sábado, 4 de agosto de 2007

Iara (Rasga o coração)

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"Melodia espontânea e escorreita; harmonização singela com alguns acordes arpejados, principalmente no tempo fraco dos compassos." Assim o maestro Batista Siqueira analisa o xote "Iara", por ele considerado "uma obra prima de beleza e simplicidade".

Composto por volta de 1896, em homenagem a um barco homônimo, campeão de regatas, "Iara" só seria gravada em 1907, ano da morte de seu autor Anacleto de Medeiros. Tempos depois, quando já era peça obrigatória no repertório de bandas, recebeu letra de Catulo que a rebatizou de "Rasga o Coração".
Essencialmente instrumental, o xote perdeu em graça e leveza ao ser transformado em canção, embora os versos de Catulo tenham-lhe aumentado a popularidade. Esses versos, aliás, são tão numerosos que mereceram de Guimarães Martins (no livro Modinhas) a curiosa e acaciana recomendação: "O cantor que não desejar interpretar todas estas estrofes escolherá as que mais lhe agradarem". Admirador de Anacleto de Medeiros, Villa-Lobos aproveitou o tema de "Iara" em seu Choros n° 20.
Iara - Rasga o Coração----- clique para ouvir amostra da música
(letra de Catulo da Paixão Cearense e música de Anacleto Medeiros)
Se tu queres ver a imensidão, / Do céu e mar,
Refletindo a prismatização / Da luz solar,
Rasga o coração, / Vem te debruçar,
Sobre a vastidão, / Do meu penar,
Rasga, o que hás de ver, / Lá dentro a dor, a soluçar,
Sob o peso de uma cruz, de lágrimas chorar,
Anjos a cantar, Preces que dirás,
Deus a ritmar, seus pobres ais,
Sorve todo olor, que anda a recender,
Veras que espinhosas, florações do meu sofrer,
Vê se podes ler, nas suas pulsações,
As brancas ilusões, que eu releguei, no seu gemer,
O que não pode é te dizer, nas palpitações,
Ouve-o, brandamente, docemente, a palpitar,
A se for por tal, num terno vesperal,
Mais puro que uma grande,
A se ouvir um hino, só de flores a cantar,
Sob um mar de pétalas de dores, ao luar,
Doido a te chamar, penso em te esperar,
Na ânsia de te ver, ou de morrer,
Tens o meu perdão, flor me vem abrir,
Este coração, na primavera desta dor,
Ao reflorir, mas ao sorrir, Nos rubros lábios teus,
Terás minha paixão, sorrindo, / Adeus !
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

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