terça-feira, 4 de setembro de 2007

Chão de Estrelas

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Numa visita ao poeta Guilherme de Almeida, em 1935, Sílvio Caldas (foto) mostrou-lhe uma canção inédita, intitulada "Foste a Sonoridade Que Acabou". Terminada a apresentação, a canção recebeu um novo nome: "Chão de Estrelas". Aconteceu a mudança por sugestão de Guilherme, tomado de súbito entusiasmo pelos versos, que eram de Orestes Barbosa.
Sobre o fato, ele escreveria trinta anos depois (em crônica incluída no livro Chão de Estrelas, de Orestes): "Nem de nome eu conhecia o autor. Mas o que então dele pensei e disse, hoje o repito: uma só dessas duas imagens - o varal das roupas coloridas e as estrelas no chão (... ) - é quanto basta para que ainda haja um poeta sobre a terra".
Mas não pára em Guilherme de Almeida o fascínio despertado por "Chão de Estrelas" entre nossos poetas. Em 1956, numa crônica em louvor a Orestes, Manuel Bandeira terminava assim: "Se se fizesse aqui um concurso (...) para apurar qual o verso mais bonito de nossa língua, talvez eu votasse naquele de Orestes: ‘tu pisavas os astros distraída..."'.
Composto por Sílvio Caldas sobre um poema em decassílabos - que Orestes relutou em consentir que fosse musicado -, "Chão de Estrelas" é a obra-prima da dupla, que produziu um total de quinze canções, a maioria de muito boa qualidade ("Quase Que Eu Disse", "Suburbana", "Torturante Ironia" etc.). Essas composições cantam amores perdidos ou impossíveis, tratados do ponto de vista masculino e quase sempre localizados em cenários urbanos arranha-céus, apartamentos, cinemas... Embora tenha se destacado no seu lançamento em 1937, "Chão de Estrelas" só se tornaria um sucesso nacional na década de 1950, quando Sílvio Caldas a gravou pela segunda vez.
Chão de Estrelas (canção) - 1937 - Sílvio Caldas e Orestes Barbosa--clique para ouvir amostra da música

Tom: Am

Am E7 Am
minha vida era um palco iluminado
E7 Gm6
eu vivia vestido de dourado
A7 Dm A7
palhaço das perdidas ilusões
Dm E7 Am
cheio dos guisos falsos da alegria
B7
andei cantando a minha fantasia
E7
entre as palmas febris dos corações
Am E7 Am
meu barracão no morro do salgueiro
E7 Gm6
tinha o cantar alegre de um viveiro
A7 Dm A7
foste a sonoridade que acabou
Dm Dm6 Am
e hoje, quando do sol, a claridade
C7 A#7
forra o meu barracão, sinto saudade
E7 Am E7
da mulher pomba-rola que voou
F#m C#m
nossas roupas comuns dependuradas
D
na janela qual bandeiras agitadas
D7 C#7
pareciam um estranho festival
F#7 B7
festa dos nossos trapos coloridos
E7
a mostrar que nos morros mal vestidos
A C#7
é sempre feriado nacional
F#m C#m
a porta do barraco era sem trinco
D
mas a lua furando nosso zinco
D7 C#7
salpicava de estrelas nosso chão
F#7 B7
tu pisavas nos astros distraída
E7
sem saber que a ventura desta vida
A
é a cabrocha, o luar e o violão

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