresentando-se depois em Porto Alegre e Pelotas RS, Pernambuco e Bahia.
Em 1915 ou 1916, gravou seu primeiro disco — Flor do mal e Os que sofrem (Alfredo Gama e Armando Oliveira) — na Casa Edison (Odeon), do Rio de laneiro. Deixou o Teatro São José em 1917, para se dedicar ao estudo do canto, no Teatro Municipal do Rio de laneiro. Em 1919, voltou aos palcos, como ator de várias peças, começando, em março, no papel principal em Amor de bandido (Oduvaldo Viana e Adalberto de Carvalho), encenada pela Companhia de Pascoal Segreto, no Teatro São Pedro (hoje João Caetano). Seu maior sucesso nessa temporada foi a opereta Juriti, de Viriato Correia, com música de Chiquinha Gonzaga, apresentada no mesmo teatro.
Com a atriz e cantora Laís Areda, organizou sua própria companhia de operetas, em 1920, estreando com Loucuras de amor (Adalberto de Carvalho), no Teatro Americano. No ano seguinte trabalhou nas óperas Tosca, de Giacomo Puccini (1858 1924) e Aida, de Giuseppe Verdi (1813—1901), no Teatro Lírico, e em Carmen, no Teatro São Pedro.
Fundou nova companhia com a cantora Carmen Dora, em 1923, para excursionar pelo Brasil; nos anos seguintes continuou a percorrer o país de ponta a ponta. Gravou tambem vários discos, que lhe deram grande popularidade, entre eles Urubu subiu, em duo com Bahiano, para o Carnaval de 1917; Hino Nacional Brasileiro (Francisco Manuel da Silva e Osório Duque Estrada), em 1918; e O cigano (Marcelo Tupinambá e João do Sul), em 1924.
Na Odeon, já no processo elétrico, de abril de 1928 a outubro de 1930 lançou 19 discos com 35 músicas, alcançando sucesso com Santa (Freire Júnior), em 1928, e o tango-canção Nênias (Cândido das Neves, apelidado de Índio), 1929, entre outras. Em 1932 passou para a Columbia, gravando no primeiro disco o tango-canção Noite cheia de estrelas (Cândido das Neves), que deu novo impulso a sua carreira discografica. No ano seguinte, casou se com a cantora e atriz Gilda de Abreu.
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Em 1933 Vicente Celestino trabalhava com Gilda de Abreu no Teatro Recreio do Rio de Janeiro, com quem casou cinco meses após a estréia da opereta "A canção brasileira", de Luís Iglésias, Miguel Santos e Henrique Vogeler e passaram a trabalhar em estreita colaboração.
Em 1935 começou a gravar na RCA Victor, obtendo dois êxitos já no primeiro disco: os tangos-canções Ouvindo-te (sua autoria), em duo com Gilda, e Rasguei o teu retrato (Índio). A partir desse momento, começou a se projetar tambem como compositor de grandes sucessos, como, por exemplo, O ébrio, 1936, Coração materno, 1937, Patativa, 1937, Sangue e areia (com Mário Rossi), 1941, Porta aberta, 1946.
Em 1937 interpretou, com Gilda, a ópera Lucia di Lammermoor, de Gaetano Donizetti (1797—1848), no Teatro São Pedro. Transformou a canção O ébrio em peça de teatro, com estréia no Teatro Carlos Gomes, em 1941, e sempre encenada em suas excursões; fez o mesmo com Coração materno, opereta estreada em 1946 no Teatro João Caetano. Ambas foram filmadas por Gilda de Abreu, respectivamente em 1946 e 1951, com ele nos papéis principais, alcançando grande sucesso de público.

Com sua poderosa voz de tenor, cantou tambem músicas modernas, como o samba Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), em 1959, mantendo-se sempre fiel a seu estilo. Em 1965 recebeu o titulo de Cidadão Paulistano da Câmara dos Vereadores. Passou também a ser conhecido por um público mais jovem em 1968, quando Caetano Veloso gravou Coração materno (foto ao lado: Vicente Celestino e sua mulher, Gilda de Abreu, ladeiam Chiquinha Gonzaga. À direita, Viriato Correia).

