Fred Figner (Frederico Figner), comerciante e empresário, nasceu em Milesko u Tabor, na Boêmia, República Tcheca, em 02/12/1866, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19/01/1947. Foi o empresário pioneiro, responsável pelo início da história da música popular brasileira gravada.
Em 1882, mudou-se para os Estados Unidos e, ao adquirir cidadania americana, tornou-se comerciante. Conheceu o primeiro fonógrafo em San Antonio, Texas, em 1889. Segundo suas palavras, "Era um aparelho com uns canudos que as pessoas punham nos ouvidos e riam".
Embora não tenha ouvido o som da engenhoca, aceitou a proposta de seu cunhado de serem sócios na compra da máquina. Ainda em suas palavras, "sem querer ter a curiosidade de ver primeiro o que era o tal fonógrafo, aceitei a proposta. Era a base de uma máquina de costura que tinha de ser tocada com os pés, para fazer funcionar o fonógrafo. Compramos uma porção de cilindros em branco para preparar o repertório para expor nos países latinos".
Excursionou pela América Latina por um período de 15 meses, até que decidiu vir ao Brasil: "Eu aparafusei o Brasil na minha cachola". Em outubro de 1891, aos 26 anos de idade, chegou ao Brasil, mais precisamente a Belém do Pará, surpreendendo os participantes da Festa do Círio de Nazaré. Na máquina falante, tocou operetas, valsas, regtime e até mesmo a voz de políticos importantes. Ainda em Belém, gravou cilindros com árias cantadas por Concetta Bondalba, que estava à frente da companhia de ópera em cartaz no Pará. Logo depois seguiu viagem, passando por Fortaleza, Natal, Recife, João Pessoa e Salvador.
Na Bahia reencontrou Bondalba e gravou mais algumas árias. No percurso, registrou também modinhas e lundus locais, quando percebeu que este repertório era o que realmente chamava a atenção das pessoas.
Em abril de 1892, desembarcou no Rio de Janeiro, onde continuou a mostrar a máquina falante. Pouco depois, com medo da febre amarela, deixou o país, retornando em 1896. Ao chegar, alugou uma loja na rua do Ouvidor, onde inicialmente exibiu "Inana", peça de revista com truques de espelhos que davam a impressão de que a personagem principal flutuava no ar sem qualquer ponto de apoio. O sucesso foi tanto, que lhe possibilitou montar uma loja de equipamentos sonoros em 1897.
Em 1900, fundou a Casa Edison (nome em homenagem a Edison, o inventor do fonógrafo), estabelecimento destinado a vender equipamentos de som, máquinas de escrever, geladeiras etc.
Seguia vendendo cilindros com lundus e modinhas, trazendo em seguida a novidade dos gramofones que, diferentemente dos fonógrafos, tocavam chapas de maior durabilidade e definição sonora. Neste mesmo ano, escreveu para a companhia Gramophone de Londres, solicitando que a firma enviasse ao Brasil técnicos para gravar música brasileira. Com a vinda do técnico alemão Hagen, Fred Figner instalou uma sala de gravação ao lado da Casa Edison, situada na Rua do Ouvidor, 105. Foram então gravados os primeiros discos brasileiros, em seguida enviados à Europa para serem prensados.
Até 1903, a Casa Edison produziu 3 mil gravações, conferindo ao Brasil o terceiro lugar no ranking mundial (estavam à frente os Estados Unidos e a Alemanha). Fred Figner enriqueceu, tornando-se proprietário de tudo o que se produzia em música brasileira. Como próximo passo, montou a primeira loja de varejo do Brasil, com um sistema de distribuição em todo o país, com filiais, vendedores pracistas e produção de anúncios e catálogos.
Em 1912, a International Talking Machine - Odeon instalou uma fábrica de prensagem de discos no Rio de Janeiro e Fred Figner passou a ser vendedor exclusivo da Odeon, recebendo o encargo de fornecer o terreno e construir a primeira fábrica de discos instalada no Brasil e a maior da América Latina.
Um ano mais tarde, a fábrica Odeon começou a produzir um total de 1,5 milhão de discos por ano, o quarto maior mercado de discos do mundo. A vendagem durante a Primeira Guerra se mantém, tendo a Casa Edison comercializado quatro mil gravações de música brasileira.
Em 1925, a empresa holandesa Transoceanic foi encampada pela Columbia Gramophone de Londres, que desenvolveu o sistema de gravação elétrica inventado pela Western Electric. No ano seguinte, a empresa afasta Fred Figner, passando a dominar a distribuição de discos no Brasil.
Em 1927, entregou o selo Odeon e passou a gravar pelo selo Parlophon. Em 1932, novamente é afastado do negócio pela Transoceanic. A partir deste ano, a casa Edison restringiu sua linha de mercadorias a máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos.
Em 1960, encerrou as atividades como oficina de máquinas de escrever e calcular. Foi muito ligado ao espiritismo de Alan Kardec, apesar de suas origens judaicas. Morreu vitimado por problemas cardíacos aos 80 anos de idade, deixando uma imagem de pioneirismo, tendo sido o primeiro "diretor artístico" de gravadora no Brasil e o responsável pela fundação das bases profissionais do mercado musical brasileiro.
Em 2002 foi lançada uma coleção de discos da Casa Édison, coordenada por Humberto Franceschi e editada pelo Instituto Moreira Salles em parceria com o selo Biscoito Fino.
Fontes: ALBIN, Ricardo Cravo; Wikipedia - A Enciclopédia Livre; Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira - Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin; AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008.
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