Jorge Goulart, nome artístico de Jorge Neves Bastos, nasceu em vila Isabel, na Rua Araripe Junior, cidade do Rio de Janeiro, em 16.1.1926, filho do conhecido jornalista Iberê Bastos e de Arlete Neves Bastos, cantora, que ao casar-se deixou de cantar.
É neto do Visconde de Niterói e fez o curso ginasial no Colégio Pedro II, onde começou sua participação política. Decidiu-se nessa época pela carreira artística. Desde garotinho vinha cantando. Nessa fase, no programa Escada de Jacó, do Prof. Zé Bacurau, ganhou o 1º prêmio. Começou antes dos 18 anos, aumentando por isso a idade, em circos e dancings.
Através do pai, que escrevia sobre o mundo dos espetáculos, teve contato com os nomes em evidência. Conheceu, em 1943, o compositor Custódio Mesquita e passou a divulgar com exclusividade suas músicas. Conheceria também o cantor João Petra de Barros e por ele seria levado à Rádio Tupi. É quando passa a adotar o Goulart, por sugestão da atriz Heloísa Helena, tirado de um fortificante, o Elixir de Inhame Goulart, bem de acordo com sua voz possante.
Entre as músicas de Custódio que divulgava, estava o samba Saia do caminho, em parceria com Evaldo Rui, que gravaria, em 1945, na RCA-Victor, mas não chegou a ser lançada. Custódio faleceu e Evaldo preferiu destiná-la a Araci de Almeida, com alterações pequenas na letra para que pudesse ser cantado por mulher.
Devido a compromisso com a gravadora, lançaria, nesse ano, dois discos, que foram fracasso de vendas, não devido à qualidade das músicas ou deficiência do acompanhamento: A Volta / Paciência / Coração e Nem Tudo É Possível / Feliz Ilusão. É que, sem nenhuma necessidade, fez um decalque absoluto de Nelson Gonçalves, que também era da RCA-Victor.
Durante quatro anos ficou longe do disco. Se a atuação nas rádios (Tupi, Globo, Tamoio) não rendia muito, no espetáculo Um Milhão de Mulheres, no Teatro Carlos Gomes, durante dois anos, foi figura destacada e com rendimentos muitas vezes superiores. Findo o mesmo, voltaria às casas noturnas, até ser levado pelo compositor Wilson Batista a gravar duas músicas dele na Continental, para o carnaval de 1950: Miss Mangueira (com Antônio Almeida) e Balzaquiana (Com Nássara), esta uma marcha que o Brasil inteiro cantou e foi 2º lugar, na categoria, no concurso oficial de músicas carnavalescas.
Daí em diante, torna-se rapidamente um grande astro. Realiza um de seus sonhos, atuar no cinema, quando participa do filme Também Somos Irmãos, da Atlântica, dirigido por José Carlos Burle. É contratado pela Rádio Nacional e atua em grande número de filmes musicais: Carnaval no Fogo (1949), Não É Nada Disso (1950), Aviso Aos Navegantes (1951), Tudo Azul (1952) e muitos outros.
No disco marca êxitos memoráveis: Mundo de zinco, Cais do porto, Samba fantástico, Laura, Cabeleira do Zezé, A voz do morro, e inclusive versões, Dominó, Jezebel, Smile. É eleito o Rei do Rádio de 1952.
Em 1958, a convite do presidente Juscelino Kubitschek, acompanhado de Nora Ney e outros artistas, organizou uma caravana artística com a finalidade de preparar a reaproximação com a U.R.S.S. e a China Popular. Os resultados são excelentes, tanto que nos dez anos seguintes retornariam seguidamente aos países socialistas, aí gravam vários LPs., bem como estenderiam suas excursões à Bélgica, Áustria, França, Portugal e África.
Foi um longo e importante trabalho de divulgação da música brasileira, com a preocupação em muitas ocasiões, de levar outros cantores, instrumentistas, dançarinas e passistas. Colaborou por seis anos com o Império Serrano. Puxava seus sambas só com o megafone, dispensando quaisquer pagamentos em favor da mesma e contribuindo para a divulgação dos compositores do morro. Fez o mesmo na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos de Vila Isabel.
Por causa de sua participação no Sindicato dos Radialistas, foi impedido, pelo movimento de 1964, de continuar na Rádio Nacional, tendo a única saída de atuar no exterior: Portugal, Israel e outros países da Europa.
Em 1983 teve de extrair a laringe. Ficou curado, mas sem "seu instrumento de trabalho". Chegava ao fim sua notável carreira. Ficaram, porém, os discos para perenizar sua arte. Casou-se muito jovem, com 18 anos, e teve uma filha, Maria Célia. Já estava desquitado, quando conheceu Nora Ney no camarim do Copacabana Palace Hotel, numa data que não esquece: 1º. 5.1952.
Nora Ney, já estrela ascendente, vivia tumultuada separação de seu marido, que repercutia na imprensa, por causa do inconformismo e das concretas ameaças do mesmo. Nora tinha dois filhos, Hélio e Vera Lúcia, mais tarde eleita Miss Brasil, em 1963.
Um casamento perfeito, que viriam a formalizar, no civil e no religioso, em 1992, na Igreja Presbiteriana Unida, conforme o convite, "consagrando 39 anos de longa e feliz união". Jorge Goulart conta que um dos segredos está em dormir em camas e quartos separados. Assim de manhã os dois "estão sempre bonitos".
(Abel Cardoso Junior)
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