Preparando-se para gravar um programa de televisão em que seria homenageado pelos componentes do Movimento Tropicalista, sentiu-se mal no quarto do hotel Normandie, em São Paulo, morrendo minutos depois do coração. No total, em todas as gravadoras, desde a fase mecânica, lançou cerca de 137 discos em 78 rpm com 265 musicas, mais dez compactos e 31 LPs, vários destes com relançamentos.

A Voz orgulho do Brasil

Possuidor de voz extraordinária, era chamado diariamente para cantar em festas de Igrejas, em reuniões sociais e em clubes. Nada recebia em troca, além de elogios, aplausos e lanche. Assim, pouco a pouco o jovem Celestino se tornava famoso no bairro e arredores.

No seu repertório já constavam trechos de óperas, valsas, canções, música sacra etc. Com sua voz possante e bela, as canções ganhavam nova roupagem devido a sua interpretação. Era ovacionado por todos os que o ouviam. Assistia a todas as companhias líricas que visitavam o Brasil, tendo como ídolo Enrico Caruso.

Aos dezoito anos começou a cantar nos chamados "Chopes" da época e, aos vinte anos, estreava profissionalmente no Teatro São José, onde levou a platéia ao delírio cantando a famosa cancão "Flor do Mal", que foi também a sua primeira gravação, em 1916, quando ganhou, por milhares de discos vendidos, a importância de dez mil réis.

O povo adorava aquele moço simpático e simples que se dava por inteiro quando cantava. Vicente Celestino cantava com a alma e o coração, sem economizar o que Deus lhe deu: sua voz preciosa. Os jovens que aplaudiam o cantor ensinaram a seus filhos e, depois, aos seus netos a gostar daquele que, orgulhosamente, cantou para quatro gerações.

Vicente estrelou dois filmes: "O Ébrio" e "Coração Materno". Um grande empresário da época, Walter Mochi, ao ouvi-lo, quis levá-lo para a Europa, a fim de projetar Vicente como um dos maiores tenores dramáticos do mundo. Mas Vicente não concordou e disse que jamais deixaria o Brasil, sua Pátria, declinando, assim, do honroso convite. Queria cantar para o seu povo. Poucos teriam resistido à tentação.

Vicente Celestino era um homem feliz. Cantou durante 65 anos sem parar. Era uma autêntica glória nacional. Foi cognominado "A voz orgulho do Brasil': e bem mereceu o título. Compôs várias cancões de grande sucesso: "O Ébrio", "Coração Materno", "Patativa", "Serenata", "Ouvindo-te" e inúmeras outras. Deu ao Brasil a sua voz, a sua alma e todo o seu amor de brasileiro. Recebeu muitas homenagens em vida e durante 33 anos foi contratado pela RCA-Victor, onde gravou centenas de discos.

Antonio Vicente Felippe Celestino (Vicente Celestino) estava cantando para a quarta geração e a última vez que se apresentou foi para uma pequena platéia de 200 pessoas, durante um ensaio em São Paulo, na triste tarde de 23 de agosto de 1968, onde artistas, músicos, cantores ensaiavam para um "show" que seria gravado às 23 horas. Cantou naquele ensaio (dito pelos colegas), talvez como nunca tenha cantado antes, a cancão "Mande uma Flor de Saudade" com letra de M. Ghiaroni e música de sua autoria. Mas aquele havia sido o Canto do Cisne da mais aplaudida e incompreendida voz do cancioneiro brasileiro. E, assim, às 22:30 horas daquela noite calou-se para sempre "A voz orgulho do Brasil".

Algumas músicas

Coração materno, Flor do mal (Saudade eterna), Mia Gioconda, Noite cheia de estrelas, O cigano, O ébrio, Ontem ao luar (Choro e poesia), Ouvindo-te, Patativa, Porta aberta, Rasguei o teu retrato, Sangue e areia.

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